O futuro das emissoras públicas de rádio e televisão na França está em jogo nestas quinta e sexta-feiras (23 e 24), enquanto os deputados franceses analisam um polêmico projeto de fusão dos diferentes veículos que asseguram a pluralidade da informação no país e no mundo. Em protesto, funcionários da Radio France, France Télévisions, France Médias Monde (grupo da qual faz parte a RFI) e do Instituto Nacional de Audiovisual (INA) fazem greve.
O projeto de criação de uma “BBC à francesa”, defendido pela ministra da Cultura, Rachida Dati, foi apresentado ao Parlamento sem discussão prévia com as entidades. O texto, que já passou pela comissão de Cultura da Assembleia de Deputados e pode ser analisado nesta semana, busca “juntar as forças” do sistema público, segundo definiu a ministra conservadora.
A reforma prevê a criação de uma holding entre a Radio France, a France Télévisions e o Instituto Nacional de Audiovisual (INA), em uma fase de transição a partir de 1º de janeiro de 2025, seguida da fusão um ano depois. Juntos, os três contam com 16 mil funcionários.
A France Médias Monde – que além da RFI, reúne a emissora de TV France 24 e a rádio MCD, em árabe – por enquanto está de fora do projeto, mas teme ser incluída no plano a qualquer momento.
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Funcionários do serviço público de informação protestam na França contra projeto de fusão de veículos de comunicação
Apreensão quanto a cortes como na BBC
O tema ganha repercussão na imprensa francesa e é capa do jornal Libération nesta quinta (23/05), que acusa o projeto de ser “vago”. O diário lembra que a fusão na BBC, o audiovisual público no Reino Unido, resultou em um corte de 30% do orçamento e 1,8 mil empregos da cadeia britânica de rádios e televisões.
Em greve, os funcionários franceses denunciam que a fusão ameaçaria a independência editorial e o orçamento dos veículos, além de empregos. Na manhã desta quinta-feira, a programação da Radio France foi interrompida e substituída por música. O conjunto de rádios hoje tem a maior audiência radiofônica no país, com 15 milhões de ouvintes por dia, mas teme ser “engolido” pela televisão.
Já o canal Franceinfo reprisa programas durante o dia, em protesto contra a reforma. Uma manifestação de todo o setor está marcada para esta tarde, em frente ao Ministério da Cultura. “É a nossa sobrevivência que está em jogo”, disseram os sindicatos da Radio France durante uma assembleia geral, na quarta (22/05).
Promessa criar um polo poderoso de audiovisual
O jornal conservador Le Figaro afirma que o atual projeto não é consensual dentro do próprio governo, embora os questionamentos se concentrem mais na forma, e não na necessidade de “criar um polo mais poderoso” da imprensa pública, como prega o Ministério da Cultura.
A questão do financiamento do audiovisual também está em aberto. Desde que o governo de Emmanuel Macron decidiu acabar com o imposto específico para bancar o serviço, uma nova fórmula ainda não foi decidida. Provisoriamente, os recursos vêm da arrecadação da TVA (imposto sobre valor agregado), mas uma nova reforma deve ser encaminhada para assegurar um financiamento perene no orçamento do Estado.
Os sindicatos do setor já planejam outro dia de mobilizações, em 28 de maio, caso a primeira votação solene da reforma pelos deputados seja mantida.