Após receber uma carta do procurador do Departamento de Justiça dos EUA, Jack Smith, o ex-presidente norte-americano, Donald Trump, diz que “tem certeza” de que será indiciado pelos tumultos durante o ataque ao Capitólio, no dia 6 de janeiro. O caso poderá atrapalhar ainda mais os projetos políticos de Trump, que é pré-candidato republicano às eleições de 2024 e é alvo de vários processos.
Trump chamou Jack Smith de “transtornado” em uma mensagem publicada em sua rede, Truth Social. O porta-voz do procurador norte-americano preferiu não comentar o caso.
Em 6 de janeiro de 2021, milhares de apoiadores de Trump invadiram o Capitólio para protestar contra a vitória eleitoral do democrata Joe Biden, que tomou posse cerca de duas semanas depois. Desde então, mais de mil pessoas foram presas e cerca de 350 delas acusadas de agredir policiais ou de desacato à autoridade. Alguns membros de milícias de extrema direita foram condenados por sedição (atentado à ordem pública).
O ex-presidente, favorito entre os republicanos para ser o candidato do partido na eleição presidencial de 2024, disse que recebeu “um prazo muito curto, de quatro dias” para comparecer diante de um júri popular, “o que quase sempre significa prisão e indiciamento”.
Mas uma carta informando uma pessoa que ela está sendo investigada não significa que ela será necessariamente acusada. “Esta caça às bruxas tem tudo a ver com interferência eleitoral e uso completo e total da aplicação da lei como arma política”, disse Trump.
O magnata argumentou que tem o “direito de protestar” porque está “totalmente convencido” de que o processo eleitoral “foi fraudado e roubado”. O Departamento de Justiça “emitiu de fato uma terceira acusação e pedido de prisão do oponente político número um de Joe Biden, que está na frente na corrida pela Presidência”, afirmou Trump. “Nada semelhante aconteceu antes em nosso país”, acrescentou.
Uma comissão parlamentar, dissolvida no início deste ano pela nova maioria republicana na Câmara dos Representantes, investigou se Trump desempenhou um papel nos atos violentos daquele dia.
O painel, formado principalmente por democratas, disse que o ex-presidente havia incentivado seus apoiadores antes do ataque e “falhou em seu dever como chefe de Estado” durante os atos violentos.
Em seu relatório final divulgado em dezembro de 2022, a comissão concluiu que Donald Trump não deveria ocupar novamente cargos públicos após incitar seus apoiadores à insurreição.
Seus membros também recomendaram que os tribunais federais instaurassem processos criminais contra ele, principalmente por incitação à insurreição. Nesta terça-feira, Trump não especificou as possíveis acusações contra ele nesta investigação.
Outros casos
Trump já foi indiciado em uma investigação federal sobre documentos confidenciais, também liderada por Jack Smith. Ele é acusado de se recusar a devolver documentos confidenciais que supostamente guardou quando deixou a Casa Branca. Em meados de junho, ele se declarou inocente das acusações pelas quais será julgado.
Os promotores do caso querem que o julgamento comece em dezembro, enquanto os advogados de Trump pedem que seja realizado após as eleições presidenciais de novembro de 2024. Em uma audiência realizada nesta terça na Flórida, a juíza encarregada do caso, Aileen Cannon, nomeada por Trump, inclinou-se para uma posição intermediária, de acordo com o Washington Post.
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Ex-presidente norte-americano e magnata argumentou que tem o "direito de protestar"
Ela é prudente sobre a possibilidade de realizar o julgamento em dezembro, mas tampouco parece favorável a adiá-lo para depois das eleições. Disse que tomará uma decisão em breve.
Nikki Haley, adversária de Trump na disputa pela indicação republicana, denunciou nesta terça (18/07) na Fox News uma “nova distração” que, à margem das primárias, está focando a atenção nos problemas legais do ex-presidente.
Já o líder republicano na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, acusou Biden, que tentará se reeleger em 2024, de usar o judiciário norte-americano para “atacar seu adversário número um”. Por sua vez, o congressista democrata Adam Schiff classificou como “patéticas” as declarações de McCarthy e afirmou ser “vergonhoso proteger um ex-presidente corrupto”.
O bilionário republicano também foi indiciado pela Promotoria do Estado de Nova York por várias acusações de fraude contábil, devido a um pagamento feito antes da eleição presidencial de 2016 para silenciar uma atriz pornô.
Por fim, uma promotora da Geórgia anunciará, antes de setembro, o resultado de sua investigação sobre a pressão que Trump teria exercido para tentar mudar o resultado das eleições presidenciais de 2020 neste estado do sul do país.
Fraudes de eleitores
Dezesseis partidários do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no estado do Michigan foram acusados, nesta terça-feira, de falsificação por se unirem a um esquema de “falsos eleitores” para reverter a derrota eleitoral do político republicano em 2020.
As acusações são as primeiras contra os participantes do plano, que, após as eleições de novembro de 2020, tentaram registrar ilegalmente Trump como o vencedor em sete estados, o que teria lhe dado a vitória ao nível nacional, quando, na realidade, foi derrotado por Joe Biden.
O fracasso do esquema dos “falsos eleitores” foi uma das principais causas para a violenta invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, data em que Biden foi confirmado como o vencedor.
A procuradora-geral do Michigan, Dana Nessel, disse que os 16 acusados afirmaram ilegalmente que eram representantes do estado quando os votos do colégio eleitoral estavam sendo contados.
Cerca de três semanas antes de 6 de janeiro, os acusados se reuniram no porão da sede do Partido Republicano no Michigan e assinaram vários certificados declarando que eram eleitores desse estado, apontou Nessel.
Depois, os documentos foram enviados para o Senado dos Estados Unidos em um esforço para fazer com que seus votos fossem contados no lugar dos emitidos pelos verdadeiros eleitores do Michigan para reverter a vitória eleitoral de Biden em todo estado e ao nível nacional, disse.
“Este plano, a fim de rejeitar a vontade dos eleitores e minar a democracia, foi fraudulento e sem fundamento legal”, acrescentou. Os 16 réus enfrentam múltiplas acusações por conspiração, falsificação e fraude, que podem acarretar 14 anos de prisão para cada um.
Segundo a investigação, o esquema dos falsos eleitores foi conduzido por dois advogados próximos a Trump, Rudy Giuliani e John Eastman. O anúncio ocorre no mesmo dia em que Trump afirmou ter recebido uma carta da Procuradoria sugerindo que ele será provavelmente indiciado criminalmente pelo plano de fraude eleitoral de 6 de janeiro e o subsequente ataque ao Capitólio.