A reunião de ministros de Relações Exteriores e de Defesa da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) terminou sem consenso depois que a Colômbia rejeitou a proposta de que o bloco monitore as sete bases militares que serão utilizadas pelos Estados Unidos em seu território. Bogotá também se negou a revelar detalhes do acordo, justificando que ainda deve passar por instâncias internas do país e de Washington, que também não deu indícios de que irá abrir o conteúdo do convênio para o conhecimento dos sul-americanos.
A apresentação do documento do acordo e o acesso de membros do Conselho de Defesa Sul-Americano às bases colombianas que serão usadas pelos Estados Unidos foi um pedido dos presidentes da Unasul durante cúpula realizada no mês passado em Bariloche, na Argentina.
“Se vocês estão dizendo que nos dão as garantias, por que não as escrevem?”, questionou o chanceler brasileiro Celso Amorim durante o debate com os demais chanceleres.
O anúncio feito no domingo (13) pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, de que a Rússia concordou em emprestar mais de 2 bilhões de dólares para a compra de armas aumentou a temperatura da discussão.
“Nós apresentaremos o acordo com os Estados Unidos uma vez que esteja firmado, mas que seja igual para todos. Que se apresentem convênios de compra de armamentos, transferência de tecnologia etc. Inclusive os acordos com terceiros países”, disse ontem (15) o ministro de Defesa colombiano, Gabriel Silva Luján, segundo a BBC Brasil (na foto abaixo, de gravata vermelha, com o ministro das Relações Exteriores colombiano, Jaime Bermudez).
Fotos: José Jácome/EFE (15/09/09)
O ministro de Defesa e vice-presidente venezuelano, Ramón Carrizález, declarou que a recusa de Bogotá em mostrar o acordo que será firmado com os Estados Unidos “causa preocupação”.
“Não vimos nem letras grandes nem letras pequenas, e isso naturalmente gera preocupação sobre as verdadeiras cláusulas desse acordo”, disse Carrizalez. “A Colômbia se nega a entregar a informação que daria uma linha de transparência e depois da transparência é que se podem gerar mecanismos de confiança.”
Carrizáles afirmou ainda que seu governo está disposto a revelar aos demais países da região detalhes do acordo recém-firmado com a Rússia.
“Não temos nenhum impedimento em mostrar à Unasul todos os detalhes, porque a confiança começa pela transparência”, afirmou. Em entrevista coletiva depois da reunião, o chanceler venezuelano, Nicolas Maduro, afirmou que “a Venezuela está se equipando para garantir a paz e para defender nosso petróleo, nosso gás”.
Ramón Carrizales e Nicolás Maduro falam à imprensa, em Quito
O governo venezuelano anunciou a compra de 92 tanques e um sistema de lançamento de foguetes S-300 da Rússia.
“O mais importante para a Colômbia é que a agenda da Unasul não se restrinja em torno de um só tema”, afirmou o chanceler ao jornal El Tiempo. Segundo o periódico colombiano, a temperatura dos debates – principalmente com a Venezuela – chegou a tal ponto que a delegação liderada por Luján cogitou abandonar a cúpula e a Unasul, caso o ambiente não ficasse equilibrado.
No início, a delegação venezuelana pleiteou a garantia colombiana de que não atacaria terceiros a partir das novas bases.
Próxima reunião
Apesar do sentimento geral de fracasso, o Equador – que ocupa a presidência da Unasul – destacou avanços de 70% na análise do documento proposto sobre medidas de confiança. “Na concretização destas medidas de confiança, existem dificuldades”, admitiu o chanceler equatoriano, Falder Falconí.
Falconí disse que a Unasul, por enquanto, não se propôs a convidar ao governo de Washington para uma reunião com a América do Sul, embora não descartou “em algum momento” fazê-lo para “aprofundar” nos detalhes do pacto com a Colômbia. Segundo ele, a América do Sul deve seguir na briga para criar seus instrumentos de integração, que em matéria de Defesa e Segurança, se sustenta sobre as bases de mecanismos de confiança comunitários.
Por isso, a Presidência da Unasul convocará uma nova reunião de seu Conselho de Defesa para avançar na discussão.
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