A eleição presidencial de Taiwan, que será disputada neste sábado (14/01), é tida como decisiva para definir o futuro político das relações entre a ilha e a China. A população, dividida, vai optar entre continuar com a política de aproximação do atual governo de Ma Ying-jeou ou pelo retorno ao caminho independentista, provocando a fúria do governo de Pequim.
Além da China, os EUA também observam a eleição com expectativa. O resultado terá implicações nas relações geopolíticas e no futuro econômico da região do Leste Asiático, considerado vital para a economia mundial.
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O atual presidente taiuanês realizou a maior aproximação política entre os dois lados do Estreito desde 1949
“O caso de Taiwan é muito curioso. A população se encontra de fato muito dividida em relação à questão da aproximação ou resistência à China. Para aqueles que olham pelo viés econômico, a aproximação com Pequim é muito interessante. O crescimento chinês a taxas elevadas beneficia Taiwan, pois sua economia [centro nervoso da indústria manufatureira] é muito interdependente com o continente”, afirmou Alexandre Uehara, professor de Ciência Política das Faculdades Integradas Rio Branco ao Opera Mundi.
Ma, do KMT (Kuomintang), que se candidata à reeleição, é considerado o melhor aliado que Pequim já teve desde quando ilha e continente se separaram politicamente em 1949. Em sua administração, os dois lados do Estreito de Taiwan firmaram um acordo de cooperação econômica, abriram a possibilidade de investimentos mútuos e estabeleceram voos aéreos diretos. Os chineses do continente tiveram, pela primeira vez, possibilidade de fazer turismo na ilha.
Oposição
Já sua principal adversária, a advogada Tsai Ing-wen (do PDP, Partido Democrático Progressista), acredita que a reaproximação já foi longe demais. Ela defende um novo consenso social, com a participação de grupos civis e políticos, antes de negociar com Pequim. Também rejeita a atual base de laços entre os dois Estados, firmada pelo Consenso de 1992, por considerá-la ambígua – já que cada lado afirma a existência de uma única China, definindo-a à sua maneira.
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Tsai Ing-wen consegue apoio do eleitorado mais resistente à influência do continente nos rumos da 'província rebelde'
A presidente do PDP propõe a formação de um governo de coalizão, mas não especificou se isso significa apenas incorporar ao gabinete membros de outros partidos individualmente ou efetuar um pacto com as legendas para a repartição do poder. “A grande divisão é essa: quem dá mais peso para as questões econômicas vai apoiar uma maior reaproximação com a China. E o atual governo tem feito muito isso. Porém, há aqueles que olham para o lado político. Os mais resistentes são os que temem eventuais riscos em relação à democracia e às liberdades individuais”, disse Uehara.
Quadro político
Além do novo governo, os 18 milhões de eleitores taiuaneses também elegerão 113 membros do Parlamento. Nas eleições anteriores, em 2008, Ma venceu facilmente o candidato do PDP, Frank Hsieh, com 58,45% dos votos, enquanto nas legislativas, realizadas separadamente, o KMT obteve 81 das 113 cadeiras e o PDP apenas 27.
A situação mudou a partir de 2008, quando o PDP enfrentou acusações de corrupção envolvendo um de seus principais líderes, o então presidente Chen Shui-bian (antecessor de Ma), preso após o final de seu mandato. Atualmente, é o KMT que sofre as críticas pelos efeitos da crise financeira mundial na economia.
Uehara lembra que Chen, um dos políticos mais fervorosamente contrários à aproximação, até tentou adotar um política que restringia a relação comercial entre o estreito, mas não conseguiu. “A capacidade de atração econômica chinesa é muito grande”, explicou.
O especialista acredita que o governo de Pequim deveria se esforçar para reconquistar certo grau de confiança com a parcela “desconfiada” da população. “O temor hoje de parte de Taiwan é que essa proximidade possa levar a uma restrição das liberdades políticas, democracia, que é vista como algo importante para os taiuaneses hoje, e não gostariam de um governo comunista e centralizador”, explicou Uehara.
Histórico
Antigamente conhecida como “Formosa”, Taiwan foi separada da China em 1949, no início da Guerra Civil Chinesa e no contexto da Guerra Fria. Desde então, é considerada uma província rebelde pelo governo de Pequim, que ameaça intervir militarmente caso esta declare sua independência formal. No entanto, uma invasão por parte do continente provocaria uma reação militar imediata dos Estados Unidos, aliado histórico dos separatistas desde a cisão.
A situação coloca Taiwan (oficialmente República da China) em um limbo político – é independente de fato, mas não formalmente. E também não caminha em direção a uma nova unificação com a China. Antes de 1949, a ilha já havia ficado 50 anos sob domínio japonês (1895-1945). Mesmo gozando de uma autonomia histórica em relação ao continente, os taiuaneses se consideram chineses, o que não significa que apóiem a unificação política no futuro.
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