Milhares de pessoas se reuniram nesta quarta-feira (22/05) no centro de Teerã para prestar uma última homenagem ao presidente iraniano, Ebrahim Raisi, morto no domingo em um acidente de helicóptero.
O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, liderou as orações no início da manhã durante a cerimônia de despedida de Raisi e de outras sete pessoas, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, mortos no acidente.
Khamenei, autoridade máxima da República Islâmica, prostrou-se diante dos oito caixões cobertos com bandeiras iranianas, nas cores verde, branco e vermelho. A cerimônia foi organizada na Universidade de Teerã.
O guia supremo iraniano estava cercado por líderes do clero xiita, membros do governo, incluindo o presidente interino, Mohammad Mokhber, e representantes do mais alto escalão do Exército e da Guarda Revolucionária. Também estiveram presentes o líder político do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, que vive no exílio no Catar, e o número 2 do Hezbollah libanês, Naim Qassem. Os dois grupos são apoiados pelos aiatolás iranianos e não reconhecem a existência do Estado de Israel.
Apesar da morte do presidente, Haniyeh afirmou “ter a certeza de que o Irã continuará a apoiar o povo palestino”. O chefe político do Hamas fez um breve discurso ao público presente. Após a fala, algumas pessoas gritaram “morte a Israel”.
O Hamas e o Hezbollah fazem parte do “eixo de resistência”, ao lado dos houthis do Iêmen, outro grupo xiita que é apoiado por Teerã no contexto da guerra na Faixa de Gaza entre o Hamas e Israel.
Fora do campus da universidade, dezenas de milhares de pessoas estavam reunidas nas ruas adjacentes, desertadas pelos carros. Várias pessoas no público carregavam retratos, às vezes estilizados e coloridos, do presidente morto aos 63 anos e bandeiras iranianas.
Lembrado como um ‘mártir’
A quarta-feira foi declarada feriado e os moradores de Teerã receberam mensagens em seus telefones com pedidos para que “comparecessem ao funeral do mártir”.
“Um milhão de despedidas”, disse a televisão estatal, saudando o número de pessoas reunidas no centro da capital. Nenhuma estimativa independente estava disponível para avaliar o número de participantes.
Durante seu mandato, Raisi enfrentou um movimento de protesto popular em 2022, uma crise econômica agravada pelas sanções norte-americanas e pelo agravamento das tensões com o inimigo Israel.
Vários países, como a Rússia, a Turquia e o Iraque, anunciaram que estariam representados numa cerimônia organizada à tarde com autoridades estrangeiras, mas sem chefes de Estado.
As autoridades declararam luto de cinco dias em todo o país, enquanto preparam o processo de sucessão de Raisi, que preside o Irã desde 2021 e era favorito para substituir um dia o guia supremo Khamenei, que está com 85 anos .
Uma das tarefas do presidente interino, Mohammad Mokhber, 68 anos, é preparar as eleições presidenciais, que serão realizadas em 28 de junho. Até o momento, nenhuma personalidade política declarou publicamente a sua candidatura.
Enterro na quinta-feira
Programado para durar até quinta-feira, o funeral de Raisi começou na terça-feira em Tabriz, a grande cidade do noroeste do Irã, perto da região montanhosa onde ocorreu o acidente.
Depois da primeira etapa em Tabriz, os oito caixões cobertos com a bandeira iraniana foram transferidos para a cidade sagrada de Qom, ao sul da capital, onde uma enorme multidão assistiu à cerimônia fúnebre. Vários retratos enormes do “mártir” Ebrahim Raisi foram pendurados em locais públicos nas principais cidades iranianas.
O corpo de Raisi será enterrado na quinta-feira (23/05) em Mashhad (nordeste), sua cidade natal. Os funerais são organizados segundo a tradição de grandes eventos que marcaram os primeiros 45 anos da República Islâmica, um ritual semelhante ao que se seguiu à morte do general Qassem Soleimani, alto oficial militar morto em um ataque americano no Iraque, em 2020.
Raisi morreu na queda do helicóptero que o levava a Tabriz no domingo, depois de assistir à inauguração conjunta de uma barragem com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, na fronteira entre os dois países. Também entre as vítimas estava o governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental.
Difíceis operações de busca e salvamento foram realizadas durante cerca de 12 horas, em más condições meteorológicas, em uma região íngreme e arborizada. Os destroços do helicóptero foram descobertos na madrugada de segunda-feira.
Uma investigação sobre as causas do acidente foi ordenada pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Mohammad Bagheri.