Com o acordos de paz firmados em 1998, o Exército Republicano Irlandês (IRA), que combateu por décadas a colonização britânica na Irlanda do Norte, calou seus fuzis e declarou o fim da luta armada. Hoje, seu braço político, o Sinn Féinn, se contenta com a semi-autonomia negociada com a Inglaterra. Seu discurso agora é “esquecer o passado e olhar pra frente”. Mas como esquecer um passado que grita em cada esquina, cada muro, monumento, placa, estátua e lápide decorado com nomes e rostos dos milhares que tombaram na luta anti-colonial?
Há os que não concordam com esse modelo realpolitik, são os chamados “dissidentes”, para os quais o Sinn Féin traiu o ideal republicano de independência. Essa crítica faz ainda mais sentido quando vemos Martin McGuinness, ex-IRA e atual liderança do Sinn Féin, apertar sorridente a mão da própria encarnação do Império Britânico, a Rainha Elizabeth, durante recente visita da monarca a Belfast.
Por 5 dias, a maioria chuvosos, ví uma Irlanda do Norte ainda dividida entre Republicanos (católicos), que defendem a independência, e os Unionistas (protestantes) que querem que a região continue sendo parte da Grã-Bretanha. Ví que o chamado processo de paz mais se parece com uma pacificação. Ví que o problema que gerou todos os conflitos naquela região, o imperialismo britânico, não foi resolvido, apenas adiado. A Irlanda do Norte continua sendo uma colônia.
Carlos Latuff/ Opera Mundi
Túmulo de Seamus Donnely no condado de Tyrone. Seamus era um dos 8 voluntários do IRA mortos numa emboscada das forças especiais britânicas (SAS) em 8 de maio de 1987. Ele tinha 19 anos.
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Graffiti em Belfast convoca um boicote a visita da Rainha Elizabeth à Irlanda do Norte. A monarca do Reino Unido foi recebida com um aperto de mãos por Martin McGuinness, um dos líderes do Sinn Fein, braço político do extinto IRA, em 27 de junho.
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Assim como o IRA, o Exército Irlandês de Libertação Nacional (INLA), um dos grupos republicanos que pegou em armas contra o colonialismo britânico, anunciou em 2009 o fim da luta armada. Mesmo assim, a organização continua banida na Irlanda e considerada terrorista pela Grã-Bretanha.
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Chamados de “dissidentes”, grupos contrários aos rumos tomados pelo Sinn Fein, continuam a denunciar as mazelas do processo de paz. Abaixo do graffiti, num dos bairros de Belfast, a inscrição: “Danem-se suas concessões, Inglaterra. É nossa liberdade o que queremos”.
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Mural homenageia a organização paramilitar unionista Ulster Defence Association, responsável por duas centenas de mortes, a maioria civis republicanos, durante os conflitos na Irlanda do Norte. Atualmente, o grupo faz parte do crime organizado da região.
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Mural unionista em Sandy Row, ao sul de Belfast.
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Bernardette Devlin, ativista republicana e ex-parlamentar (eleita aos 21 anos, a mais jovem até então), teve sua casa invadida em 1981 por Paramilitares unionistas e foi baleada 7 vezes. Atualmente, trabalha num centro comunitário, continuando sua luta pelos direitos civis.
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Tommy McKearney, ex-IRA e atual sindicalista, passou 16 anos preso e 53 dias sem comer juntos com outros membros do IRA na famosa greve de fome de 1980 na prisão Maze.
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Neste memorial as vítimas republicanas, um dos tantos espalhados por cada canto da Irlanda do Norte, os nomes de crianças de 4 e 6 anos.
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Ao norte de Belfast, mural em memória de Jim Sloan, Jim McCann, Brendan Maguire, Tony Campbell, John Loughran e Ambrose Hardy, mortos a tiros por franco-atiradores britânicos em 3 de fevereiro de 1973, num espaço de 90 minutos, no que ficou conhecido como o “Massacre dos Seis de New Lodge”. As famílias das vítimas continuam lutando por justiça.
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