O debate em torno da utilização de bases da Colômbia pelos Estados Unidos teve nova participação do Brasil, que chegou a ser apontado pela imprensa colombiana como um possível mediador para a crise que se instalou entre a Venezuela e o país de Álvaro Uribe. As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a importância de que se explique na Unasul o conteúdo do acordo de cooperação militar entre a Colômbia e os Estados Unidos foram ratificadas ontem (2) pelo chanceler Celso Amorim, que em declarações a Folha de S. Paulo destacou que é necessário que os países vizinhos recebam garantias formais de como as bases serão usadas.
Amorim chegou a citar o escrito brasileiro Millor Fernandes para explicar e justificar a posição de Hugo Chávez no conflito: “O fato de eu ser paranóico não significa que não esteja sendo perseguido”.
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“É um fato novo. Se fosse a mesma coisa que já tinham, não precisavam fazer um novo acordo, não é? A impressão é que as bases servem para operação de aviões com raio de ação muito grande. Tudo isso feito assim, sem que tenha havido um processo, sem nos consultar. A Colômbia é um país soberano e tem o direito de fazer o que quiser no território dela, mas é uma presença militar importante na nossa vizinhança. Você pode dizer que já tinha em Manta [no Equador]. Ok, mas, se mudou, então há uma coisa nova, e nós queremos conhecer melhor”, disse Amorim.
Quanto às acusações da Colômbia de que armas vendidas pela Suécia à Venezuela nos anos 1980 foram parar nas mãos das Farc, Amorim procurou minimizar a situação. “Não sei quando ocorreu, nem se ocorreu, e, se ocorreu, se foi antes ou depois do Chávez. E se foram roubadas? De qualquer maneira, vamos e venhamos, é só um episódio. Muitas armas chegam lá, nas Farc, como chegam nas favelas do Rio. Esse episódio é uma coisa desse tamanhinho comparado com as bases militares”.
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Posição de Uribe
Para o ex-chanceler colombiano Augusto Ramírez Ocampo, em entrevista ao jornal colombiano El Tiempo, as declarações de Amorim demonstram que é necessário que o presidente Uribe repense sua posição de não comparecer à reunião da Unasul, em Quito.
“Lula já não pode mais ser o mediador como em outras ocasiões, nas quais teve muito êxito. A declaração que deu com a presidente Michelle Bachelet evidencia que estão mais próximos da posição de Chávez do que da Colômbia”, afirmou Ramírez.
Ambos os presidentes propuseram na quinta-feira (30), em São Paulo, que o encontro de chefes de Estado da Unasul, no próximo dia 10 de agosto, também se converta em um evento do Conselho de Segurança do organismo, para o qual já foram convocados os ministros da Defesa de cada país.
A este fato se soma a advertência de Chávez sobre a importância que se dará ao tema do acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos. “A Colômbia é, lamentavelmente, a principal estratégia de contenção ‘yanqui’ na América do Sul e também, sua base de operações. De fato, as novas bases constituem um perigo real e concreto contra a soberania e estabilidade da região”, disse o presidente venezuelano em artigo publicado ontem.
Por isso, Ramírez Ocampo acredita que Uribe deve ir ao encontro da Unasul, para cumprir papel similar ao desempenhado na cúpula do Grupo do Rio, na República Dominicana, dias após o ataque em solo equatoriano em 2008, que vitimou Raúl Reyes.
Visita de Fraser
A polêmica por se incrementar pela chegada a Colômbia do chefe do Comando do Sul dos Estados Unidos, general Douglas Fraser, que encabeçará amanhã (4) um encontro com comandantes das Forças Militares da América Latina, em Cartagena.
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