Às vésperas de completar um ano do desaparecimento dos 43 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa em condições ainda não esclarecidas, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, se encontrou, nesta quinta-feira (24/09), com os pais dos jovens. O resultado da conversa, no entanto, irritou os familiares: “o Estado nunca deu nada além que golpes psicológicos aos pais”. disse Mario González, um dos membros da delegação.
Os familiares argumentam que logo no início da reunião desta quinta “voltaram a nos golpear” ao reiterarem a versão oficial para o desaparecimento dos estudantes. De acordo com a investigação conduzida pelo governo, os 43 foram assassinados por integrantes da quadrilha Guerreros Unidos e posteriormente queimados no lixão de Cocula.
Agência Efe
Jovens protestam após resultado da reunião com Peña Nieto
A versão, no entanto, é contestada por cientistas e pesquisadores mexicanos e estrangeiros, que apontam uma série de contradições no argumento.
“Nós já sabíamos o que ia acontecer. Como o governo poderia responder?”, lamentou María de Jesús Tlatempa, advertindo que os pais não vão retroceder em sua busca por justiça.
“Embora estejamos cansados, vamos continuar. Vamos ser a pedra no sapato do governo, porque não nos podemos ir para casa sem saber onde estão nossos filhos”, enfatizou.
A irritação dos pais se deve também ao fato de eles terem apresentado uma lista com oito demandas ao governo, entre elas a criação de uma unidade especial de investigação com duas instâncias: uma encarregada de buscar os jovens e outra que averigue as irregularidades cometidas pela procuradoria durante as investigações.
Eles pedem ainda que sejam investigados: o ex-governador de Guerrero Ángel Aguirre; o ex-procurador do estado Iñaky Blanco; o ex-procurador federal Murillo Karam; o atual titular da Agência de Investigação Criminal, Tomás Zerón; a responsável pelos serviços de perícias, Sara Mónica Medina. Sobre tal pedido, o governo não se pronunciou.
Segundo os familiares, “o governo não se comprometeu a cumprir nenhuma [das oito reivindicações]. De forma unilateral, nos apresentou seis compromissos que para nós não são substantivos, explicou Vidulfo Rosales, advogado dos familiares.
Agência Efe
Pais e familiares deram entrevista coletiva à imprensa após reunião
Participaram do encontro 110 parentes e alunos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, a mesma dos 43 desaparecidos.
Investigação
Peña Nieto aproveitou a reunião para ordenar a criação de uma promotoria especializada em encontrar pessoas desaparecidas. O mandatário pediu também que a Procuradoria incorpore “as recomendações e linhas de investigação propostas pelo grupo de especialistas da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos)”, que entregou hoje ao líder um relatório sobre o caso apresentado de forma antecipada no início do mês.
O presidente também ordenou que sua equipe prossiga com os trabalhos para saber o que ocorreu de forma individual com cada um dos desaparecidos, reiterando que a investigação não se encerrou e “chegará até onde tenha que chegar”.
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No Twitter, mandatário agradeceu encontro:
Agradezco la oportunidad de haberme reunido con los familiares de los jóvenes normalistas (1).
— Enrique Peña Nieto (@EPN) 24 setembro 2015
“Estamos do mesmo lado; vocês e eu buscamos o mesmo: saber o que ocorreu com seus filhos (…) A investigação segue aberta, nunca foi fechada e não haverá ‘tapetaço’”, afirmou o presidente.
Será realizada também uma terceira perícia que possa solucionar a contradição existente entre a versão oficial – de que os jovens foram incinerados no lixão – e à que a CIDH chegou.
Até o momento, 111 pessoas foram presas por suposto envolvimento com o desaparecimento dos estudantes. Entre eles estão cerca de 50 policiais municipais de Iguala, 19 de Cocula, 40 integrantes do Guerros Unidos, o ex-prefeito de Iguala e a ex-primeira-dama.