A ameaça de desabastecimento e agravamento da crise energética na Venezuela pode se estender por mais dois anos, segundo o professor da Universidade Central da Venezuela Edgardo Lander. De acordo com ele, é necessário reduzir o consumo de energia no país vizinho e paralelamente o governo do presidente Hugo Chávez deve diversificar a matriz energética do país a partir da utilização de hidrelétricas.
“É bastante provável que passemos os próximos dois anos em uma situação difícil”, afirmou Lander, que participou de debates no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. “Supondo que o período de chuva comece na época normal, entre maio e junho. Com as alterações climáticas, não sabemos o que vai acontecer.”
Pelos dados oficiais, houve redução dos níveis da água na Barragem Guri – a principal do país. A unidade abriga o complexo hidrelétrico que produz 70% da eletricidade na Venezuela. Segundo Lander, o sistema elétrico venezuelano, dependente 70% das hidrelétricas. Mas para ele, o desperdício e a ausência de controle do governo sobre o consumo agravam a crise.
Na última semana o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimermann, e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, foram a Caracas para verificar como o governo brasileiro pode ajudar a Venezuela a superar a crise de desabastecimento. Uma das alternativas é enviar mais uma equipe de técnicos na semana que vem para o país vizinho em busca de uma solução para o impasse.
“A situação [na Venezuela] de razoável equilíbrio entre oferta e demanda se alterou com a queda da geração e não há suficiente capacidade de respaldo”, disse o professor venezuelano. “Por mais de um século, a sociedade [venezuelana] teve abundância em recursos energéticos. É um problema que vem do imaginário de uma sociedade petroleira”, compeltou.
Desde dezembro, Chávez adverte a população sobre os problemas com o abastecimento de energia no país. Porém, nos últimos dias foram anunciados planos de racionamento. O professor ressaltou que o setor produtivo reduziu 20% o gasto com energia, e a administração pública trabalha cinco horas por dia, em busca da diminuição também. Mas para ele, é fundamental que a população coopere: “É lógico que a situação causa problemas na produção e mal-estar na vida cotidiana”.
Segundo Lander, uma das alternativas para controlar a demanda de energia é por meio da adoção de uma política de preços, instalando mais termelétricas, uma vez que a capacidade das hidrelétricas venezuelanas está esgotada, além de uma campanha nacional contra o desperdício.
“A energia na Venezuela é muito barata, a gasolina é quase grátis. O governo não tem políticas que controlem o consumo. O que aparece nos discursos mas não é uma política sistemática”, disse. “Isso não muda de um dia para o outro, mas acredito que serve de alarme para a sociedade e mostra que o padrão petroleiro de consumo não é sustentável.”
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