O cinema tem o potencial de influenciar dinâmicas sociais e políticas e, sobretudo, a opinião pública. Ao analisar um filme e compreender quem está o está produzindo, quem o financia e a linguagem utilizada, entre outros fatores, podemos perceber interesses de poder e “quais são os amigos e inimigos que são apresentados dentro das Relações Internacionais”.
Essa é a análise de Cristine Koehler Zanella, doutora em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Com mais de 10 anos trabalhando com cinema no curso de Relações Internacionais, a pesquisadora lança o livro “As Relações Internacionais e o Cinema: espaços e atores transnacionais” (Fino Trato, 320 pgs., R$55).
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Imagem do filme “Persépolis”: livro de Zanella analisa o islã transnacional a partir da produção
“O cinema traduz vidas, sociedades e relacionamentos humanos, dinâmicas de poder. Ele aproxima o que é distante. Muitas vezes nesse processo, percebemos que essa distância é menor do que sentíamos antes. Ou seja, além de ter um potencial de mostrar espaços e dinâmicas desconhecidas, os filmes revelam aspectos que são curiosamente parecidos à sociedade que estamos. Isso ajuda a desmitificar a ideia do ‘outro’ e daquilo que nos é distante. Portanto, esse conceito de aproximação no cinema é uma função importante na medida em que se estuda as Relações Internacionais”, afirma Zanella.
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Para a pesquisadora, com a experiência da emoção e de se sentir no lugar do “outro”, os filmes oferecem a possibilidade de compreender diferentes culturas espalhadas ao redor do mundo. “Essa capacidade de verossimilhança no cinema é um marco para o estudo das Relações Internacionais”, reitera.
“Como professora, diversas vezes tive dificuldade de falar sobre dinâmicas, relações ou determinadas estruturas de sociedade que são muito distantes a determinado ambiente, contexto ou fronteira da universidade onde estava. O cinema consegue se transformar em uma ferramenta importante”, destaca.
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O livro “Relações Internacionais e o Cinema”, organizado em parceria com o professor Edson José Neves Júnior, apresenta análise de filmes que abordam questões de diplomacia cultural, terrorismo internacional, resistências políticas e migrações internacionais. No amplo leque de gêneros e diretores, em filmes como “Atlântico Negro: na rota dos orixás”, “Infância Clandestina”, “O Jardineiro Fiel”, “O Porto”, entre outros, Cristine Zanella mostra diferentes perspectivas de interpretação e análise dos momentos históricos retratados nas produções.
“Há uma grande liberdade dos autores que escrevem no livro para utilizar o seu referencial teórico de Relações Internacionais. Há análises de filmes com cunho marxista, outras análises em uma perspectiva realista e outras com uma orientação liberal. Todas essas perspectivas, reunidas, contribuem para melhorar a compreensão dos fenômenos analisados por meio dos filmes”, reitera Zanella.
Cinema em sala de aula
Um dos aspectos fundamentais para Cristine Zanella é o aproveitamento do cinema na relação ensino-aprendizagem. Como filmes trabalham com diversas percepções dos alunos, é possível explorar novas formas de linguagem, melhorando o desempenho em sala de aula.
“A depender da forma como o cinema for introduzido como instrumento de aprendizado poderá despertar o interesse dos alunos ou gerar desânimo. É preciso contextualizar o filme, dizer onde se encaixa no conteúdo, dizer o que se pretende com ele. O filme jogado em uma sala de aula não funciona. Por outro lado, pode se tornar interessante compreender as relações de poder, episódios da políticas externa ou determinados acontecimentos com o cinema, mas isso depende de como o filme é introduzido. E esse é o objetivo do livro: apresentar uma ferramenta para os alunos para aprofundar os seus estudos”, sintetiza.
As Relações Internacionais e o Cinema: Espaços e Atores Transnacionais
Editora: Fino Traço
Número de Páginas: 320
Preço: R$55,00
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Lista dos filmes analisados no livro:
1. “As Quatro Penas Brancas” (2002)
Direção: Shekhar Kapur
2. “Hotel Ruanda” (2004)
Direção: Terry George
4. “Diamante de Sangue” (2006)
Direção: Edward Zwick
5. “Nova York Sitiada” (1998)
Direção: Edward Zwick
6. “A Hora mais Escura” (2012)
Direção: Kathryn Bigelow
7. “Atlântico Negro; na rota dos orixás” (1998)
Direção: Renato Barbieri
8. “Persépolis” (2007)
Direção: Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud
9. “Infância Clandestina” (2012)
Direção: Benjamín Avila
10. “No” (2012)
Direção: Pablo Larrain
11. “Também a chuva” (2010)
Direção: Icíar Bollaín
12. “Alô, amigos” (1942)
Direção: Norman Ferguson, Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamilton Luske, Bill Roberts
13. “Notícias de uma Guerra Particular” (1999)
Direção: João Moreira Salles, Kátia Lund
14. “O Capital”: (2012)
Direção: Costa-Gavras
15. “O Jardineiro Fiel” (2005)
Direção: Fernando Meirelles
16. “Do outro lado” (2007)
Direção: Fatih Akin
17. “O Porto” (2012)
Direção: Aki Kaurismäk