No 16º dia de protestos contra a permanência do presidente Hosni Mubarak no poder, os manifestantes, que até então se restringiam à praça Tahrir, no centro do Cairo, se dirigiram nesta quarta-feira (09/02) para a sede do Parlamento após tomarem conhecimento de que aqueles acampados no local para exigir a dissolução do Congresso seriam desalojados pela polícia. Com isso, milhares de pessoas tomaram o centro da cidade em duas grandes marchas.
Enquanto isso, a polícia e o exército tentaram conter a massa humana, fechando ruas e as entradas para impedir que o protesto se espalhe por toda a cidade, de acordo com o jornal espanhol El País. O aumento do número de manifestantes se deve também à série de greves e protestos em diversas empresas privadas no Egito, informou a BBC.
A principal exigência dos opositores de Mubarak é a saída imediata do presidente, que insiste em permanecer no poder. Esta semana, o novo gabinete ministerial de Mubarak, nomeado às pressas após o início das manifestações, começou o processo de transição, com a instalação de duas comissões para a atender às reivindicações da oposição. O presidente egípcio disse que nem ele nem o filho, Gamal, concorrerão às eleições de setembro, mas que se vê “obrigado” a completar o mandato para o Egito não “caia no caos”.
“Não se cansem, não se cansem. A liberdade ainda não foi alcançada”, gritava um militante em um alto-falante, em meio às barracas instaladas pelos manifestantes no centro da praça nesta quarta-feira, de acordo com a AFP.
Um jurista de 35 anos, Essam Magdi, se mostrou indiferente ao anúncio da criação de um comitê para para reformar a Constituição, outra promessa de Mubarak. “Não podem acontecer negociações enquanto Mubarak não for embora. Quando cair, poderemos falar de muitas coisas”, disse. “O exército quer nos empurrar para dentro da praça. Querem nossa saída, por isto dormimos aqui. Queremos os soldados e confiamos neles, mas não confiamos nos que mandam neles”, completou Magdi.
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Número de mortos
Nesta terça-feira a ONG Human Rights Watch denunciou que serviço de Saúde controlado pelo governo vem tentando ocultar o número de mortos. De acordo com a organização, ao menos 297 pessoas morreram no Egito em manifestações reprimidas ou manifestações de partidários e adversários do regime.
“Achamos que, na maioria dos casos, tratou-se de violência policial contra manifestantes nas últimas duas semanas”, explicou a investigadora Heba Morayef no site da HRW. A ONG conseguiu confirmar a morte de 232 pessoas no Cairo, 52 em Alexandria e 13 em Suez. A grande maioria morreu nos dias 28 e 29 de janeiro, em disparos com balas de verdade da polícia contra os manifestantes.
“O número real de falecimentos provavelmente deve ser muito superior a 297, já que nossa contagem se baseia unicamente nos principais hospitais de três cidades e só incluimos os casos que conseguimos confirmar”, acrescentou a investigadora da HRW.
A Alta Comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Navi Pillay, indicou no início de fevereiro que dispunha de informes não confirmados de que os protestos no Egito deixaram 300 mortos.
França
Paralelamente, o primeiro-ministro francês, François Fillon, revelou que o governo egípcio pagou por suas férias e da família no Sul do Egito, entre 26 de dezembro e 2 de janeiro. Fillon disse também que usou um avião oficial do governo para fazer a travessia entre Assuã e Abu Simbel, durante a viagem, e que fazia agora as revelações “pelo interesse da transparência”.
Frente à forte reação, até de políticos do partido governista, a UMP, o presidente Nicolas Sarkozy disse que os ministros “deverão privilegiar a França” durante as férias.
“Os convites para viagens ao exterior serão autorizados pelo primeiro-ministro, em acordo com a célula diplomática da Presidência, para examinar a sua compatibilidade com a política externa da França”, afirmou Sarkozy durante o Conselho de Ministros desta manhã, no Eliseu.
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