A embaixada dos EUA em Brasília alertou Washington sobre casos de “tortura brutal” e mortes no prédio do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) durante a ditadura militar brasileira, apontam documentos vazados pelo site Wikileaks.
Os relatórios revelam que o governo norte-americano acompanhava de perto o desenrolar das manifestações de trabalhadores contra mortes de presos políticos.
Clique aqui para ler todas as matérias do especial
Elaborado em janeiro de 1976, um dos documentos mostra que Washington foi notificado sobre protestos do Sindicato dos Metalúrgicos de SP após a morte de Manoel Fiel Filho, operário torturado nas dependências do DOI-Codi.
Leia também:
Revista Fortune revela já em 64 elo entre empresários de SP e embaixada dos EUA para dar golpe
“O Sindicato dos Metalúrgicos agendou uma manifestação para lembrar o sétimo dia da morte de Manoel Fiel nas mãos do DOI-Codi”, diz o documento classificado como “confidencial”.
Arquivo Condephaat
Imagem aérea do prédio do DOI-Codi na década de 1970: local foi centro de tortura na caçada de “infiltrações comunistas”
No mesmo relatório, o nome do jornalista Vladimir Herzog, assassinado durante a ditadura militar, é citado como referência do local onde aconteceria a manifestação dos trabalhadores metalúrgicos.
“O ato será realizado às 9h na Igreja do Carmo, localizada a algumas centenas de metros da Catedral onde, incidentalmente, foi realizado o ato ecumênico pela morte de Herzog”, disse na ocasião a embaixada norte-americana.
NULL
NULL
Com o título de “Tortura e Morte em São Paulo”, outro relatório datado de setembro 1975 aponta ocorrência de diversos casos de tortura brutal em investigações do Exército e da PM-SP sobre “infiltrações comunistas”.
Leia série especial “Juristas de Exceção”
“Um dos interrogatórios de prisioneiros acabou em fatalidade, com a morte de um oficial de 60 anos já aposentado”, descreve o documento.
[Manoel Fiel Filho (foto), morto após tortura nas dependências do DOI-Codi, foi assunto entre oficiais do governo dos EUA durante ditadura militar]
DOI-Codi agora é patrimônio histórico
Alvo de torturas e da atenção do governo dos EUA na ditadura militar, o prédio do DOI-Codi foi tombado em janeiro deste ano pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo).
Assista entrevista com Deborah Neves, historiadora responsável pelo laudo técnico que aprovou por unanimidade o tombamento das antigas instalações do centro do Exército, localizado na rua Tutoia, 921, no Paraíso, zona sul de São Paulo.