Um termo que soa meio estranho, né? Que processo é esse de transformar uma coisa nela mesma?
Que demais! Vamos falar de Maradona, Messi, Empanadas, Tango, churrasco e vinho tinto?
Não!
Desde antes da vitória do Alberto Fernández, quando ele era apenas um simples candidato favorito pras eleições presidenciais.
A mídia tradicional e os grupos de whatsapp dos cidadãos de bem passaram a apostar na desestabilização da Argentina.
Passou a ser comum dizer que o país virou comunista que a Argentina vai virar a Venezuela
Isso mesmo: Venezuela! E não é só la mídia de siempre e el tiozón del zap que vão nessa onda.
Os políticos tradicionais também. O Capitão Cloroquina foi dos primeiros a usar essa comparação.
É fato que a conjuntura está pegando fogo. A situação no país não é das melhores e realmente ocorreram alguns movimentos estranhos no país no começo de setembro.
Como gato escaldado tem medo de água fria, as movimentações de policiais em greve nos arredores da Casa Rosada logo fizeram surgir realmente o temor de um golpe, mas não um “golpe comunista”, mas um processo à la Bolívia.
Fernández logo controlou a situação, mas por que a direita tem falado tanto sobre a Argentina?
É a economia, estúpido!
Vamos aos números. A coisa lá não está nada boa: a pobreza no país saltou de 35% pra 40%; a indigência passou de 5% pra 8% e o desemprego subiu de 11% pra 13%.
Tudo isso antes de Alberto Fernández completar um ano de mandato, e segundo números oficiais.
Agora, tudo isso é culpa do Alberto?
Ele assumiu o país em dezembro de 2019 e os números da economia já estavam ruins.
A pobreza no país está em 40%. São oito pontos acima da era Kirchner. Em 2015, no final do governo da Cristina, eram 27% os pobres. Isso também não era uma maravilha, claro, mas era muito melhor do que o índice do Macri.
Outra coisa: a inflação com o Macri foi de quase 60% em 2019. A desvalorização do peso foi a maior desde a crise do corralito, em 2001.
Só o desemprego que não mudou muito, porque durante os quatro anos de mandato do Macri ficou entre 9% e 12%. Só que na época dele não tinha pandemia. E aqui vai um ponto crucial, porque é verdade que os números do governo do Alberto são ruins. Mas não dá para tratar isso como se fosse algo natural, porque não é!
O país vive uma pandemia, como o mundo inteiro, e o mundo inteiro está sendo afetado pra pior.
Só que a Argentina está conseguindo lidar com a crise e as mortes por coronavírus de forma muito melhor do que o Brasil.
Ao olhar para o país vizinho, é possível ter a impressão de que eles estão confinados há muito tempo — só agora há uma flexibilização — e que vai contra a liberdade das pessoas.
Mas basta comparar: A Argentina está com 800 mil infectados por coronavírus e 21 mil mortes.
O México, para comparar com outro país latino-americano, está com 790 mil e quase 82 mil mortos! Não vamos nem mencionar o Brasil, que já está quase com 150 mil mortos!
Como no caso brasileiro, a Argentina já vinha em uma crise. A pandemia pegou o país em cheio. Nos anos de Mauricio os Hermanos estavam de mal a pior ainda
E tem outra coisa, que vai além dos índices do governo Macri, que é a dívida que o ex-presidente deixou.
Os números eram tão ruins que Fernández já é quase um herói por ter topado encarar esse desafio
Claro que o Macri não perdeu a reeleição de propósito, ele queria ganhar, como todo candidato, mas perder nem foi tão ruim, se pensar que ele deixou na mão do sucessor uma dívida que a Argentina vai demorar talvez uns 100 anos pra pagar.
Só pro FMI, a Argentina deve 46 bilhões de dólares, de um acordo feito em 2018, que foi o maior resgate entregue pelo fundo na história.
É uma dívida maior do que a da Grécia na Década de 2000 e a do FHC nos Anos 1990.
Esse, aliás, foi um dos poucos rankings que o FHC alcançou até alguns anos atrás, quando ele quebrou o Brasil, mas pouca gente se lembra disso.
Ahh tem também o recorde de participação no programa Roda Viva!
Enfim, o Macri deixou bilhões e bilhões de dívidas, e o governo do Fernández tá tendo que renegociar tudo isso.
O que é mais incrível é que ele está conseguindo.
Assim como Néstor Kirchner, em 2003, Fernández está buscando acordos com todos os credores. Ainda não conseguiu 100%, mas já assinou com a maioria.
Só que isso não terá reflexos agora, será preciso esperar alguns anos. E também torcer para que não venha outro Macri — ou ele mesmo — e bagunce tudo pegando mais dívida sem saber como pagar.
Porque essa história não é nova na história do país! Dá para comparar o final do macrismo com a crise do corralito em 2001. E isso sem forçação de barra!
Nas duas circunstâncias, um presidente de direita entregou o país ao sucessor mergulhado em dívidas e em grave crise econômica.
Isso também aconteceu no fim da ditadura, no final do governo Alfonsín e na saída de Carlos Menem.
Só para lembrar, em nenhuma dessas vezes a Venezuela teve qualquer participação. Assim como agora também não tem.
Por isso que não é uma “venezuelização”, é uma “argentinização” da Argentina mesmo.
Em meio a essa tristeza toda, ainda tivemos que dizer adeus ao mestre Quino. O criador da personagem Mafalda morreu aos 88 anos.