Atualizada em 08/07 às 12h18
“Pedimos às partes que restrinjam as ações de todo tipo que causam vítimas e sofrimento na Colômbia”. Desta forma, os países garantidores dos diálogos de paz realizados entre o governo colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) — Cuba, Noruega, Venezuela e Chile — pediram ao presidente Juan Manuel Santos e à guerrilha a “desescalada urgente do conflito armado”, o cessar-fogo bilateral e que sejam tomadas medidas de “construção de confiança” entre as partes.
O comunicado foi divulgado nesta terça-feira (07/07) em meio à escalada da violência no país ocorrida após a retomada dos confrontos no final de maio, em represália a um bombardeio do Exército que matou 27 insurgentes. Os garantidores ressaltaram, no entanto, que seguirão contribuindo para o avanço das conversas e a adoção, em curto prazo, de um acordo definitivo para o fim do conflito e construção de uma paz “estável e duradoura” na Colômbia.
Agência Efe
Noruga e Cuba são os países garantidores do processo, Venezuela e Chile, colaboradores
De acordo com dados do Centro de Recursos para a Análise de Conflitos da Colômbia, junho foi o mês mais violento desde que foram iniciados os diálogos de paz. No total, cinco militares, nove policiais e dois civis morreram nas 83 ações armadas realizadas pelas FARC, que também tiveram como alvo infraestruturas econômicas e energéticas. Já o Exército realizou 17 ações, representando um aumento de 79% na comparação com o mesmo período do ano passado.
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Conversas
Nesta terça (07/07), no início de uma nova rodada de negociações, as FARC garantiram que “desejam pactuar a paz” com o governo e criticaram as declarações do negociador de Bogotá, Humberto de la Calle, que no último final de semana afirmou que o processo de paz está em seu “pior momento”.
“Ninguém pode ocultar que temos três acordos parciais, que avançamos na redação de um novo sobre vítimas, que a retirada de artefatos explosivos dos territórios está em curso e que as discussões na subcomissão técnica vão por um bom caminho”, afirmou o chefe da delegação das FARC, Iván Márquez. Ele também agradeceu o pedido feito pelos países garantidores.
Desde o início dos diálogos, há mais de dois anos e meio, as FARC vêm defendendo a necessidade de que seja pactuado um cessar-fogo bilateral pelas partes. O assunto chegou a ser cogitado pelo governo no início do ano, mas não avançou.
Agência Efe
Iván Márquez criticou governo e pediu reconhecimento dos avanços obtidos
Mas a ideia voltou à tona na segunda-feira (06/07), quando de la Calle afirmou, em entrevista a meios de comunicação colombianos, que o governo está disposto “a um cessar-fogo, ainda que antes da assinatura de um acordo, na medida em que seja sério, bilateral, definitivo e verificável”.
Ao anunciar uma mudança na alta cúpula do Exército nesta terça (07/07), no entanto, o presidente Santos foi incisivo ao pedir que as Forças Armadas mantenham a ofensiva contra as FARC, descartando um cessar-fogo em meio às negociações.
Pessimismo
A declaração de la Calle encontra eco na sociedade colombiana, que apesar de aprovar os diálogos de paz, considera que não será firmado um acordo final com a guerrilha.
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Pesquisa divulgada na segunda (06/07) pela empresa Datexco revela que apenas 25% dos colombianos consideram que se chegará ao fim do conflito, enquanto 80% disseram considerar que as FARC não têm intenção de pactuar a paz.
Da mesma forma, a avaliação de como o presidente Santos está conduzindo o processo alcançou a menor margem: 78% desaprovam a condução e apenas 21% a consideram correta. O mandatário foi reeleito no ano passado, tendo como uma das principais promessas a continuidade dos diálogos com os insurgentes.
Retirada de minas terrestres
Por outro lado, como fruto direto dos diálogos de Havana, guerrilheiros das FARC chegaram nesta terça (07/07)em El Orejón, no município de Briceño, a 172 quilômetros de Bogotá. Eles irão colaborar com o Exército, mostrando a localização das minas terrestres, espalhadas ao longo de 12 quilômetros quadrados. A ação no local é considerada piloto para a aplicação em outras regiões.
Reprodução/Mine Free World Foundation
Minas e artefatos explosivos fizeram mais de 11 mil vítimas, entre mortos e feridos, na Colômbia desde 1990
Os insurgentes são acompanhados por cubanos e noruegueses e permanecerão no local por dois meses no marco do projeto de retirada humanitária das minas terrestres, que somente em 2014 fizeram 48 vítimas. No total, 688 municípios reportaram acidentes com minas terrestres.
“O trabalho de limpeza facilitará a locomoção da comunidade em risco e permitirá a restauração dos direitos das comunidades em termos de mobilidade, entretenimento, acesso a vias terrestres e uso produtivo da terra”, informou um comunicado conjunto do governo e das FARC, divulgado há um mês.