A disputa entre o governo e o Banco Central da Argentina pelos critérios de pagamento das dívidas do país chegou a tribunais estrangeiros. No dia em que o governo de Cristina Kirchner prometeu honrar todos os compromissos, a Justiça norte-americana embargou as contas da Argentina no Fed, o banco central dos Estados Unidos, a pedido de fundos de investimento especulativos que pedem a Buenos Aires o pagamento de bônus soberanos em moratória desde 2001.
O ministro da Economia argentino, Amado Boudou, informou em coletiva de imprensa que o juiz Thomas Griesa, da Corte de Nova York, ordenou um embargo preventivo de 1,7 bilhão de dólares em contas da Argentina.Mas, em entrevista coletiva, Boudou admitiu que a medida poderia incidir sobre um montante total 15 milhões de dólares.
Segundo o ministro, desde o início do conflito com o BC argentino, tem havido uma forte queda nos bônus argentinos, de entre 5,7% e 8,5%, e um aumento de 12% no índice de risco-país. Para ele, existe uma “forte pressão contra os títulos argentinos e a troca que se pretende levar adiante” para reestruturar títulos de 20 bilhões de dólares que não entraram na troca de 2005 – parte dos quais estão nas mãos de fundos especulativos, apelidados pejorativamente de “abutres”.
“Parece que os fundos abutres têm representantes em Buenos Aires. Parece que pretendem fazer operações de endividamento para a Argentina a taxas altas. Parece que há uma conspiração para que a Argentina pague a maior taxa de juros possível”, denunciou Boudou.
Compromisso
O governo argentino prometeu hoje que pagará as dívidas soberanas de 2010 após a suspensão do decreto presidencial que prevê o uso de 6,569 bilhões de dólares de reservas monetárias para cancelar passivos com organismos internacionais e credores locais.
“As dívidas de 2010 serão pagas”, afirmou o chefe de gabinete Aníbal Fernández, em meio ao confronto com o Banco Central sobre e criação do chamado Fundo do Bicentenário para o pagamento de dívidas com reservas monetárias.
A juíza Maria José Sarmiento, que na sexta-feira suspendeu o decreto presidencial, resolveu nesta segunda-feira que a causa entrará em processo comum e deixará de ser, como era até agora, um trâmite urgente de ação de recurso.
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Aníbal Fernández voltou a questionar a suspensão do decreto e considerou que, se o pagamento fosse feito com reservas, o Estado economizaria 800 milhões de dólares com o acesso a melhores taxas, em comparação com outros mecanismos de financiamento.
“Por não compreender as medidas que estão sendo adotadas, estaríamos perdendo nada menos que 13,5 milhões de dólares por cada 100 milhões que colocaríamos na praça”, sustentou o chefe do gabinete em declarações à rádio La Red, de Buenos Aires.
Decreto anulado
A discussão veio à tona quando o presidente do Banco Central, Martin Redrado, negou-se a deixar o cargo, recusando assim uma determinação de Cristina Kirchner. Ela então o destituiu por decreto, mas a Justiça o anulou.
Maria José Sarmiento entendeu que o Parlamento, que está em recesso, é quem tem poder para decidir sobre a utilização das reservas monetárias, assim como para destituir o presidente do Banco Central.
O chefe de gabinete disse hoje que Sarmiento “tem respostas políticas, quando na realidade deveria ter respostas jurídicas”.
A presidente argentina declarou ontem que o conflito entre o Executivo e o Banco Central responde a uma “formidável manobra política” contra si e ressaltou que o país precisa “imperiosamente” sair da moratória de 2001.
A comissão parlamentar que controla os decretos presidenciais, formada por oito governistas e oito opositores, se reunirá nesta quarta-feira para debater sobre as recentes decisões de Cristina.
* Com informações da Efe.
(atualizado às 21h48)
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