A Câmara Municipal de Anguillara Veneta, no norte da Itália, aprovou nesta segunda-feira (25/10) a concessão do título de cidadão honorário ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro em meio a protestos com bandeiras do Brasil e cartazes contra a medida.
A homenagem foi proposta pela prefeita direitista Alessandra Buoso, que justificou a medida pelo fato de um bisavô de Bolsonaro ter nascido na cidade. A concessão recebeu nove votos a favor e três contrários na Casa Legislativa.
“Sem nunca ter dado qualquer passo, fomos contatados por expoentes brasileiros dizendo que haviam chegado os resultados das pesquisas que confirmavam que o presidente é descendente direto de Anguillara”, afirmou Buoso em um comunicado divulgado nas redes sociais do deputado ítalo-brasileiro Luís Roberto Lorenzato, do partido de ultradireita Liga.
A política italiana justificou que não estava ciente da sugestão de indiciamento contra Bolsonaro sugeridos pela CPI da Pandemia no Senado federal brasileiro, por crimes contra a humanidade e crimes de responsabilidade. Ela assinou a proposta de conceder o título a Bolsonaro em 20 de outubro, mesmo dia da leitura do relatório final da CPI. Na nota, a Buoso ainda se disse “profundamente perturbada” pelo fato de a homenagem ter sido “distorcida e manipulada para fins políticos”.
Reações ao título
O vereador de oposição Antonio Spada afirmou à agencia italiana Ansa que a homenagem a Bolsonaro representa um “prejuízo aos cidadãos de Anguillara e uma afronta às vítimas da pandemia da covid no Brasil”.
“Bolsonaro nunca promoveu a imagem de nossa cidade, mas está recebendo essa honraria apenas porque tem um bisavô nascido aqui. Rechaçamos a ideia de que Bolsonaro se torne modelo e exemplo para os cidadãos de Anguillara Veneta e o fato de essa escolha ser um ato imposto sem consultar a população”, disse Spada.
Isac Nóbrega/PR
Prefeita do município, direitista Alessandra Buoso, justificou a proposta por considerar que um bisavô de Bolsonaro nasceu na região
Já o vereador Fabrizio Biancato, também de oposição, declarou que “não basta ter um bisavô de Anguillara Veneta para merecer a cidadania honorária”.
“Por aquilo que [Bolsonaro] fez e está fazendo, estamos falando de uma pessoa que deve responder a acusações em tempos de pandemia e continua com uma política negacionista e contra a vacina, que sempre demonstrou falta de respeito pelas pessoas e pelo meio ambiente e que é artífice de escolhas que fizeram retornar o desespero e a fome no Brasil”, salientou.
“Não à cidadania a um racista, misógino e negacionista”, declarou a parlamentar Vanessa Camani, integrante da Assembleia Legislativa regional de Vêneto e membro da direção nacional do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, em campanha contra a concessão do título lançada por ela nas redes sociais
“Faz arrepiar a proposta da prefeita de Anguillara Veneta de conferir a cidadania honorária a Bolsonaro, conhecido pelos elogios à ditadura militar, pelo desprezo e ofensas a mulheres e homossexuais, pelas ameaças de prisão aos adversários políticos, ou pelas grotescas acusações contra ONGs pelos incêndios que devastaram a Amazônia”, escreveu a deputada no Facebook na semana anterior.
Religiosos italianos também contestaram a proposta em carta endereçada a prefeita da cidade. “Como cidadãos italianos que trabalham no Brasil há anos a serviço do povo brasileiro e da Igreja Católica brasileira (somos missionários, religiosos e ‘Fidei Donum’), nos sentimos profundamente entristecidos e desconcertados. Nós nos perguntamos sobre quais méritos? Como um homem que durante anos, e continuamente, desonra seu país pode receber honra na Itália?”, diz o documento, que teve trechos divulgados por reportagem do UOL.
(*) Com Ansa.