Francisco Madariaga Quintela é o 101º argentino sequestrado durante a última ditadura no país (1976-1983) a encontrar a verdadeira identidade. O processo de investigação, feito pela associação das Avós da Praça de Maio, que há 32 anos busca revelar a real origem de centenas de crianças seqüestradas nos anos de repressão, provou que o rapaz é filho de Silvia Mónica Quintela, detida em 1977, grávida de quatro meses. O pai, Abel Pedro Madariaga, voltou do exílio em 1983 e desde então, não parou de procurar o filho – ele é secretário na associação das Avós.
Leo la Valle/Efe (23/02/2010)
Pai e filho, reunidos após 32 anos, falam a jornalistas na sede das Avós da Praça de Maio, em Buenos Aires
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Silvia Mónica Quintela foi levada da estação de trens em Flórida, região norte da província de Buenos Aires e mantida na prisão clandestina conhecida como “El Campito”, que funcionava em Campo de Mayo, segundo o jornal argentino Crítica Digital. Em julho daquele ano, ela, médica formada, deu a luz Francisco no Hospital Militar de Campo de Mayo, e nunca mais voltou a vê-lo.
Os responsáveis pela prisão da mãe, Reynaldo Benito Bignone e Santiago
Riveros, foram julgados pelos crimes cometidos em “El Campito”, entre
eles sequestro, torturas e o assassinato de Silvia.
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O pai conseguiu na época asilo político no México e Suécia. Em 1983, ao voltar para a Argentina após a restauração da democracia, Madariaga começou a procurar o filho e passou a integrar a associação. Na última sexta-feira (19), houve o reencontro com o filho, hoje com 32 anos.
“Foram 32 anos de angústia, de maus-tratos e violência. É uma história obscura”, afirmou Madariaga ao jornal Página 12 ao comentar os anos de ditadura. Francisco, por sua vez, disse que durante esses anos viveu “como um fantasma”, com “um vazio interior inexplicável”.
Madariaga e Silvia eram militantes da extinta organização guerrilheira Montoneros, que empreendeu uma luta armada, na forma de guerrilha urbana, entre 1970 e 1979.
Sequestros
Por iniciativa das Avós da Praça de Maio, cerca de 3,3 mil jovens argentinos apelaram junto à Conadi (Comissão Nacional pelo Direito a Identidade) para investigar suas origens verdadeiras.
Centenas de mulheres grávidas, sequestradas e detidas durante a ditadura deram à luz em maternidades clandestinas antes de desaparecerem. Os bebês eram roubados e, na maioria dos casos, entregues a repressores ou a cúmplices para a adoção ilegal. Estima-se que cerca de 500 bebês foram roubados dos pais durante a ditadura militar, e 100 pessoas já recuperaram a identidade graças ao trabalho da associação.
Segundo dados oficiais, cerca de 18 mil pessoas desapareceram durante a última ditadura na Argentina, mas entidades de direitos humanos afirmam que esse número pode chegar a 30 mil.
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