O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Washington no fim da tarde da última quinta-feira (09/02). Em sua primeira visita aos Estados Unidos neste novo mandato, Lula ficou hospedado na tradicional residência diplomática Blair House, uma mansão adquirida pelo governo norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial e aberta à visitantes internacionais de honra.
A casa, que fica a metros de seu par mais famoso, a Casa Branca, foi o lugar escolhido para abrigar as primeiras atividades do presidente em território norte-americano. Nas primeiras horas de uma manhã ensolarada em Washington, Lula conversou de maneira exclusiva com o canal CNN Internacional.
Logo em seguida, o presidente foi o anfitrião de um encontro com deputados progressistas, entres os quais estavam os democratas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, ambos os quais se manifestaram publicamente pedindo a retirada de Jair Bolsonaro dos Estados Unidos, logo após a tentativa de golpe em Brasília no dia 8 de janeiro.
O senador pelo partido democrata Sanders, chegou a Blair House um pouco antes das dez e meia, horário local, da manhã desta sexta-feira (10/02). Pramila Jayapal, Sheila Jackson lee, Brad Sherman, que também participaram da reunião, chegaram um pouco depois.
Do lado de fora, opositores e apoiadores do presidente se manifestaram em frente a residência.
Entre eles estava Myriam Marx que faz parte da organização Defend Democracy in Brazil. A Opera Mundi, ela disse que desde 2021 um pedaço da organização tem sede na Flórida, justamente o estado onde o ex-presidente Bolsonaro fixou residência.
“Não é fácil, particularmente porque a maioria das pessoas que organizam a base são mulheres, e a Flórida é uma região inóspita para a gente porque em Nova Iorque você se perde da multidão. E lá, a maioria dessas mulheres são trabalhadoras da limpeza, são imigrantes econômicas, elas andam sozinhas de carro e ali as armas são liberadas, as pessoas são muito agressivas e as pessoas que apoiam o Bolsonaro lá são muito agressivas”, conta a militante explicando como sua organização aprendeu a se defender dos ataques e ofensas dos militantes pró-Bolsonaro.
No final do encontro, que durou cerca de uma hora, o Sanders conversou com a imprensa brasileira e se irritou com os manifestantes pedindo que fizessem silêncio.
“O presidente e eu falamos sobre a necessidade de fortalecer os fundamentos democráticos não apenas no Brasil, não apenas nos EUA, mas ao longo de todo o mundo porque há uma ameaça massiva de extrema direita autoritária como [Donald] Trump ou Bolsonaro que tentam minar a democracia, e o nosso trabalho é fortalecer a democracia no Brasil, fortalecer a democracia nos Estados Unidos e em todo mundo”, disse o senador.
Antes de se dirigir para a Casa Branca, Lula conversou ainda com representantes do Sindicato da Federação Americana dos Trabalhadores e Congresso de Organizações Industriais.
Na Casa Branca o foco da conversa foi democracia e mudança climática
Lula chegou à Casa Branca acompanhado da primeira dama, Janja, por volta das quatro horas da tarde de sexta. Biden os recebeu sozinho, já que Jill Biden havia tido um mal-estar e não pôde estar presente.
Reprodução/ @POTUS
Lula e Biden se encontraram na sexta dentro da Casa Branca, em Washington, capital norte-americana
Em suas primeiras palavras no Salão Oval da Casa de Governo norte-americana, sem mencionar Bolsonaro, Lula disse que o Brasil ficou marginalizado nos últimos quatro anos. “O ex- presidente, que não gostava de manter relações com nenhum país, o mundo dele começava e terminava em fake news, de manhã, à tarde e à noite. Ele parecia desprezar relações internacionais”, disse o presidente brasileiro. Enquanto seu par norte-americano comentou sob risos, “soa familiar”.
Biden lembrou que ambos países tiveram suas democracias testadas recentemente, referindo-se a tomada do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, e durante a invasão dos Três Poderes no último dia 8 de janeiro.
O mandatário norte-americano, por sua vez, lembrou que em ambos os casos a democracia prevaleceu. “Quando conversamos em janeiro eu afirmei nosso acordo inabalável à democracia e quando falamos sobre nossas agendas, elas pareciam muito semelhantes. Eu afirmei o apoio incondicional dos Estados Unidos à democracia brasileira e o respeito pela livre vontade do povo brasileiro”, recordou Biden.
Preservação da Amazônia
No centro da discussão estiveram também as mudanças climáticas. O presidente brasileiro voltou a pedir comprometimento dos países membros do G20 com os acordos feitos neste âmbito das mudanças climáticas.
“Nos últimos anos, a Amazônia foi invadida pela irracionalidade política, irracionalidade humana, porque nós tivemos um presidente que mandava garimpo entrar nas áreas indígenas e garimpar nas florestas que nós demarcarmos como reserva na Amazônia”, disse Lula sobre a atual situação de emergência que vive a região atualmente.
Ele disse que assumiu o compromisso de que até 2030 chegar ao desmatamento zero na região. “Nós vamos fazer um esforço muito grande para transformar a Amazônia num santuário da humanidade”, disse Lula.
Do lado norte-americano, o presidente Biden reforçou que os países devem dar as mãos na luta pela defesa do estado de direito e dos valores que compartilham. “Brasil e Estados Unidos são parceiros naturais para enfrentar os desafios globais atuais e especialmente as mudanças climáticas”, completou Biden.
6 de janeiro e 8 de janeiro
Os recentes atentados físicos que ambos países sofreram às sedes de suas instituições criaram uma espécie de denominador comum entre as duas nações, em termos de população, às duas maiores democracias do mundo.
“Nós agora temos alguns problemas para trabalhar juntos: nunca mais permitir que haja um novo capítulo do Capitólio, e que nunca mais haja o que aconteceu no Brasil, uma invasão no Congresso Nacional, do Palácio do presidente e da Suprema Corte”, disse Lula na Casa Branca.
Para Biden, que ainda não declarou oficialmente se participará das eleições presidenciais do ano que vem, as nossas duas nações são democracias fortes e foram testadas, duramente testadas”, mas para ele, em ambos os casos a democracia prevaleceu.