As FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram, nesta quarta-feira (08/07), que adotarão um cessar-fogo unilateral pelo prazo de um mês, a partir de 20 de julho. O objetivo da guerrilha é criar condições para que o governo adote medida similar e a sociedade colombiana vivencie um cessar-fogo bilateral.
A iniciativa foi elogiada pela ONU (Organização das Nações Unidas) no país, que a classificou como “muito significativa”. O presidente Juan Manuel Santos, por sua vez, valorizou a medida, mas disse que “é preciso mais”.
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Iván Márquez anunciou decisão durante início das conversas desta quarta em Havana
O anúncio ocorre em meio à intensificação dos combates entre ambas as partes, ocorrida após a retomada dos confrontos no final de maio, em represália a um bombardeio do Exército que matou 27 insurgentes.
Pela primeira vez, nesta terça (07/07), os países garantidores dos diálogos de paz — Cuba, Noruega, Venezuela e Chile — pediram às partes a “desescalada urgente do conflito armado”, o cessar-fogo bilateral e que sejam tomadas medidas de “construção de confiança” entre guerrilheiros e o governo.
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Neste contexto, o chefe da equipe negociadora das FARC, Iván Márquez, anunciou a decisão da guerrilha nesta quarta (08/08). “Recolhendo o espírito do chamado dos garantidores do processo, Cuba e Noruega, e dos acompanhantes do mesmo, Venezuela e Chile, anunciamos nossa disposição em ordenar um cessar-fogo unilateral a partir de 20 de julho, por um mês”, disse.
O líder guerrilheiro acrescentou que o grupo busca “gerar as condições favoráveis para avançar com a contraparte na criação de um cessar-fogo bilateral e definitivo”. E concluiu: “viemos a Cuba para alcançar um acordo de paz, para por um fim a uma guerra que ultrapassa meio século. Nada pode nos satisfazer mais do que acabar definitivamente com a confrontação, a violência, a geração de vítimas e o sofrimento do povo colombiano em consequência do conflito”.
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Chefe negociador do governo, De la Calle afirmou, no fim de semana, que processo de paz está em seu “pior momento”
Repercussão
A ONU deu as “boas vindas” à declaração das FARC e a considerou como um “primeiro passo muito significativo” para conseguir a redução do conflito armado no país.
A organização internacional classificou, em um comunicado, que o cessar-fogo é “necessário nessa conjuntura do processo” e que espera que a medida tenha “um impacto positivo no alívio do sofrimento da população civil nas zonas de conflito e que ajude a fortalecer a confiança no processo de paz”.
O presidente Santos afirmou que valoriza a nova trégua anunciada pela guerrilha, mas disse que “é preciso mais”. Ele voltou a pedir compromissos para acelerar os diálogos, que são realizados desde novembro de 2012, e disse que para um cessar-fogo bilateral acontecer é preciso acelerar as negociações.
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“Se esse cessar-fogo vier acompanhado de compromissos concretos sobre avanços no tema da justiça e do cessar-fogo bilateral e definitivo, aí sim estamos falando de um avanço muito sério e muito importante na construção dessa paz”, ressaltou Santos.
Cessar-fogo bilateral
O fim das hostilidades de ambas as partes é defendido pela guerrilha desde o início das conversas. O assunto chegou a ser cogitado pelo governo no início do ano, mas não avançou.
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Especula-se que troca do alto comando militar feita por Santos ontem tenha sido motivada por divergências sobre negociação com guerrilha
A ideia, no entanto, voltou à tona na segunda-feira (06/07), quando De la Calle afirmou, em entrevista a meios de comunicação colombianos, que o governo está disposto “a um cessar-fogo, ainda que antes da assinatura de um acordo, na medida em que seja sério, bilateral, definitivo e verificável”.
Ao anunciar uma mudança na alta cúpula do Exército nesta terça (07/07), no entanto, Santos foi incisivo ao pedir que as Forças Armadas mantivessem a ofensiva contra as FARC, descartando, na ocasião, um cessar-fogo em meio às negociações.