A menos de 24 horas das eleições presidenciais na Bielorrússia, no domingo (19/12), alguns grupos sociais e partidos políticos do país organizam uma manifestação contra o resultado – que consideram já evidente. Embora pesquisas independentes apontem que o atual presidente, Aliaksandr Lukachenka, tem menos de 30% das intenções de votos, sua vitória é dada como certa por analistas políticos e por boa parte da população.
Lukachenka está no poder há 14 anos e concorre ao quarto mandato seguido. Pela primeira vez na história recente do país – que ficou independente da União Soviética em 1991 –, a campanha não está marcada pela polarização. Nas eleições anteriores, Lukachenka disputava com apenas um candidato. Desta vez, outros nove políticos estão na corrida pela presidência, mas, segundo pesquisas, sem chances reais de vitória.
“A oposição é como uma boy band. As vozes são diferentes, mas eles cantam a mesma música”, comparou, com ironia, o músico Liavon Volski, em entrevista ao Opera Mundi.
Efe
Pela primeira vez em vários anos, a oposição a Lukachenka não está unida em torno de um candidato
Nas ruas de Minsk, a oposição espalha clima de pessimismo de que a eleição será um “teatro” para reeleger o Batka (“pai” em bielorruso), como a mídia oposicionista apelidou o presidente.
“Nestas eleições todos são atores. O resultado é a ausência de pensamento crítico.”, diz a filósofa Olga Slizanova.
Protesto na praça
Líderes da oposição e ONGs tanto pró-Kremlin quanto pró-União Europeia fizeram um apelo à população e esperam reunir entre 50 mil e 100 mil cidadãos na praça Kastritchnitskaya, logo após o encerramento da votação, às 20h (15h, em Brasília).
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O presidente Lukachenka parece não se preocupar com críticas e acusações. Em entrevista ao jornal francês Le Figaro, Lukachenka acusou dois candidatos da oposição, Vladimir Nekliaev e Andrei Sannikov, de serem financiados por grupos estrangeiros, como já ocorrera outras vezes na Bielorrússia e em outros países do Leste Europeu.
“Não importa o que vocês façam, vocês não vão conseguir nada. Aqueles que estão sonhando com uma revolução precisam se acalmar. Nós já atingimos a cota de revoluções no último século”, declarou, em referência às chamadas “revoluções coloridas”, golpes promovidos por empresários e setores civis contra governos anti-liberais na antiga esfera socialista.
Propostas da oposição
Sannikov defende a adesão da Bielorrússia à União Europeia e é um dos fundadores da página Charter 97, tradicional site de oposição (em referência ao Charter 77, grupo de dissidentes da antiga Tchecoslováquia na época do socialismo). Já o candidato Nekliav é considerado o principal líder da oposição, é supostamente financiado pela Rússia e, segundo alguns analistas, pela diáspora bielorrussa no exterior.
Esta semana, Nekliaev destacou a importância dos protestos de domingo “para que os observadores internacionais vejam que a contagem de votos é fraudulenta”, acusou. Segundo ele, há “a necessidade de uma outra eleição no dia 19 de março, sem a participação de Lukachenka”.
Esquema de fraude
Nesta semana, o website ZaPraudu (“pela verdade”) – ligado à oposição – publicou relato atribuído a um coordenador não-identificado de uma seção eleitoral na região de Mahilyou, que “revelaria” técnicas que seriam utilizadas para garantir a vitória de Lukachenka. Segundo o site, antes das eleições são incluídos nas listas de determinadas seções os nomes de eleitores de outras zonas.
Estes “novos eleitores”, sempre de acordo com o site oposicionista, chegariam a representar 12% da lista total e seriam geralmente professores ou funcionários públicos. Com um mesário que faria parte do esquema, o “novo eleitor” poderia votar várias vezes, só assinando a lista quando algum observador se aproximasse.
A Bielorrúsia é um tradicional aliado da Rússia, mas a relação entre os dois países parece ter sofrido um desgaste nos últimos anos devido a desavenças sobre o gás natural. O território bielorrusso é passagem para os dutos de petróleo e gás russo, ocupando uma posição privilegiada na geoestratégia do comércio do produto. Em troca, Minsk compra com desconto o gás do vizinho russo. Mas, recentemente, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, escreveu em seu blog pessoal que “os subsídios ao aliado histórico estão chegando ao fim”.
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