Chávez cantando, carregando uma menina, abraçando uma senhora, estampado em faixas e cartazes de palestinos. Hugo menino lendo uma revista sob uma árvore, depois jovem militar e, logo, ao lado de outros chefes de Estado. Essas são algumas das imagens de um álbum de figurinhas que circulou em homenagem ao aniversário de um ano da morte do ex-presidente venezuelano e que ainda tem procura, mesmo com a chegada do exemplar da Panini com os jogadores dos 32 times do Mundial.
Reprodução/Luciana Taddeo
O álbum ilustra a vida de Chávez desde pequeno, quando vendia “arañas”, um doce de mamão, em Sabaneta, Barinas
Publicado pela revista Épale CCS, que circula aos domingos com o jornal estatal Ciudad CCS, o álbum de nome “El de Sabaneta”, em referência à sua cidade natal, percorre as etapas da vida do líder da chamada “Revolução Bolivariana”. Eram nove seções a serem completadas com figurinhas, criadas por diferentes ilustradores, com uma variação de técnicas.
Como somente circulou como um encarte da revista durante cinco fins de semana, até o início de maio, as 90 figurinhas e o álbum se tornaram objeto de procura por parte de alguns chavistas, deixando claro que o culto ao líder ainda permanece vivo entre seguidores. Como teve distribuição limitada, com 18 figurinhas por vez, interessados em completar o álbum tentaram conseguir as imagens faltantes na sede da publicação, na capital venezuelana.
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Página do álbum de figurinhas com fotos de Hugo Chávez lado de outros chefes de Estado, como Fidel Castro e Evo Morales
“Imprimimos 50 mil exemplares, que foram distribuídos encartados, de forma gratuita. Quando terminou a distribuição pudemos entregar o que sobrou, e teve filas de gente aqui procurando o álbum e as figurinhas”, disse a Opera Mundi Mercedes Chacín, diretora do Épale CCS. Segundo ela, algumas escolas chegaram a pedir o álbum e não sobrou nenhum exemplar.
A iniciativa, de acordo com ela, foi uma maneira de lembrar o falecido presidente de maneira lúdica e alegre. Quando questionada sobre a possibilidade de venda em bancas, disse que houve a ideia, mas que iria contra o espírito do jornal e da revista chavistas, que são gratuitos. “Era um presente para o povo de Caracas. E se era um presente, não podíamos vender”, explica.
Procura alta
A própria revista resenhou a procura. “Percorri várias estações de metrô porque já sei que vocês fizeram trapaça e nos puseram jogos diferentes de figurinhas em diferentes estações”, disse Olga Mendoza ao autor, no último dia de distribuição, sobre locais onde se costuma conseguir a revista e o jornal. Contou que levantou às cinco e meia da manhã para conseguir figurinhas faltantes para uma conhecida de 88 e outra de 90 anos: “Sento com elas, nas tardes, nos domingos, para colar as figurinhas”.
Épale CCS/Divulgação
Como somente circulou como um encarte da revista durante cinco fins de semana, as figurinhas e o álbum viraram objeto de procura
O álbum ilustra a vida de Chávez desde pequeno, quando vendia “arañas”, um doce de mamão, em Sabaneta, no estado venezuelano de Barinas. Passa por sua fase esportista, pela chegada à Academia Militar, aborda a paixão pela música e danças típicas venezuelanas. Logo, ilustra a tentativa de golpe de Estado em 1992 (denominado como “rebelião militar”) que o colocou na cena política, o tempo na prisão, a atuação “antiimperialista” como presidente e as consecutivas vitórias em eleições, até seus últimos dias, quando lutou contra o câncer.
Mas o álbum não termina aí. A apoteose ilustrada tem como título “Chávez Povo”, na qual aborda medidas do líder voltadas aos direitos sociais: pensão para idosos, redução da pobreza extrema por meio de missões nas áreas de saúde, habitação. Também relembra políticas chavistas relacionadas a direitos camponeses e indígenas.
A distribuição do álbum gerou críticas. O site do jornal Tal Cual, por exemplo, publicou uma pequena nota sobre o lançamento, na qual afirma que é uma forma de gastar mal os impostos: “A revolução quer continuar acentuando o culto à personalidade. Agora decidiram imprimir (em meio à asfixia contra os jornais independentes, vale dizer) um álbum de figurinhas sobre a vida do defunto Hugo Chávez”.
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