Os governos dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália anunciaram na noite desta quarta-feira (15/09) a criação de uma aliança militar que vai operar na região do indo-Pacífico. Chamada de AUKUS (sigla em inglês que leva as iniciais dos países), o projeto visa fortalecer as capacidades navais no Pacífico e permitirá que a Austrália tenha submarinos de propulsão nuclear.
O anúncio causou uma série de reações internacionais. Enquanto a União Europeia disse ter sido pega de surpresa, a China e a França fizeram duras críticas ao acordo nesta quinta-feira (16/09).
A parceria foi anunciada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, pelo premiê britânico, Boris Johnson, e pelo primeiro-ministro australiano, Scott Morrison. Segundo os três, os submarinos não terão capacidade de transportar ogivas nucleares, apenas usarão a tecnologia para ser propulsora.
Para Biden, o acordo vai garantir uma “atualização” da capacidade compartilhada para enfrentar juntos “o século 21 e as suas ameaças”. Morrison afirmou que o “mundo está se tornando cada vez mais complexo, especialmente na nossa área do indo-pacífico”. Johnson pontuou que a parceria é um “pilar estratégico” já que a área “é o novo centro geopolítico mundial”.
A iniciativa, ao mesmo tempo, é uma forma de tentar fazer frente à China, principal rival econômico dos norte-americanos.
Nesta quinta, um dos porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, foi duro ao criticar o pacto internacional e o definiu como “extremamente irresponsável” por “atingir os esforços de não proliferação de armas em nível internacional”.
Zhao ressaltou que o acordo “mina seriamente a paz e a estabilidade regional e intensifica a corrida armamentista”.
“A exportação de tecnologia submarina nuclear altamente sensível por parte dos Estados Unidos e Reino Unido na Austrália demonstra mais uma vez que lá se usa os países como instrumentos de jogos políticos, adotando a política de dois pesos e duas medidas, o que é extremamente irresponsável”, acrescentou, questionando ainda a “sinceridade da Austrália em relação aos seus compromissos de não proliferação nuclear”.
O porta-voz ainda pediu que os países “abandonem a mentalidade da Guerra Fria” porque se continuarem assim “correm o risco de atirar em seus próprios pés”.
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Aliança entre os países permitirá que a Austrália tenha submarinos de propulsão nuclear
‘Punhalada pelas costas’, diz França
A decisão de criar a aliança Aukus também foi duramente criticada pela França, que tinha um acordo de produção de submarinos com os australianos, e que foi classificada por Paris como “extremamente deplorável”.
“Trata-se de uma decisão contrária à carta e ao espírito de cooperação que prevaleceu entre França e Austrália. A escolha norte-americana, que leva à remoção de um aliado e um parceiro europeu como a França de uma parceria de longa data com a Austrália, enquanto nos encontramos perante desafios sem precedentes na região indo-pacífica, marca um sinal de falta de coerência do qual a França não pode mais do que lamentar”, diz uma nota oficial publicada pelo Ministério das Relações Exteriores.
Após a divulgação do comunicado, o ministro de Assuntos Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, deu uma entrevista para a France Info e se disse “irritado” e “cheio de amargor” com o acordo, acrescentando que o anúncio “foi uma punhalada nas costas” já que “nós tínhamos uma relação de confiança com a Austrália e essa confiança foi traída”.
Le Drian foi o líder das negociações que, em 2016, fechou o “contrato do século” entre os dois países: por 56 bilhões de euros, seriam produzidos 12 submarinos convencionais (não nucleares) pelo Naval Group. À época, o francês era o ministro da Defesa.
“Nós soubemos de maneira bruta, com uma declaração do presidente Biden, que o contrato firmado entre França e os australianos não será mais feito, e que os EUA fizeram uma proposta nuclear, do qual não sabemos o conteúdo, aos australianos. É uma coisa que não se faz entre aliados. Até há pouco falávamos de tudo isso com os EUA e agora chega um rompimento. É algo insuportável”, pontuou Le Drian.
A atual responsável pela pasta da Defesa, Florence Parly, também não poupou termos em uma entrevista para a mesma agência, dizendo essa ser uma “péssima notícia em relação às palavras dadas” e uma decisão “grave”.
“Nós estamos lúcidos sobre a forma com a qual os EUA tratam os seus aliados e os seus parceiros. Estudaremos todas as vias. Precisaremos de esclarecimentos e os australianos precisaram nos dizer para sair”, acrescentou Parly.
Já a União Europeia, através do porta-voz do Serviço Europeu para Ação Externa, Peter Stano, afirmou que o bloco foi surpreendido pelo anúncio.
“A UE não foi informada da aliança entre EUA, Reino Unido e Austrália. Estamos em contato com os parceiros para saber mais e vamos discutir com os Estados-membros da UE para entender as implicações”, se limitou a dizer.
Sano ainda ressaltou que o assunto deve ser “objeto de discussão” no próximo Conselho dos ministros das Relações Exteriores do bloco.
*Com Ansa