O governo de Joe Biden criticou a estratégia das forças militares de Israel em Gaza, temendo que seu aliado no Oriente Médio esteja “desperdiçando desastrosamente sua oportunidade de vitória contra o Hamas” e “perdendo sua melhor chance de eliminar o domínio do grupo sobre Gaza”.
A informação foi revelada pelo portal norte-americano de notícias Politico, nesta terça-feira (21/05), e configura como uma das críticas abertas mais duras feitas pelos Estados Unidos aos israelenses desde 7 de outubro.
De acordo com o veículo, altos funcionários de Washington consideram a conduta de Israel como “autodestrutiva” e falam em “fracasso” sobre gestão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que “virou a população civil e o resto do mundo contra a nação” em decorrência da continuidade de bombardeios e bloqueio de ajuda humanitária no território palestino, permitindo que o Hamas recrutasse mais combatentes.
Durante meses, os Estados Unidos têm mantido críticas privadas e pressões silenciosas a Israel para mudar as táticas de ataque ao enclave. No entanto, Tel Aviv tem se recusado, ampliando o desgaste entre as nações aliadas.
“Queremos encorajar um foco mais profundo na conexão entre as operações militares em andamento e, em última análise, o desfecho estratégico. Vamos continuar pressionando esse ponto”, disse um alto funcionário do governo, sob anonimato, ao Politico.
Acrescentou ainda que o conselheiro de segurança nacional norte-americano, Jake Sullivan, usou sua visita a Netanyahu, em Israel na semana passada, para discutir como sua operação pode levar a um sucesso “alcançável e duradouro” contra o Hamas.
Em recente entrevista à emissora televisiva CNN, o premiê israelense reforçou sua pretensão em combater o grupo palestino, supondo que “caso contrário, não haverá futuro para Gaza”. No entanto, o portal Politico revelou que a inteligência norte-americana confere uma “crescente preocupação de que tal resultado não seja possível”, uma vez que apenas 30% a 35% dos combatentes do Hamas — aqueles que faziam parte do movimento antes de 7 de outubro — foram mortos, enquanto 65% de seus túneis seguem intactos.
Já segundo uma autoridade do gabinete de Biden, próxima ao organismo de inteligência, há preocupação, também, com o fato do grupo palestino ter recrutado milhares de integrantes durante as operações militares israelenses em curso.
Na semana passada, o vice-secretário de Estado, Kurt Campbell, reconheceu que a “vitória total” de Israel contra o Hamas era improvável. Por sua vez, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou que a eventual retirada das forças israelenses poderia deixar “um vazio que provavelmente será preenchido pelo caos, pela anarquia e, em última análise, pelo Hamas novamente”.
Na segunda-feira (20/05), tanto o secretário de Defesa, Lloyd Austin, quanto o general C.Q. Brown, presidente do Joint Chiefs, repreenderam Israel pelo fracasso em proteger os civis em Gaza e impedir que o Hamas voltasse aos lugares antes controlados.
De acordo com o Politico, trata-se de “um sentimento comum compartilhado por ex-altos funcionários com profunda experiência em campanhas semelhantes”.
“Qual é o plano para cuidar dos 2,5 milhões de palestinos que ficaram para trás? Qual é o plano para lidar com o restante dos combatentes do Hamas? Parece incompleto e eu simplesmente não acho que eles se comunicaram ou pensaram nisso tão bem quanto eu esperaria que fizessem”, criticou o general reformado Joseph Votel, que foi chefe do Comando Central dos Estados Unidos.
“Israel não apenas se recusou a aprender com esse corpo de conhecimento e experiência sobre o sequenciamento de atividades para evitar piores resultados para as sociedades pós-conflito, mas também parece que Israel está no caminho certo para repetir os mesmos erros”, lamentou Dana Stroul, ex-funcionária do Pentágono para o Oriente Médio, em um ensaio de Relações Exteriores publicado na segunda-feira.
De acordo com as autoridades ocidentais, o resultado após oito meses de “guerra total de Israel” é que o Hamas ainda mantém terreno e capacidades significativas.
“Israel tem o direito e a responsabilidade de derrotar o Hamas, mas sua estratégia atual de operações militares convencionais em grande escala sairá pela culatra e minará esse objetivo. Os Estados Unidos aprenderam ao longo de décadas que, a menos que você centralize as necessidades humanitárias e a proteção de civis em conflito, seus objetivos militares falharão. Estamos vendo isso em primeira mão à medida que o Hamas ressurge rapidamente após as operações das Forças de Defesa de Israel e mantém as capacidades, apesar de meses de combates”, disse o deputado Jason Crow (D-Colo), em entrevista.
Na medida que a fome agrava e os israelenses seguem interferindo na entrega de ajuda humanitária ao povo palestino, o Politico explica que cresce o receio por parte dos Estados Unidos de que os moradores de Gaza sejam levados para os braços do Hamas.