Termos como “sustentabilidade”, “políticas verdes” e “resgate do planeta” são hoje conceitos superexpostos por peças publicitárias e estão presentes no discurso de qualquer político ou executivo. Demonstrar preocupação com o meio ambiente virou obrigação.
No centro de eventos onde acontece a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, em Copenhague, representantes de empresas tentam ganhar a atenção dos participantes, para mostrar seus esforços na redução de emissão de gases causadores do efeito estufa.
Adrian Dennis/AFP
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“Existem soluções simples que podem causar grande impacto. No nosso caso, usamos a tecnologia para nos adequarmos a um modelo sustentável”, afirmou ao Opera Mundi Rikke Hvilshøj, representante da multinacional japonesa Konica Minolta, especialista em material fotográfico.
Parece, ao menos publicamente, que governos e empresas chegaram a um acordo e estão juntos em uma luta ferrenha contra o aquecimento global – não importa o quanto isso custe.
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Na prática, não é bem assim. Com a preocupação dos governos em ser “politicamente corretos”, pouco se fala sobre o quanto criar um mundo sustentável custa para a economia de uma nação. A Organização das Nações Unidas estima que o custo de adaptação de um país a um modelo sustentável pode ser de 1% até 3% do PIB.
O centro de pesquisas norte-americano The Heritage Foundation analisou o tema, cruzando dados macroeconômicos dos Estados Unidos com as metas do projeto de lei Waxman-Markey, que prevê limites na emissão de poluentes no território norte-americano – o documento já passou pela Câmara e agora tramita no Senado.
Chegou-se à seguinte conclusão: se os Estados Unidos reduzissem as emissões de carbono em 7% ao ano – quantidade estipulada pelo Protocolo de Quioto –, seu Produto Interno Bruto sofreria um desfalque anual de aproximadamente 393 bilhões de dólares, ou seja, 2,7% do total registrado em 2008, de 14,4 trilhões de dólares. Isso representaria cerca de 9,4 trilhões de dólares até 2029 – período considerado para esta pesquisa, mesmo que as metas de Quioto sejam válidas apenas até 2012.
Motor do desenvolvimento econômico em qualquer país, a geração de energia traz um agravante no caso dos Estados Unidos: 85% é gerada por combustíveis fósseis – carvão mineral, petróleo e gás natural –, formados por compostos de carbono, o principal responsável pela destruição da camada de ozônio.
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Efeito desastroso
Ben Lieberman, analista político e especialista em energia e meio ambiente da Heritage Foundation, afirma que metas de redução de poluentes nos EUA causariam um efeito desastroso na economia, já que o principal alvo seria o setor energético.
“O Protocolo de Quioto ou qualquer outro pacto do tipo pode ser uma ameaça à soberania americana. Se a nossa energia for limitada, o país poderá viver um caos. Mais de 800 mil postos de trabalho podem ser fechados por ano, enquanto as demissões na indústria ultrapassariam 50%. Os americanos devem se manter distantes de qualquer tratado ambiental”, declarou ao Opera Mundi.
Uma versão sustentável do segundo maior poluidor do mundo – a China é o maior em números absolutos, embora não o seja quando considerada a emissão per capita – pesaria no bolso do cidadão. Segundo a Heritage Foundation, em uma família de quatro pessoas os custos com energia (eletricidade, gás natural, combustível) aumentariam 436 dólares em 2012.
Isso porque acredita-se que quem vai arcar com o custo da menor geração de energia é o consumidor, pagando mais para que os produtores mantenham o rendimento. Ou seja, as empresas repassariam o prejuízo nos preços, embora não tenham reconhecido isso quando consultadas pela reportagem. Alegam que não é custo, e sim investimento, porque o mais importante é salvar o planeta.
Degradação também custa caro
Apesar da previsão da ONU sobre o custo de adaptação, o custo da não-adaptação poderá ser muito maior. Segundo ambientalistas, uma quantidade ainda incalculável de dinheiro terá que ser desembolsada para lidar com os impactos severos da destruição ambiental, como escassez de água, desertificação e perda da capacidade produtiva da agricultura.
Para Rachel Harris, da ONG Global Gender & Climate, de Nova York, nenhum gasto é alto, se o objetivo for garantir a existência das gerações futuras. “Se não investirmos em um mundo sustentável para o futuro, que tipo de futuro vamos ter?”, questiona ela, que participa da conferência sobre o clima em Copenhague.
Com a saída do presidente George W. Bush do poder, criou-se a esperança de que pudesse ser criada uma nova relação entre os Estados Unidos e o meio ambiente. Durante os oito anos em que esteve no poder, Bush ignorou o Protocolo de Quioto e qualquer outra meta de redução de emissão de gases poluentes. Já o presidente Barack Obama, desde a campanha eleitoral, prometeu uma nova postura dos americanos em relação ao clima.
Poucas semanas antes da 15ª edição da CoP-15 (sigla em inglês para Conferência das Partes), Obama – que chegou a fazer mistério sobre a sua participação na cúpula – anunciou que os EUA estariam dispostos a cortar 17% das emissões até 2020, com base nos níveis de 2005.
Para o ambientalista Henrique Cortez, do portal brasileiro EcoDebate, a meta norte-americana é absurda e não passa de uma jogada de marketing. “Obama teme ser condenado da mesma forma que Bush. Por isso, lançou uma meta irrelevante, apenas para não dizerem que não contribuiu”, afirma.
Não é apenas Obama que investe no marketing verde, conhecido no setor como “greenwashing” (quando uma empresa diz agir em conformidade com o meio ambiente, mas, na verdade, atua contra os interesses ambientais). Empresas europeias também aderiram a essa forma de propaganda. Ninguém ousa criticar as metas de redução. Além de ser politicamente incorreto, uma posição avessa à proteção ambiental pode causar sérios danos à imagem de uma companhia.
A gigante dinamarquesa de transporte marítimo Maersk, por exemplo, afirma ter reduzido suas emissões de CO2 em 8% em 2008, na comparação com o ano anterior. Quando questionada pelo Opera Mundi sobre quanto custou reduzir as emissões, a empresa respondeu que “a contribuição que a companhia dará ao meio ambiente tem um preço incalculável, portanto, qualquer que tenha sido o investimento, foi compensado”.
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