O futuro político do diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, apontado como o membro do Partido Socialista francês com maiores chances de derrotar Nicolas Sarkozy nas eleições presidenciais marcadas para abril de 2012, está em sério risco. Essa conclusão é unânime entre os principais jornais e revistas franceses que circularam nesta segunda-feira (16/05). O caso ocupa toda a atenção da mídia local, norte-americana e europeia, que demonstra preocupação com as consequências econômicas que o episódio poderá trazer.
Pesquisa Opera Mundi: envie suas sugestões e críticas ao site
A imagem de DSK algemado e escoltado por dois policiais em Nova York, é difundida em todos os principais sites europeus de notícias. Através de redes sociais, comentários online nos jornais e depoimentos às estações de rádio, os franceses se dizem “chocados”. Muitos militantes socialistas, em depoimentos a rádios e nas mídias sociais, denunciam a formação de um complô para arruinar a imagem de Strauss-Kahn e fortalecer Sarkozy.
As acusações contra Strauss-Kahn devem mudar o cenário da corrida presidencial francesa. Em recente pesquisa, divulgada neste domingo pelo Journal de Dimanche, em consultas feitas antes de o escândalo vir à tona, DSK liderava a corrida presidencial com 26% das intenções de voto contra 23% de Sarkozy.
Em uma enquete realizada pelo site do jornal Le Figaro, 75% dos participantes acreditam que DSK prejudicou a imagem da França, até as 18h30 no horário local.
Leia mais:
Justiça de Nova York nega pagamento de fiança a Strauss-Khan
Diretor do FMI, Strauss-Kahn, é detido por suspeita de abuso sexual
Para FMI, há oportunidade de crescimento econômico na instabilidade do Oriente Médio
FMI libera US$ 13 milhões em ajuda para o Haiti
UE e FMI recomendam a Portugal privatizar, cortar gastos e liberalizar
UE, BCE e FMI inspecionam em Atenas novo pacote de medidas de austeridade
Agora, todos os veículos já começaram a montar os possíveis futuros cenários da corrida presidencial sem a presença do economista.
Até a tarde desta segunda-feira (16/05), o único veículo impresso de grande circulação a afirmar que a candidatura de Dominique Strauss-Kahn ao Palácio do Eliseu é uma hipótese já descartada é a revista L’Express. Seu diretor de redação, Christophe Barbier, em um quadro no qual respondeu perguntas dos leitores, afirmou que “embora ele tenha a presunção de inocência, está eliminado da disputa interna” de seu partido, o PS (Partido Socialista). Em sua opinião, até o momento, só há duas vítimas no caso: a camareira, “que também tem presunção de inocência, já que há muitos dizendo que ela está mentindo sem ao menos ouvi-la” e a esposa de DSK, a jornalista Anne Sinclair.
O Le Figaro, de tendência à direita, afirma que a pré-candidatura de DSK está “seriamente comprometida”. Já o Le Monde só considera a possibilidade da “morte política” do economista caso ele seja considerado culpado pela Justiça. A comentarista política Françoise Fressoz afirma que tudo dependerá da qualidade de seus argumentos e das decisões da justiça norte-americana. “Ele precisa provar rapidamente que as acusações contra ele são falsas. Se sua defesa demorar semanas, talvez meses, ele terá muita dificuldade para se apresentar às primárias”.
Socialistas
Para a mídia francesa, a disputa pelo posto de candidato à presidência do “partido da esquerda” francesa praticamente recomeçou do zero. O Le Monde aponta o ex-secretário-geral do PS, François Hollande, como o principal beneficiado eleitoralmente pelo episódio internamente, já que ele partilha da mesma doutrina econômica de Strauss-Kahn.
Hollande disse estar em “choque” mas afirmou que é necessária muita atenção para comentar o caso,e que ainda não há provas sobre a culpa de seu colega de partido. Até o momento, ele é o quarto nome nas preferências do partido, segundo pesquisas.
Sua esposa, Ségolène Royal, também pré-candidata, disse que sua principal preocupação agora é “com a família de Strauss-Kahn”. “Seria indecente comentar agora sobre as conseqüências (desse caso) para a vida política francesa”, afirmou Ségolène, derrotada por Sarkozy no segundo turno da última eleição presidencial, em 2007.
