“Esperamos que todas as partes interessadas mantenham a cabeça fria e respondam de maneira comedida ao problema”.
A declaração, de hoje (30), veio do tenente-general chinês Ma Xiutian e segue a linha do discurso da China até agora. O país pede calma nas negociações e uma desnuclearização da aliada Coreia do Norte. Pedido que tem sido ignorado. Desde segunda-feira, o regime de Pyongyang já realizou um teste nuclear, lançou seis mísseis de curto alcançe e ameaçou atacar a Coreia do Sul.
Dezenas de milhares de norte-coreanos se reúnem em estádio de Pyongyang para celebrar o êxito do segundo teste nuclear empreendido pelo governo – KCNA/EFE (26/05/2009)
Para Yu Tiejin, professor de Relações Internacionais e secretário geral do Centro Internacional de Estudos Estratégicos da Universidade de Pequim, a mais tradicional instituição de ensino da China, é preciso manter a calma na hora das negociações.
“Todos os países já estão fartos com as provocações da Coreia do Norte, mas ninguém sabe ao certo como agir. O Japão está frustrado com a resposta norte-americana e deve investir mais em armamento próprio. A Coreia do Sul é um refém. Qualquer conflito com o vizinho seria um desastre para o país. A China está desapontada. Então nossa reação até agora é: ‘vamos acalmar os ânimos e esperar’”.
Enquanto a comunidade internacional busca uma solução, Pequim tem ganhado importância como intermediário diplomático. A China é a maior defensora internacional da Coreia do Norte e grande fornecedora de alimentos, armas e combustível consumido pelo país. Dificilmente o regime vizinho sobreviveria sem a ajuda chinesa.
Conflito não interessa à China
Mas não é tão simples assim para os chineses tomarem uma posição mais firme. Em reuniões do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), a China, membro permanente junto com Estados Unidos, Reino Unido, França e Rússia, tem barrado sanções mais duras contra a Coreia do Norte.
O fim do regime de Kim Jong-Il poderia ser desastroso para o gigante asiático. O colapso traria para território chinês milhares de refugiados norte-coreanos. Além de abrir espaço para a presença de tropas americanas na Coreia do Norte, que divide fronteira com o país.
Por outro lado, defender Pyongyang levaria a região a uma corrida armamentista, já que Coreia do Sul e Japão contam com a proteção dos Estados Unidos.
Ativistas sul-coreanos queimam cartazes com o retrato do líder norte-coreano Kim Jon Il, em Seul – Jeon Heon-Kyun/EFE (26/05/2009)
Consenso entre especialistas ouvidos pelo Opera Mundi, um conflito regional não interessa à China que se viu em uma sinuca-de-bico diplomática.
“Não há a menor dúvida de que a China não tem interesse em um conflito regional. Considerando a atual situação da Coreia do Norte é, em verdade, difícil até para a China intermediar esse conflito. Claro que não queremos ficar parados. Mas nossa influência sob a Coreia do Norte é menor que a esperada”, diz Tiejin.
Para ele, a estabilidade da região parece ser a alternativa mais racional para o país.
Para o chinês Ruan Yun, cientista político e PhD em relações internacionais pela Universidade de Kyoto, neste momento o gigante asiático busca o desenvolvimento de sua própria economia e não desavenças. “É claro que a China tem uma responsabilidade de liderança a ser exercida no Leste Asiático, mas é preciso primeiro fortalecer o país. Não queremos um conflito com quem quer que seja”.
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As opções de Obama
Se as opções chinesas já não são muitas, as do presidente norte-americano, Barack Obama, quase não existem. Descartada a opção militar, aos Estados Unidos restam somente pressionar o regime de Pyongyang. Para isso, o melhor seria convencer os chineses a jogarem no mesmo time. Tarefa não tão fácil assim. Sem Olimpíada pela frente e com uma economia razoavelmente equilibrada, o governo Obama não tem muitos meios para exercer pressão sob o governo chinês.
Para Tiejin, o que falta nesta relação é confiança. Se Washington quer negociar com Pequim, vai ter que ser convincente e tentar resolver as desavenças bilaterais primeiro.
“A relação atual sino-americana é boa e muito importante. Mas é preciso lembrar que ainda existe uma certa tensão entre os dois gigantes: sistemas políticos [distintos], a venda de armamentos militares americanos para Taiwan, a questão do Tibete, direitos humanos etc. O presidente Obama, claro, quer ter o apoio da China. Mas os líderes chineses devem uma resposta às massas do país. Por quê? Por que deveríamos apoiar os Estados Unidos, se o país ainda não é um amigo próximo da China?”, questiona Tiejin.
Para o pesquisador, que já passou por Harvard e Stanford antes de chegar à Universidade de Pequim, a Coreia do Norte simplesmente não tem ouvido A China. E não existe interesse em nenhuma das partes, Estados Unidos ou China, de usar Taiwan, em especial, como moeda de troca.
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A situação regional
Para os analistas ouvidos, a Coreia do Norte quer com suas ameaças apenas demonstrar força em troca de um papel de destaque no cenário internacional.
“Eu acredito que essa situação tensa é muito mais política e psicológica do que econômica. O que a Coreia do Norte está fazendo não beneficia sua economia. O mesmo pode-se dizer em relação aos outros países envolvidos”, diz Tiejin.
Japão e Coreia do Sul são aliados dos Estados Unidos na região. Eles querem segurança e podem se armar para garantir isso. Japão e China não têm boas relações históricas.
Para a China, o que mais parece interessar no momento é esfriar a situação e conter um conflito. Se ficar do lado da Coreia do Norte, corre o risco de despertar uma corrida bélica. Se se vira contra Pyongyang, desmorona o sistema do país, o que pode trazer uma massa de refugiados para seu próprio território.
“A China busca estabilidade e cooperação em suas relações com seus vizinhos. Nosso princípio é tornar os países que nos cercam lugares seguros, amigáveis e ricos. Isso nos dá uma certa estabilidade regional necessária”, diz Tiejin.
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