O deputado opositor e ex-candidato presidencial argentino Fernando “Pino” Solanas classificou como “grotesco e um papelão” o informe apresentado pelo governo de Cristina Kirchner que acusa os jornais Clarín e La Nación de terem assumido irregularmente o controle da empresa Papel Prensa.
Em entrevista veiculada nesta quinta-feira (26/8) na edição online do Clarín, o parlamentar do esquerdista Movimento Projeto Sul, que também é cineasta, disse ter conversado há alguns anos com o procurador que investigou o caso durante a democracia e este lhe assegurou que “não houve ilícitos” na transação.
Na terça-feira (24/8), Cristina apresentou um documento de 26 mil páginas que conteria provas de que as publicações agiram em conjunto com repressores da ditadura militar (1976-1983) para forçar a venda da companhia ao coagir seus então donos, o casal David e Lidia Graiver. A Papel Prensa abastece de papel jornal mais de 130 veículos, e conta atualmente com participação do Estado argentino, com 27,4% das ações.
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Solanas classificou a atitude do governo como “lamentável e patético, e foi um blefe”, porque as autoridades haviam gerado uma expectativa de fazer alguma revelação “extraordinária e monstruosa”, o que não teria acontecido.
O ex-candidato presidencial -derrotado por Cristina nas eleições de 2007, e que já anunciou sua pretensão de concorrer novamente em 2011 – criticou o ato de relacionar e “tomar o calvário da família Graiver com uma investigação”.
O banqueiro David faleceu antes da venda da Papel Prensa, em 1976, em um acidente aéreo no México, enquanto Lidia foi presa durante a ditadura algum tempo depois.
O deputado do Projeto Sul recordou que o ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), o primeiro que assumiu o Executivo local após a queda do regime militar, indenizou a família Graiver e que o caso foi enviado ao ex-procurador de Investigações Administrativas, Ricardo Molinas.
“Conversei com Molinas e ele me disse: sobre a Papel Prensa não houve ilícitos e está em sua investigação”, assegurou Solanas, garantindo não ter razão “para acreditar em uma palavra” do relatório apresentado por Cristina.
O ex-candidato também lembrou da carta publicada ontem pelo Clarín e pelo La Nación com declarações do irmão de David Graiver, Isidoro, em um texto datado de 23 de julho passado endereçado a sua sobrinha María Sol e à cunhada Lidia.
No texto, Isidoro nega a denúncia do governo e relembra os problemas econômicos pelos quais a família passava e suas dívidas. Segundo ele, em 1976, não havia muitos “candidatos” para a comercialização. Além disso, o “Estado não aceitaria a incorporação de um grupo como o nosso, que estava praticamente quebrado”. De acordo com Solanas, as palavras do irmão do banqueiro “não deixam dúvidas”.
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