O governo britânico prometeu nesta segunda-feira (31/07) “centenas” de novas licenças para a exploração de petróleo e gás no Mar do Norte. O posicionamento do primeiro-ministro Rishi Sunak foi, no entanto, criticado por ONGs ecologistas. O Greenpeace, por exemplo, considera a concessão ilegal.
O anúncio também é questionado tanto pela maioria conservadora quanto pela oposição trabalhista, por conta dos custos que os britânicos, duramente atingidos pela inflação, vêm pagando por políticas verdes.
Com a decisão, Rishi Sunak expõe o Executivo a duras críticas sobre a seriedade de seu compromisso com o meio ambiente. Além disso, o primeiro-ministro também se opõe diretamente aos trabalhistas, que encabeçam as intenções de voto para as próximas eleições legislativas em 2024. A oposição quer acabar com a concessão de novas licenças de exploração de petróleo e gás no Mar do Norte.
“Todos nós testemunhamos como [o presidente russo, Vladimir] Putin instrumentalizou a energia ao interromper o fornecimento [de gás], paralisando o crescimento em países ao redor do mundo”, disse o primeiro-ministro conservador em um comunicado. “É mais vital do que nunca fortalecermos nossa segurança energética e capitalizarmos essa independência para levar energia mais acessível e limpa para residências e empresas do Reino Unido”, acrescentou Sunak.
O chefe de governo britânico argumentou que, mesmo quando o Reino Unido alcançar sua meta de neutralidade de carbono, em 2050, um quarto da demanda de energia do país virá do petróleo e do gás.
O Greenpeace denunciou uma “cínica manobra política para semear a divisão”, que faz do clima “um dano colateral”. “À medida que incêndios e inundações devastam casas e vidas em todo o mundo, o governo de Rishi Sunak decidiu recuar nas principais políticas climáticas”, disse Philip Evans, gerente climático da organização ambientalista no Reino Unido.
Primeiras licenças no segundo semestre de 2023
O apoio à exploração de petróleo e gás no Mar do Norte ajudará a manter mais de 200 mil empregos, diz Downing Street. As primeiras novas licenças devem ser emitidas no outono (hemisfério norte).
Simon Walker / No 10 Downing Street
Premiê Rishi Sunak expõe Executivo a críticas sobre seriedade de seu compromisso com o meio ambiente
O governo também revelou os dois primeiros locais de captura e armazenamento de CO2 no Mar do Norte, um setor que provavelmente sustentará até 50 mil empregos. Mas alguns ambientalistas acusam essa tecnologia de poder servir de desculpa para a exploração contínua de combustíveis fósseis.
Um “verniz verde”, denunciou a ONG Amigos da Terra. Se esta tecnologia funcionasse um dia, o que esta associação duvida a curto prazo, não captaria “toda a poluição climática causada pela combustão de combustíveis fósseis” ou as emissões durante o processo de extração.
Envolvido em um dos projetos, o grupo Shell saudou um “programa central” para “descarbonizar as operações no Mar do Norte”.
“Apatia” na ação climática
“Faremos a transição para a neutralidade do carbono”, disse Rishi Sunak à BBC Escócia. “Mas faremos isso de maneira proporcional e pragmática, o que não necessariamente aumenta o fardo ou o preço das contas das famílias”.
De acordo com uma pesquisa YouGov realizada no primeiro semestre do ano, 65% dos britânicos dizem estar preocupados com as consequências da mudança climática, mas a maioria se opõe a medidas que exigiriam esforço pessoal.
O Reino Unido já registra os efeitos do aquecimento global. Um relatório dos serviços meteorológicos alertou recentemente que as temperaturas recordes do verão de 2022, quando os 40°C foram ultrapassados, serão consideradas “frescas” até o final do século.
No final de junho, o secretário de Estado responsável pelo clima no Ministério das Relações Exteriores, Zac Goldsmith – próximo ao ex-primeiro-ministro Boris Johnson –, deixou o governo, acusando, em particular, Rishi Sunak de não estar interessado no meio ambiente. Goldsmith denunciou a “apatia” do Executivo em relação à mudança climática.