Os números são de 17 de outubro: 42 assassinados, cinco sequestrados, 21 sobreviventes de atentados, além de 76 ameaçados de morte. Não, não são vítimas do conflito na Líbia ou da guerra civil da Somália. São candidatos a prefeito e governador na Colômbia.
É sob esse clima de insegurança generalizada, que tem se tornado comum nos últimos pleitos, que os colombianos vão às urnas neste domingo (30/10) para as eleições regionais. E se a ameaça de grupos armados —guerrilheiros de esquerda e paramilitares de direita— dá a impressão de uma situação caótica, o quadro político da Colômbia não deixa a realidade muito mais animadora.
O maior exemplo é a capital, Bogotá. A cidade está em obras desde a posse do ex-prefeito Samuel Moreno (Pólo Democrático), em 2007. Moreno tinha um plano ambicioso: transformar a cidade, ampliar os trechos do Transmilenio (o transporte coletivo de Bogotá) e construir o metrô, tudo em quatro anos. Hoje, Bogotá ainda está com as ruas principais destruídas. Do metrô, nada se sabe. O ex-prefeito e os empresários envolvidos na obra estão presos, por causa de um escândalo de corrupção.
“Eu votei nele”, reclama o taxista Cornélio, enfurecido com o trânsito parado na Carrera Séptima, uma das principais avenidas de Bogotá. “Como todos em meu bairro também votaram, pois do contrário quem ganharia seria Peñalosa, e agora temos de votar em Petro pela mesma razão”.
A prefeitura de Bogotá é o segundo cargo eletivo mais importante do país.. As pesquisas indicam empate técnico entre o progressista Gustavo Petro e o verde Enrique Peñalosa. O primeiro foi candidato presidencial em 2010, enquanto o segundo perdeu às primárias para o também ex-prefeito Antanas Mockus. O mesmo Mockus que há poucos dias desistiu de concorrer novamente à prefeitura para apoiar Gina Parody, uribista desde o princípio. Jovem e muito popular, ela obteve a segunda maior votação entre os deputados eleitos em 2002, atrás de Gustavo Petro. O ex-presidente Álvaro Uribe, por sua vez, apoia Peñalosa, como em 2007, quando perdeu para Samuel Moreno. Parece confuso?
Petro foi fundador do Polo Democrático, o partido de esquerda que ganhou as eleições nos últimos oito anos e ficou manchado pelo escândalo de Samuel Moreno. Mas se apresenta com uma nova agremiação política, os Progressistas, depois de ter abandonado seu velho partido. O Polo lançou Aurelio Suarez, uma político considerado muito sério, mas que fica atrás nas pesquisas de intenção de voto.
Crise democrática
Os números apresentados no início deste texto sobre a violência que ronda as eleições municipais colombianas, fornecidos pela MOE (Missão de Observação Eleitoral), são apenas a ponta de um iceberg formado por fraudes, compras de votos, ingerência de grupos armados e centenas de candidatos ligados aos paramilitares ou cartéis do narcotráfico, parentes ou testas-de-ferro dos chefões mafiosos ou dos parapolíticos cujas famílias mantêm o controle regional.
A situação é tão grave que a revista Semana fala, em última edição, de uma “crise da democracia”.
León Valencia, diretor do think tank Nuevo Arco Iris, encarregado pelo Ministério do Interior de realizar um estudo sobre os candidatos, apontou um alto risco de que, em nove departamentos do país (um terço do total), sejam eleitos governadores com algum tipo de vínculo com grupos armados ilegais. Alejandra Barrios, diretora da MOE, acredita que 241 municípios do país devem ser considerados de alto risco por causa da violência ou de fraudes.
Como se não bastasse, os dados do balcão único, aberto pelo governo a serviço dos partidos para verificar os antecedentes dos candidatos, indicam que quase 15.000 estão sob algum tipo de investigação e 85 estavam até mesmo sob ordem de captura.
O mais surpreendente é que os dados superam os índices de violência das eleições de 2003, quando a política de “segurança democrática” de Uribe ainda tinha de mostrar seus efeitos, e foram assassinados 29 candidatos.
Fragmentação
Um dos problemas, segundo Valencia, é que os partidos políticos são fracos e funcionam quase como meros agrupamentos. O analista acredita que os líderes políticos em Bogotá pretendem modernizar os partidos, mas enfrentam poderosas facções interessadas apenas em manter os feudos de poder regional. Prova disso é que 90% dos candidatos contestados pelo Nuevo Arco Iris continuam na disputa com o apoio dos partidos.
O senador Manuel Galán é autor de um estudo segundo o qual estas eleições são decisivas para os novos grupos paramilitares, ou BACRIM, como são definidos pelo governo, que tentam tomar o poder em suas zonas de influência. “Às BACRIM”, explica Galán, “convém um prefeito que não denuncie, que insista que tudo está em ordem, com o único propósito de não atrair a atenção do governo central”.
De acordo com o senador, quando as atenções não se voltam à área, o narcotráfico flui sem problemas. Além disso, se os grupos controlam os prefeitos, podem controlar a polícia, para que não interfira ou para que se concentre contra um grupo rival. Galán, cujo pai foi assassinado em 1990, quando era candidato à presidência, exemplifica o mecanismo nesses termos: “Escolhem um candidato, financiam a campanha, impõem os votos e ameaçam ou assassinam os outros candidatos, mas, para garantir que não perderão seu investimento, compram também os mesários e cometem fraudes.”
Neste cenário, a MOE inaugurou um portal (www.pilasconelvoto.com) para que os cidadãos possam apontar irregularidades relacionadas às próximas eleições. Até o momento, foram registradas 2.000 denúncias.
Outro instrumento muito importante é o Votebien (www.votebien.com), uma aliança entre vários meios de comunicação e organizações sociais que se renova desde 2002, com o objetivo de ajudar os cidadãos a escolher seus candidatos criando perfis, analisando o financiamento, facilitando debates e apontando os candidatos de alto risco.
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