O Conselho de Segurança da ONU realizará uma reunião de emergência na segunda-feira (05/02), a pedido da Rússia, para discutir os ataques liderados pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria, disseram várias fontes diplomáticas à AFP.
A Síria denunciou neste sábado (03/02) a “ocupação” norte-americana de partes de seu território e os bombardeios mortais durante a noite, que os Estados Unidos descreveram como ataques “bem-sucedidos” contra forças de elite iranianas e grupos pró-iranianos na Síria e no Iraque.
A reunião do Conselho de Segurança está marcada para as 16 horas em Nova York (18 em Brasília), disseram as mesmas fontes, falando sob condição de anonimato.
Mais cedo, o representante da Rússia na ONU, Dmitri Polianski, denunciou os ataques norte-americanos. “Acabamos de convocar uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU sobre a ameaça à paz e à segurança criada pelos ataques dos EUA na Síria e no Iraque”, afirmou o representante de Moscou na ONU.
Os bombardeios dos EUA acontecem no momento em que diplomatas tentam uma nova trégua no cenário de turbulência regional. A cidade de Rafah, onde mais de um milhão de palestinos buscaram refúgio da guerra em Gaza, foi palco de intensos ataques israelenses neste sábado.
Aumento das tensões
O observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) informou que pelo menos 23 combatentes pró-Irã foram mortos no leste da Síria durante bombardeios norte-americanos. Fontes de segurança também confirmaram à AFP que posições de grupos armados pró-iranianos foram bombardeadas no oeste do Iraque, próximo à Síria.
Os Estados Unidos dizem que esses bombardeios aconteceram em represália ao ataque a uma base na Jordânia, em 28 de janeiro, que matou três militares norte-americanos e que Washington atribui a grupos apoiados pelo Irã.
A intervenção militar norte-americana na noite de sexta-feira (02/02) durou cerca de trinta minutos e foi “um sucesso”, conforme a Casa Branca, que mais uma vez declarou que não queria uma “guerra” contra o Irã.
Os Estados Unidos realizaram mais de cem ataques no Iraque e na Síria, tendo como alvo a Guarda Revolucionária Iraniana e grupos pró-iranianos. Um total de 85 alvos em sete locais diferentes (quatro na Síria e três no Iraque) foram atingidos, afirmou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. As ações foram direcionadas a centros de comando e inteligência, bem como a instalações de armazenamento de drones e mísseis pertencentes a milícias e forças iranianas.
Os ataques resultaram na “morte de vários civis e soldados, deixando feridos e danos significativos”, relatou o exército sírio em comunicado. “A ocupação de certas partes do território sírio pelas forças dos EUA não pode mais continuar”, acrescentou, afirmando a sua “determinação de libertar todo o território sírio do terrorismo e da ocupação”.
UN Women/Ryan Brown
Reunião de emergência será na segunda-feira (05/02), a pedido da Rússia
Iraque condena ataques
O governo do Iraque condenou uma “violação da soberania iraquiana”. Um porta-voz militar do primeiro-ministro disse em comunicado que os ataques teriam “consequências desastrosas para a segurança e a estabilidade do Iraque e da região”.
A Casa Branca garantiu que os Estados Unidos haviam “informado o governo iraquiano antes dos ataques”. O exército norte-americano entrou em ação logo após o retorno solene aos Estados Unidos dos corpos dos três militares americanos mortos na Jordânia.
Cerca de 900 soldados norte-americanos estão posicionados na Síria e 2.500 no vizinho Iraque, como parte de uma coalizão internacional contra os jihadistas criada para combater o grupo Estado Islâmico, quando os radicais controlavam áreas do território sírio e iraquiano.
Irã denuncia “ação aventureira”
Teerã condenou “veementemente” os bombardeios. “O ataque de ontem à noite é uma ação aventureira e outro erro estratégico por parte dos norte-americanos, que não terá outro resultado senão intensificar as tensões e a instabilidade na região”, reagiu o ministro de Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanani, sem indicar no comunicado se algum iraniano havia sido morto nos ataques.
“Reposta já começou”
A operação teve como alvo centros de comando e inteligência, bem como instalações de armazenamento de drones e mísseis “que possibilitaram ataques contra as forças dos EUA e da coalizão”, afirmou o Pentágono. “Não queremos ver outro ataque contra posições ou tropas norte-americanas na região”, alertou o porta-voz da Casa Branca, John Kirby. “Nossa resposta começou hoje. Ela continuará no prazo e nos locais que decidirmos”, afirmou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Desde meados de outubro, mais de 165 ataques de drones e foguetes tiveram como alvo as forças norte-americanas mobilizadas com a coalizão anti-jihadista no Iraque e na Síria, mas nenhum militar norte-americano havia sido morto até o ataque na Jordânia, no fim de janeiro. “Os Estados Unidos não querem conflitos no Oriente Médio ou em qualquer outro lugar do mundo. Mas aqueles que desejam nos prejudicar devem ficar atentos: se você ferir um norte-americano, nós responderemos”, afirmou o presidente em um comunicado.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, alertou que todos devem evitar que a situação “se torne explosiva”.
Nesta semana, o Hamas recebeu uma nova proposta de cessar-fogo elaborada por Israel e pelos Estados Unidos e encaminhada pelo Egito e pelo Catar. O chefe do escritório político do Hamas, Ismail Haniyeh, disse na sexta-feira que havia discutido a proposta com seu aliado, a Jihad Islâmica, e com o chefe da Frente Popular para a Libertação da Palestina.