O envolvimento da diplomacia brasileira na crise política de Honduras, oferecendo asilo ao presidente deposto Manuel Zelaya na embaixada em Tegucigalpa, divide a opinião de políticos e diplomatas.
A maioria defende que o governo brasileiro agiu corretamente ao ajudar no regresso de um presidente eleito legitimamente e expulso por meio de um golpe de Estado. Alguns criticam a intervenção num assunto de outro país e alertam para a forma como a situação deve ser conduzida daqui para a frente. Mas até na oposição há quem considere equivocada a reação do governo golpista, que cercou a embaixada, cortou a luz elétrica, dispersou manifestantes à força e já provocou a morte de duas pessoas.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que a concessão de abrigo a Zelaya é uma questão humanitária, o que não significa que o governo esteja interferindo em Honduras. “Isso é direito humano elementar”, afirmou a jornalistas.
Ela negou que o Brasil tenha participado de qualquer plano para acobertar a entrada de Zelaya em território hondurenho, de onde ele foi expulso em junho. “Só o Itamaraty pode responder de forma mais completa. O ministro Celso Amorim [Relações Exteriores] foi claro e taxativo: o governo brasileiro não fez isso”.
O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, define o asilo como uma forma de apoiar a reconstituição do presidente deposto e o restabelecimento da democracia no país. “A posição do Brasil é de reconhecer o Zelaya como o único governo legítimo de Honduras”, afirmou ao Opera Mundi.
O senador oposicionista Heráclito Fortes (DEM-PI) acredita que o Brasil agiu “desrespeitando a soberania de Honduras”. Também destacou que o caso de Zelaya é diferente de um asilo comum, uma vez que ele não estava fugindo de um país porque sua vida estava ameaçada, mas sim entrando no país.
O ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos Rubens Barbosa avalia que a concessão de asilo político não é problemática, nem fere a soberania do governo golpista hondurenho. Para ele, o preocupa é o fato de Zelaya estar fazendo “comício em território estrangeiro no próprio país”.
O diplomata se refere ao fato de o presidente deposto convocar a população para sair das regiões mais afastadas em direção ao centro da capital. Ele acredita que, de agora em diante, o Brasil está “atado” por conta da inflexibilidade do governo de Roberto Micheletti, que pode não aceitar a volta de Zelaya. “O Brasil vai acabar ficando com o abacaxi, vai precisar oferecer o político, já que ele não pode sair na rua para não ser preso”.
“O Brasil vai ter que manter esse Zelaya na embaixada através da OEA [Organização dos Estados Americanos] e da Costa Rica, já que o presidente [Oscar Árias] está nas negociações, e tentar mediar”, disse ao Opera Mundi.
Já o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), membro do Parlamento do Mercosul, acredita que o fator mais grave da situação seja o fato da embaixada brasileira estar exposta a sanções do governo Micheletti, o que considera uma “grave agressão ao direito internacional”.
“Os aventureiros golpistas devem respeitar a embaixada, que é um território brasileiro, sob pena de oferecerem pretexto para uma intervenção militar internacional no país”, afirmou o deputado, em entrevista concedida desde Montevidéu, no Uruguai.
Cerco
A situação na embaixada é “tensa”, mas se acalmou um pouco durante o dia, conforme relatou o encarregado de negócios brasileiros em Honduras, Francisco Catunda Rezende, em entrevista à TV Globo. Ele contou também que os funcionários estão sendo dispensados e que a representação está praticamente fechada, apesar de haver cerca de 50 pessoas dentro do prédio.
A embaixada conta atualmente com doze funcionários, sendo quatro de Brasília e os demais, contratados locais. Os outros ocupantes são apoiadores de Zelaya. Segundo Catunda Rezende, que está acompanhando o presidente deposto, a embaixada norte-americana vai dar apoio aos funcionários.
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que convocou uma reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, disse que a embaixada é território brasileiro e não poderia estar sendo cercada e sofrendo cortes de energia.
“É uma coisa grave e um risco grande que o Brasil está correndo. Pelo que sabemos, são cerca de 70 pessoas que estão na embaixada e não tem nem o embaixador lá porque o Brasil retirou. O Brasil dar asilo é tradição e o assunto está na OEA”, disse segundo o G1.
De Nova York, onde chegou para a Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao governo golpista que respeite a integridade das instituições diplomáticas brasileiras em Honduras.
Surpresa
Assim como o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o embaixador brasileiro em Honduras, Brian Michael Neele, afirmou que a chegada de Zelaya ao país ontem foi “uma completa surpresa”. Ele está no Brasil desde o golpe de junho por ordem do Itamaraty e permanecerá até que a crise política seja resolvida.
Ele disse também que não havia nenhuma informação sobre a viagem, nem sobre a chegada de Zelaya à capital hondurenha.
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