O Tea Party, movimento ultraconservador do Partido Republicano, acaba de abocanhar importante espaço no cenário político dos Estados Unidos. O deputado Eric Cantor, líder da maioria republicana na Câmara e a segunda pessoa mais importante do partido na Casa, sofreu uma inesperada derrota nas primárias do estado de Virgínia na noite da última terça-feira (10/06).
Seu nome foi preterido no pleito que decidiu quem irá disputar a vaga da região a deputado em novembro. Além de mexer com os planos do Partido Republicano na Câmara — Cantor era cotado para assumir a presidência da Casa —, a vitória do Tea Party põe em xeque a reforma imigratória planejada há tempos por Washington. A reviravolta na Virgínia deve representar um duro golpe contra os moderados do Partido Republicano, chegando até a cúpula da legenda e levando a oposição ao governo Obama ainda mais à direita.
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Flickr/Gage Skidmore/CC
Líder da maioria e 2º republicano mais importante no Congresso, Eric Cantor estava na Casa desde 2001
Político experiente, Cantor está na Câmara desde 2001. Sua derrota foi tão inesperada — algo assim só aconteceu em 1899 — que seus colegas de legenda apenas especulavam qual seria a margem percentual de sua vitória. Analistas norte-americano ainda tateiam para encontrar uma explicação.
Guardadas as devidas proporções, é como se o líder do PSDB na Câmara dos Deputados em Brasília perdesse as eleições em seu próprio estado de origem, dando lugar a um candidato de cunho ainda mais conservador.
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Criança escala grade na fronteira texana com o México; derrota de Cantor põe em xeque reforma na imigração
Após uma campanha de orçamento mais modesto e com grande exposição nas redes sociais e na mídia, o professor de economia David Brat obteve 55% dos votos e venceu a primária com um discurso combativo. Acusou seu oponente Cantor de ser “político profissional”, traidor dos princípios do conservadorismo republicano e excessivamente frouxo ao tratar do tema da imigração, gastos públicos e dívida.
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Os ultraconservadores já capitalizam a vitória. Laura Ingraham, analista conservadora e uma das principais apoiadoras de Brat, disse ontem na emissora Fox News que a vitória de Brat demonstra “um absoluto repúdio contra o establishment da política”. “A cúpula do Partido Republicano que tome nota”, aconselhou.
Certamente, a questão migratória teve papel importante na derrota de Cantor. Segundo reporta o site Politico, é quase certo que devem minguar quaisquer planos de aprovação da reforma na imigração neste ano, após o episódio da Virgínia.
A lei era tida como detentora de um certo consenso suprapartidário: democratas queriam agradar seus apoiadores da comunidade latina e os republicanos preferiam que o assunto fosse logo liquidado para evitar ver seu impactos afetarem o pleito presidencial de 2016.
O apoio de Eric Cantor a uma parte da lei migratória — a concessão de cidadania a imigrantes irregulares trazidos aos EUA ainda quando crianças — foi duramente criticada na campanha, rendendo ao rival um grande trunfo: Brat o acusou repetidas vezes de endossar a “anistia geral” aos estrangeiros em situação ilegal.
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Dessa forma, a derrota de Cantor diz à Casa Branca que o governo não deve nutrir grandes esperanças em relação ao Poder Legislativo. Em 2013, Obama acumulou repetidos revezes no Congresso norte-americano e o mais notável deles paralisou a administração federal do país por semanas após a luta dos republicanos contra o Obamacare, seu programa de saúde.
Assim, o presidente deve sofrer mais pressão da ala esquerdista de seu partido, insistindo para que Obama faça uso de sua autoridade executiva para agir sobre o tema sem dependener do Congresso — linha de ação que já havia sido aventada em discurso no início do ano.