A líder do PS, Martine Aubry, com maior preferência entre os militantes mais à esquerda do PS, adotou publicamente uma posição de apoio ao colega. Ela criticou os procedimentos da justiça norte-americana: “Estou impressionada com as imagens que vi esta manhã”, afirmou Aubry à imprensa na entrada da sede parisiense do PS. “Felizmente estamos em um país no qual, graças à presunção de inocência, não se pode mostrar homens e mulheres algemados nesta etapa do procedimento. É profundamente humilhante. É realmente comovente”, afirmou a líder socialista. Ela afirmou que seu partido está unido “ao redor do que é essencial: saber a verdade”.
Ex-ministra do Trabalho e atual prefeita de Lille, Aubry era apontada como a maior concorrente de DSK no partido. O Le Figaro afirma que ela passa a contar com o apoio de outro nome de peso do PS, o ex-premiê Laurent Fabius, que até então, apoiava o Strauss-Kahn. Tanto ela quanto Ségolène já estariam planejando uma mudança radical em sua estratégia pré-eleitoral.
Outra figura importante do PS, o prefeito de Paris, Bertand Delanoë, manifestou estar triste, com pena e, acima de tudo, surpreso em relação à prisão de Strauss-Kahn. “Devemos agora escutá-lo, ouvir sua versão. Peço que respeitem todas as pessoas envolvidas”. Ao Figaro, Delanoë admite que, “somente em caso de DSK não poder se candidatar”, ele não excluiria a possibilidade de também concorrer às primárias.
Segundo a Agência Lusa, o PS já anunciou que as datas das primárias serão mantidas, e que o “caso DSK” é um fato isolado”. “Apelo aos socialistas para que mantenham o rumo para 2012. As primárias vão se realizar nas datas previstas”, disse à imprensa o eurodeputado e dirigente do partido Harlem Désir. O calendário das primárias prevê a entrega de candidaturas entre 28 de junho e 13 de julho e a designação do candidato entre 9 e 16 de outubro. “O PS não está nem decapitado nem enfraquecido. Tem uma líder, Martine Aubry. E terá um candidato que o representará na eleição presidencial”, disse. A imprensa francesa considera esse tempo muito curto para que Strauss-Kahn consiga provar sua inocência e se livrar do processo judicial.
Direita
Jean François-Copé, secretário-geral da UMP (União pelo Movimento Popular), de direita, partido do presidente Nicolas Sarkozy, recomendou o silêncio a seus companheiros de partido. “Desde domingo, entrei em contato com uma série de colegas na direção da UMP para pedir que tenham muita prudência (para comentar o caso), e até mesmo que permaneçam em silêncio”, declarou o deputado nesta segunda-feira (16/05). “Não podemos dar a impressão de comemorarmos ou de nos precipitarmos”, esclareceu ao Le Monde uma fonte da alta direção do partido. Essa seria posição teria sido recomendada também pelo próprio Sarkozy.
Entretanto, alguns opositores do socialista não se seguraram, e descumpriram a orientação. “É terrível, é humilhante para a França”, diz o deputado Bernard Debré. “DSK é JR (personagem da mini-série norte-americana Dallas) (…) Ele está fora da disputa antes mesmo dela começar”, disse o também deputado Lionnel Lucca.
O futuro do FMI
Em um chat organizado pelo jornal Le Monde, o jornalista especialista em economia Alain Faujas, afirmou que DSK possuía enorme credibilidade no meio econômico e político internacional. “Ele modificou profundamente o espírito e a maneira dos programas do FMI ao preservar as instituições sociais e o poder de compra das classes menos abastadas, ao contrário do que se fazia antes dele”. É quase certo, em sua opinião, que ele não permaneça no cargo e que, dessa vez, o fundo poderá, pela primeira vez, não estar no comando de um europeu. “Os EUA tentarão colocar um emergente que não seja muito hostil a eles. Mas a UE tentará manter seu posto Será uma dura disputa”.
Para Faujas, a única hipótese de ser um norte-americano seria se os EUA renunciassem à presidência do Banco Mundial. Europa e EUA mantêm o controle dessas duas instituições desde o período pós-guerra.
Faujas também considera que o episódio de Strauss-Kahn é um duro golpe para a Grécia, já que o francês tinha habilidade política e pedagogia suficiente para convencer a Alemanha que a ajuda aos gregos era necessária. Os jornais gregos confirmam a preocupação: “Uma camareira bloqueia a Grécia”, diz a manchete do jornal Elefthérotypia, de esquerda. Já o liberal Kathimerini teve como título na primeira página “A Grécia na incerteza”.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL