O setor de oposição direitista da Venezuela liderado pelo ex-deputado Juan Guaidó, ao se recusar a participar de processos eleitorais nos últimos seis anos, desapareceu da vida política do país, o que levou o povo venezuelano a não acreditar mais em seus representantes. Essa é a opinião de Genesis Garvett, deputada na Assembleia Nacional da Venezuela pelo PSUV.
Em entrevista a Opera Mundi, a congressista de 21 anos, que é a parlamentar mais jovem da atual conformação do Parlamento, afirmou que a oposição ligada a Guaidó não terá bons resultados nas eleições regionais que serão realizadas no próximo domingo (21/11), sendo que o principal motivo, segundo Garvett, é a ausência desse setor político nos últimos pleitos.
“Eles desapareceram durante seis anos da vida política do nosso povo e agora nosso povo não acredita mais neles. Nós não projetamos um resultado favorável para a oposição extremista porque as pessoas veem neles a traição à Pátria”, afirmou a deputada.
Os partidos opositores de direita aliados ao ex-deputado decidiram participar das eleições regionais neste ano após acordos alcançados na mesa de diálogo com o governo iniciada no México em setembro. De fato, a última eleição que a coalizão que reúne os principais partidos direitistas da Venezuela, e que apoia a autoproclamação de Guaidó, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), participou foi em 2015, quando conquistou maioria no Legislativo.
Outro fruto das negociações que ocorrem no México, além da participação desse setor oposicionista, é a missão de observação eleitoral enviada pela União Europeia à Venezuela. Declarações do chefe da diplomacia do bloco europeu, Josep Borrell, afirmando que o relatório da UE pretende “legitimar” o processo eleitoral no país latino-americano criaram tensões para os observadores da Europa e geraram críticas de autoridades venezuelanas.
Para Garvett, quem pode garantir a legitimidade da votação de domingo são os eleitores do país. “Um povo inteiro vai às urnas votar, e nós não precisamos do reconhecimento nem da União Europeia nem de ninguém, a não ser do povo venezuelano, que é a única fonte do poder do voto, através do qual nós exercemos nossa soberania”, disse.
A deputada ainda falou sobre a possibilidade de uma derrota das forças governistas e disse que o partido está apostando na “vontade popular para buscar uma vitória total a nível nacional”. Atualmente, o PSUV governa 19 dos 23 Estados venezuelanos, sendo os outros quatro governados pela oposição.
Questionada se uma possível derrota em algum Estado afetaria o governo do presidente Nicolás Maduro, Garvett destacou que nenhuma vitória opositora nas últimas eleições foi ampla e que, caso a direita vença em alguma região, isso não simbolizará uma derrota política para o chavismo, pois “sabemos que perdemos lutando”.
Leia a entrevista na íntegra:
Opera Mundi: O setor da oposição de direita que apoia Guaidó voltará, depois de quase seis anos, a disputar uma eleição na Venezuela. Como você projeta o desempenho opositor nas eleições do dia 21 de novembro?
Genesis Garvett: Veja, eles desapareceram durante seis anos da vida política do nosso povo e agora nosso povo não acredita mais neles. Nós não projetamos um resultado favorável para a oposição extremista porque as pessoas veem neles a traição à Pátria, inclusive alguns setores da oposição já não acreditam nessas lideranças fascistas e terroristas. O que vimos durante a campanha, por exemplo, o caso do senhor Carlos Ocariz, que era candidato ao governo do Estado de Miranda, renunciou na metade da jornada porque os números das pesquisas não o favoreciam. Assim como ele, já outros começam a ver o resultado que se aproxima no dia 21 de novembro, que é uma grande vitória das forças revolucionárias.
Reprodução/ @genesisgarvett_
Congressista de 21 anos afirmou que a oposição ligada a Guaidó não terá bons resultados nas eleições regionais
Eles estão fazendo campanha com todas as condições democráticas garantidas, os meios de comunicação cobriram todas as entrevistas e campanhas de todos os candidatos de oposição, ou seja, as condições estão dadas, é um processo totalmente transparente, democrático, onde o povo venezuelano decide. Agora, veja, se nós que somos chavistas repudiamos essa oposição, imagina como é ser um setor que é repudiado dentro de toda a oposição do país. Essa é a direita do Guaidó e ele já não é mais ninguém nesse país.
Algumas declarações de Josep Borrell causaram certa tensão entre Caracas e Bruxelas, principalmente por insinuarem que o relatório final da missão da UE pode ou não legitimar as eleições. Como os deputados governistas enxergam essa situação?
Bom, primeiro temos que lembrar a Josep Borrell que a Venezuela já não é uma colônia europeia há 200 anos e que, com a Revolução Bolivariana, quem decide no dia 21 de novembro é o povo venezuelano. Se eles não reconhecerem os resultados, aqui quem decide é o povo venezuelano e o que for decidido será o resultado oficial. Nós acreditamos que eles já tem “uma cartilha montada” e nunca vão reconhecer a verdade do povo venezuelano e a vitória da Revolução. Por isso dizemos: quem tiver olhos, que olhe e que veja a verdade. A verdade da Venezuela é que no dia 21 de novembro, um povo inteiro vai às urnas votar e nós não precisamos do reconhecimento nem da União Europeia nem de ninguém, a não ser do povo venezuelano que é a única fonte do poder do voto, através do qual nós exercemos nossa soberania.
Eu quero agradecer todos os amigos do mundo que vêm até aqui para ver a verdade e para que depois enfrentemos as agressões. Qualquer agressão que façam no dia 21 de novembro será uma agressão ao povo venezuelano por ser um povo valente e resistente diante dos interesses do imperialismo. Borrell é um lacaio do imperialismo gringo que teve que se desculpar por enviar uma missão eleitoral à Venezuela.
O PSUV hoje governa 19 dos 23 Estados do país. Em uma conjuntura como essa, perder apenas um Estado, apesar de não ser muito, pode ser explorado como uma derrota do partido e abalar de alguma forma o governo Maduro?
Não, não. Veja, historicamente nós observamos que, mesmo em Estados onde a maioria da população acredita na Revolução Bolivariana, foram eleitos governadores da oposição. Hoje, o que nós aspiramos é ganhar em todos os 23 Estados. Agora, caso a oposição ganhe um ou mais governos nós não veremos como uma derrota porque sabemos que perdemos lutando. Hoje em dia não há na Venezuela nenhum resultado que você veja a oposição ganhando com uma diferença de mais de 10 pontos do chavismo, isso na verdade nunca aconteceu.
Se esse cenário for possível, que a oposição ganhe em um ou mais Estados além dos que já governa hoje, eu garanto que será com uma diferença mínima, porque hoje nosso povo tem consciência, porque não é apenas sobre votar ou não no Grande Polo Patriótico [bloco chavista], mas sim de não votar em quem traiu a Pátria, em quem entregou os ativos estrangeiros do país, em quem pediu sanções e bloqueios. Hoje, essas posturas são repudiadas totalmente pelo povo. Da nossa parte, depositamos nossa confiança no povo e esperamos ter uma vitória total a nível nacional.