Atualizado às 20h40
O Egito viveu um dia de forte expectativa em torno da saída do presidente egípcio Hosni Mubarak. Durante toda a tarde e boa parte da noite, o país foi tomado por rumores de que o ditador teria deixado o poder e faria um pronunciamento à nação.
Entretanto, às 23h (19h no horário de Brasília), Mubarak, em rede nacional, repetiu o discurso semelhante ao realizado na semana passada e negou que vá deixar o poder. Ele voltou a dizer que não concorrerá às próximas eleições, marcadas para setembro, e que “lutará por uma eleição livre e transparente”.
As poucas notícias novas trazidas por Mubarak são as de que ele irá transferir parte de seu poder ao vice-presidente, Omar Suleyman, sem especificá-los claramente. E também anunciou que irá alterar e abolir artigos da Constituição.
Ele fez um discurso voltado aos jovens, que constituem a maior parte dos manifestantes.
“Não vou aceitar ingerências de outros países”, disse ele. “Começamos um diálogo construtivo, que resultou em harmonia para avançarmos em um cronograma e para que implementemos uma transição democrática até setembro”, afirmou o ditador.
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O pronunciamento soou como um balde de água fria às centenas de milhares de pessoas que se reuniram nas ruas das principais cidades do país e que esperavam a notícia de sua saída, especialmente as concentradas na Praça Tahrir, centro do Cairo – local onde manifestantes se concentram há 17 dias. Após o discursos, muitos manifestantes levantaram sapatos no ar – ato considerado como grave ofensa na cultura muçulmana – e protestaram e começaram a deixar a praça, sem destino confirmado.
Pouco depois de Mubarak foi a vez do vice, Omar Suleiman, dar declarações em que pediu que os manifestantes “regressem às suas casas, voltem a trabalhar e não ouçam as televisões por satélite que querem dividir o país”.
Para ele, este é um momento muito crítico para o Egito, mas garantiu que fará de tudo para restaurar a tranquilidade e a normalidade no país.
“Olhem para o futuro, livre e democrático e não aceitem o caos que está a ser instigado pelo exterior”, disse.
O vice-presidente disse ainda que “foi aberta uma porta ao diálogo com a oposição e até já foram conseguimos alguns entendimentos”. “O diálogo vai continuar”, garantiu.
Rumores
Mais cedo, o primeiro-ministro do Egito, Ahmed Shafiq, havia antecipado à rede britânica BBC que Mubarak poderia renunciar. Pouco depois, em entrevista a TV estatal, Shafiq disse que nada havia mudado no governo. “Nenhuma decisão foi tomada. Tudo está normal, tudo ainda está nas mãos do presidente”, garantiu.
À tarde, ainda de acordo com a BBC, Hosam Badrawi, secretário-geral do partido governista, o PND (Partido Nacional Democrático), afirmou que Mubarak poderia “responder aos pedidos do povo” e renunciar imediatamente, passando o poder vice-presidente, Omar Suleiman, o que Badrawi considerou “a coisa certa a fazer”.
A CIA (principal agência de inteligência dos Estados Unidos), havia afirmado, por meio de seu diretor Leon Panetta que “há uma grande probabilidade de que o presidente do Egito deixe o poder na noite desta quinta-feira”.
Porém, o ministro da Informação do Egito, Anas el-Fekky, negou as informações e disse que “o presidente ainda está no poder e não está renunciando”. “Tudo o que ouviram foram rumores da mídia”, afirmou.
Na praça Tahrir, milhares de pessoas aguardaram o pronunciamento de Mubarak ao som de buzinas e cantorias. Ao contrário de outros dias, nos quais havia um ostensivo controle militar para entrar na praça, nesta quinta-feira havia apenas uma barreira de soldados no acesso principal, a ponte Qasr al Nil. O clima era de euforia e não foram registrados confrontos.
Exército
Diante das especulações sobre o pronunciamento de Mubarak e sua possível renúncia as Forças Armadas do Egito, em discurso dúbio, afirmaram que “todas as medidas necessárias para proteger a nação” serão tomadas e garantiram “apoiar as demandas legítimas do povo”. Frase que foi repetida por Mubarak durante o discurso.
Pela manhã, a televisão estatal interrompeu a programação para transmitir um comunicado do Conselho Supremo das Forças Armadas.”Baseado na responsabilidade das Forças Armadas e em seu comprometimento para proteger o povo e sua diligência em proteger a nação, e em apoio às legítimas demandas do povo”, o Exército “continuará se reunindo continuamente para examinar medidas tomadas para proteger a nação e os ganhos e ambições do grande povo egípcio”, afirmou o texto.
De acordo com o porta-voz do exército, a cúpula se reuniu sem Mubarak, que é o comandante-chefe das Forças Armadas e, agora, apoia as demandas legítimas do povo. Segundo a rede de notícias Al Jazeera, a reunião foi comandada pelo ministro da Defesa, Mohamed Tantawi. “O conselho está em sessão permanente para analisar que medidas e acordos podem ser feitos para salvaguardar a nação, as aspirações e ambições deste grande povo”, disse o porta-voz.
Pouco antes do pronunciamento de Mubarak, o major Ahmad Ali Shouman renunciou o cargo e uniu-se aos manifestantes na praça Tahrir. Em entrevista para a Al Jazeera, Ali Shouman disse que entregou “as armas pra se juntar ao povo egípcio, que está em uma situação vergonhosa graças ao governo”.
“Mubarak e seu partido praticavam muita humilhação e exploração, não podemos aceitar esta ditadura”, completou o major.
Efeito dominó
O clima de protestos e as constantes manifestações pela renúncia de Mubarak impulsionaram por uma série de greves por todo país. Na quarta-feira (09/02), dois mil trabalhadores do canal de Suez, entraram em greve. Em seguida foi a vez dos trabalhadores dos setores têxtil e farmacêuticos, Nesta quinta-feira, funcionários dos transporte público, médicos e advogados também pararam.
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