“Jamais o regime sionista esteve tão isolado quanto hoje, e jamais tantos diferentes Estados e nações, a seu modo, entregaram tanta solidariedade ao povo palestino quanto hoje. Houve uma mudança na correlação de forças. Começa a haver uma ruptura entre os setores do judaísmo e do sionismo”, foram as palavras do jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, proferidas durante o debate realizado em mais um lançamento de seu livro Contra o Sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista, na nova sede do Armazém do Campo e da Livraria Expressão Popular, no centro de São Paulo.
O encontro desta terça-feira (21/05) contou com a presença de um grande público e também incluiu a participação de Cássia Bechara, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que compôs a mesa para abordar, também, o lançamento de A Revolução Palestina de 1936 a 1939: antecedentes, detalhes e análise, da autoria de Ghassan Kanafani.
Segundo Bechara, trata-se de uma obra complementar ao livro de Altman.
“Kanafani dizia que a causa palestina é para todos os revolucionários, não apenas para os palestinos. O livro nos ensina a entender como se fortalece o projeto sionista ao longo do tempo e como a resistência palestina acompanha esse projeto. Quando o sionismo é compreendido como projeto imperialista, se torna inimigo de toda a humanidade”, afirmou a dirigente do MST.
Ainda durante o debate, um dos pontos destacados por Altman foi a ampliação internacional da simpatia à resistência palestina e o enfraquecimento do regime sionista. O jornalista mencionou a recente mobilização estudantil, em âmbito global, na qual se realizam protestos em universidades contra a cumplicidade de suas respectivas instituições, de forma direta e indireta, com as agressões do Estado de Israel.
“Nas ocupações dos Estados Unidos, várias de suas lideranças são compostas por judeus que vinham de formação sionista e romperam abertamente com o sionismo, assumindo uma postura de enfrentamento contra o Estado de Israel”, apontou Altman, acrescentando que esse detalhe “pode ser mortal para o regime sionista”.
O lançamento das obras ocorre em meio a um cenário em que as forças israelenses intensificam seus ataques no território palestino, incluindo Rafah, no sul de Gaza. Enquanto as operações militares seguem em curso e são resultado das mais de 35 mil fatalidades no enclave atualmente. A própria recepção da recém inaugurada livraria no centro paulistano revelou a Opera Mundi um crescente interesse do público por obras que tratam da questão palestina.
Em seu livro, Altman, que é judeu, denuncia o massacre israelense contra o povo palestino em Gaza desde o início do conflito entre Israel e Hamas, em outubro de 2023. Lançado em dezembro do ano passado, a obra de 100 páginas é fruto do acúmulo de debates, entrevistas e análises com especialistas sobre o contexto do genocídio promovido por Israel.
A Opera Mundi, Bechara considerou o Contra o Sionismo como uma “leitura obrigatória”.
“Já fizemos outros lançamentos do livro do Breno em espaços do MST em outros estados. Para nós do movimento, é um livro indispensável para nossa militância. O sionismo da forma como o livro do Breno coloca: como um projeto político que tem o racismo na sua essência. É um livro que a gente tem distribuído para nossa militância e, inclusive, para todos os dirigentes como leitura obrigatória em especial”, disse a dirigente do MST.
Na livraria, Maraísa Povia, aposentada e ex-procuradora do município de São Paulo, caminhava e observava os livros expostos nos estandes. Antes do início do debate, contou à reportagem que, desde jovem, sempre esteve engajada em pautas envolvendo os direitos humanos e no combate a ditaduras.
“São trabalhos muito importantes de esclarecimento porque as pessoas têm uma visão muito distorcida sobre a Palestina, sobre todo o movimento e todo esse conflito. Existe muita desinformação. E mais, o antissionismo que é confundindo com antissemitismo. É uma grande chave que os sionistas usam para desqualificar a fala das pessoas. É preciso consumir informação verdadeira para não se deixar levar por outras vertentes que querem dignificar o Estado de Israel”, disse Povia.