Yann Arthur Bertrand/divulgação
Formação natural de um coração em Voh, na Nova Caledônia, em 1990. A imagem é capa da edição francesa de “A Terra vista do Céu”
Após visitar mais de cem países e perceber os impactos da ação humana sobre o meio ambiente, o fotógrafo francês Yann Arthur Bertrand tornou-se um cético em relação ao futuro do planeta e a eficácia das conferências internacionais sobre o tema. Célebre pela criação do projeto “A Terra Vista do Céu”, que reúne imagens aéreas naturais e urbanas de todas as partes do mundo, Bertrand está no Rio de Janeiro participando de uma exposição fotográfica sobre seu trabalho na praça Floriano, na Cinelândia (centro da cidade).
“Não sou um otimista. Acho que, provavelmente, o mundo de amanhã será um lugar muito difícil e complicado”, afirma.
O Rio de Janeiro foi um grande inspirador para o trabalho de Bertrand, que iniciou a série após participar da Eco-92, há vinte anos. Desde então, com apoio da ONU (Organização das Nações Unidas), tem percorrido o mundo atrás de imagens inusitadas e surpreendentes, as quais juntou com seu acervo pessoal. O resultado principal do projeto foi um livro fotográfico concebido em 2000 que vendeu mais de 3,5 milhões de exemplares em seis anos, constantemente reeditado. Suas exposições ao ar livre já foram vistas por 200 milhões de pessoas, de acordo com o site do fotógrafo francês. As imagens também viraram um documentário para o cinema.
Yann Arthur Bertrand/divulgação
Grande fonte hidrotermal Prismática, no Parque Nacional de Yellowstone, Estado de Wyoming, nos EUA
“Nunca esperei nada de conferências como a Rio+20, infelizmente. Em compensação vou todos os dias na Cúpula dos Povos. Não acho, porém, que ela seja uma oposição à Rio+20, as duas são complementares”, afirma.
Bertrand não acredita que futuramente os governos conseguirão acordos mais significativos: “Temos os políticos que merecemos. Falta o mínimo de coragem a eles. Eles não são capazes de representar as pessoas que querem realmente mudar o mundo. São incapazes de contribuir para qualquer mudança”.
Mostrando ainda mais pessimismo, ele também não acredita que as novas gerações devam fazer diferença caso não mudem radicalmente o estilo de vida. “Elas não estão mais conscientes do que antes. Estamos todos em um sistema de consumo e uns contra os outros. É sempre culpa do outro e é cada um por si. Para mim, não tem essa história de que um lado estão os petroleiros malvados e de outro os consumidores bonzinhos. Se você consome combustível, sempre existirão as petrolíferas. E assim por diante. Se ninguém controlar o que consome, não adianta. Bem, mas aí até eu faço parte do sistema, afinal após dez anos tentando, só me tornei vegetariano há uma semana”, confessa o fotógrafo.
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Yann Arthur Bertrand/divulgação
Jangada de madeira e seu remador no rio Congo em direção a Brazzaville, no Congo-Brazzaville
“A única maneira de mudar é através da revolução. Mas não uma revolução política, porque ela já se mostrou incapaz de mudanças. Não temos líderes e ele não vão emergir do nada. Também não será econômica, porque a economia é incontrolável. E nem científica, porque jamais iremos substituir os 85 milhões de barris de petróleo consumidos todos os dias por energia eólica ou solar. Mas através de uma revolução espiritual. E não no sentido religioso, mas no ético e moral. Qual meu lugar na Terra? O que devo fazer? Tenho o direito de consumir determinado produto? Ou seja, se tudo passar por uma consciência coletiva, então as ações vão perseverar. Mas se dissermos aos outros o que eles não devem fazer, nada vai acontecer”, afirma.
Só até domingo
A mostra conta com 130 grandes cartazes com algumas das mais famosas imagens do projeto, expostas por toda a praça. “Sou muito feliz em poder ver minhas fotos em um lugar como esse, é aqui onde acho que elas devem ficar expostas, no meio das pessoas”, disse o fotógrafo, durante o principal protesto da Cúpula dos Povos, ocorrido na última quarta-feira (20/06). Atencioso, fazia questão de tirar fotos ao lado dos fãs que o reconheciam.
Além de suas fotos mais conhecidas, a exposição conta também com onze imagens inéditas que Bertrand tirou há algumas semanas no Rio. “Entre algumas cenas que vi do Rio me surpreendeu o fato de que as pessoas aceitam lotar praias completamente poluídas, não entendo como a população não se revolta com isso. Parece um fenômeno mundial, as pessoas estão muito resignadas”, observa o fotógrafo.
A exposição, que teve início em 27 de abril, se encerrará neste domingo (24). Para complementá-la, o cine Odeon, na Cinelândia, passa filmes relacionados ao seu trabalho e à preservação do meio ambiente. Ao fim das filmagens, Bertrand aparece para participar de um debate com o público sobre meio ambiente e preservação.
Yann Arthur Bertrand/divulgação
Praia de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro