Um gel vaginal microbicida, elaborado com a substância antirretroviral tenofovir, usado no tratamento da Aids, reduz em 39% as infecções do vírus HIV nas mulheres ao ser aplicado 12 horas antes e 12 horas depois da relação sexual, aponta um estudo científico realizado na África do Sul.
O medicamento pode representar um importante progresso nas investigações feitas há duas décadas para conseguir um microbicida contra o vírus HIV, já que poderia ser utilizado por mulheres cujos parceiros se recusam a usar preservativos.
“Damos esperanças às mulheres. Pela primeira vez vemos resultados para a prevenção do HIV, pela mulher. Se os resultados do estudo forem confirmados em mais uma análise, seria uma possibilidade eficaz para deter o avanço da epidemia da aids”, disse o diretor-geral do Unaids (Programa conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/aids), Michel Sidibé, em comunicado.
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O gel foi desenvolvido a base do conhecido fármaco oral tenofovir, do laboratório norte-americano Gilead Sciences Inc, que atua como agente bloqueador de uma enzima do vírus e se usa habitualmente contra a aids.
Tanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) como o Unaids disseram estar contentes com a descoberta dos pesquisadores sul-africanos Salim e Quarraisha Abdool Karim, da Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban. “Assim que eles se mostrarem seguros e eficientes, a OMS irá trabalhar com governos e parceiros para acelerar o acesso a esses produtos”, disse Margareth Chan, diretora-geral da OMS.
O produto foi apresentado na 18º Conferência Internacional sobre a Aids realizado nesta semana em Viena e o estudo foi publicado na revista científica Science.
Se os resultados da pesquisa se confirmarem, esta será a primeira vez que um gel microbicida se mostrou eficiente na prevenção do contágio do vírus HIV.
Teste
O gel foi testado por um programa sul-africano de estudos sobre a aids chamado Aids Programme of Research in South África (Caprisa). Participaram 889 mulheres entre 18 e 40 anos, saudáveis, moradoras de Durban e também de um pequeno vilarejo rural sul-africano.
Todas receberam um gel que deviam aplicar 12 horas antes e 12 horas depois do ato sexual. Durante 30 meses, 444 receberam um placebo (substância sem valor medicinal), e as outras 445 o gel com tenofovir.
No final do estudo, foram registradas 60 infecções de HIV no primeiro grupo (placebo), enquanto no segundo só foram 38 casos, o que representa um índice de proteção de 39%. Além disso, quanto mais se aplicou o creme, maior foi o efeito profilático, já que, em geral, as mulheres usaram o gel em 72% das relações heterossexuais, mas entre as que aplicaram o remédio em 80%, o índice de proteção ascenderia a 54%.
Além do contágio do HIV, outro resultado da aplicação do gel foi a redução em 51% das infecções por herpes genital nas mulheres de entre 18 e 40 anos.
O novo produto deve passar pela a terceira fase de provas, já em andamento, e se passar, demorará ainda para chegar ao mercado. Segundo os pesquisadores, uma das vantagens do novo produto seria seu preço baixo.
Embora uma proteção de 40% ainda não seja suficiente para substituir o preservativo, é, no entanto, muito significativa para frear a epidemia nas regiões mais afetadas, apontam os analistas. Cientistas estimam que o gel vaginal, só na África do Sul, poderia impedir 1,3 milhão de novas infecções de HIV em 20 anos.
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