O vice-governador do estado de Borno, Alhaji Zanna Umar Mustapha, afirmou nesta terça-feira (04/11) que, com as táticas que estão sendo adotadas pelo grupo Boko Haram para controlar localidades na Nigéria, se o governo federal “não enviar reforço extra, em dois ou três meses os três estados do nordeste do país deixarão de existir”.
Agência Efe
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Com base em relatórios de inteligência, Mustapha afirmou que a queda dos estados pode ser questão de dias ou semanas: “o governo federal tem tentado dar o melhor de si, mas o melhor não é o suficiente porque, ao invés de ir atrás dos insurgentes, são os insurgentes que estão vindo atrás de nós. É um grande crime que os criminosos estejam mais bem equipados que os militares. Eles estão a apenas alguns quilômetros das capitais de Adamawa, Borno e Yobe”.
O político também fez um apelo à comunidade internacional: “venha em nosso socorro ou em poucos meses os três estados não existirão”.
Mustapha disse não acreditar no acordo de cessar-fogo anunciado pelo governo do presidente Goodluck Jonathan em 17 de outubro. “Após o anúncio, mais de 30 pessoas foram mortas em Bono, o grupo continua com ações violentas em Adamawa, Gombe e hoje uma bomba explodiu em Yobe”.
Somente no atentado a bomba em Potiskum, em Yobe, 15 pessoas morreram e, embora nenhum grupo tenha reivindicado a autoria, o Boko Haram é o principal suspeito.
Também nesta terça (04/11), o grupo tomou o controle de uma importante fábrica de cimento em Gombe, no estado de mesmo nome, após matar cinco pessoas. Trabalhadores da fábrica Ashaka afirmaram que pessoas fortemente armadas chegaram em um comboio e começaram a atirar indiscriminadamente nos trabalhadores, depois de os seguranças da empresa terem fugido.
Agência Efe
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Até o momento, mais de 15 localidades do nordeste do país estão sob o controle do grupo.
Califado
Nesta terça, o Boko Haram proclamou um califado em Mubi, a maior cidade do estado de Adamawa, com 250 mil habitantes. A localidade foi tomada pelo grupo na última quarta-feira (29/10). O grupo içou bandeiras e, de acordo com a imprensa local, cometeu atos de violência contra pessoas que teriam violado as leis da sharia.
Seguindo os passos do Estado Islâmico, que controla parte do Iraque e da Síria e em junho deste ano proclamou um califado, o Boko Haram foi o segundo grupo jihadista a fazê-lo. Em agosto, cidadãos da cidade de Gwoza passaram a ser obrigados a seguir a lei islâmica.
Após a proclamação, os territórios supostamente deixam de pertencer à Nigéria, para estar sob controle do grupo, tendo um califa como a máxima autoridade, e a lei islâmica, ou sharia, como norma jurídica. O objetivo do grupo é controlar todo o noroeste do país, na região fronteiriça entre Chade e Camarões.
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Califado era o sistema político comum da comunidade muçulmana desde o nascimento do islamismo com o profeta Maomé e durou, em diferentes formas e lugares, até o final do califado otomano que Mustafa Kemal Atatürk aboliu no início do século 20 para criar a nova república da Turquia.
Cessar-fogo
Em uma sinalização de que não aceita negociar, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, negou que o grupo tenha acordado um cessar-fogo com o governo nigeriano e que tenha aceitado devolver as mais de 200 meninas que foram sequestradas há seis meses em uma escola católica de Chibok, no estado de Bono.
“O assunto das meninas está esquecido porque já faz tempo que foram casadas”, disse Shekau, ao argumentar que as menores não voltarão para suas famílias e que elas se converteram ao islã.
No vídeo divulgado na última sexta-feira (31/10), o líder afirmou que “voltar atrás não é uma opção nesta guerra”. O material não teve a veracidade comprovada, uma vez que o Exército do país diz ter matado Shekau há um ano.
Na gravação, o homem diz também que o grupo detém um refém alemão sequestrado na cidade de Gombe em julho. De acordo com o governo nigeriano, mais de três mil pessoas já morreram no país por ação do grupo.