Após dois anos e meio de polêmica e pressão da oposição, o novo ministro da Economia da Argentina, Amado Bourdou, anunciou uma série de transformações no Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos) na semana passada. As novas medidas dividem a opinião de políticos, acadêmicos, empresários e economistas. Alguns avaliam que as mudanças são superficiais, outros acreditam que seja uma retomada de eixos para o órgão, que acompanha os preços e faz as estatísticas oficiais do país.
Com a alteração, o instituto ficará agora sob o controle do Ministério da Economia. Também haverá a criação de um Conselho Acadêmico, formado por três universidades públicas nacionais para analisar os números divulgados desde 1999, e de um Conselho de Observação Econômico e Social, integrado por setores primários, industriais, de serviços e, possivelmente, por trabalhadores e consumidores. Ainda será avaliada a possibilidade de implantar outros índices mais específicos, que analisem o consumo por setores sociais.
O Indec é acusado de manipulação de estatísticas oficiais, como índice de inflação, preço de produtos e alteração na data de censos sem apresentação de justificativa. O instituto expediu uma nota admitindo ter modificado índices do EMI (Estimador Mensal Industrial), preço dos grãos, medições da produção de aço e da indústria automotiva, mas não informou os valores alterados, apenas declarou que a influência nos números foi “leve”.
Bourdou, sexto ministro da Economia desde que Cristina Kirchner assumiu a presidência, em 2003, garante que “tudo que estiver errado será corrigido”. Entretanto, ele não estabeleceu prazos para isso, apenas que será feito “o mais rápido possível”.
Economistas divididos
Para a economista Lucía Vera, que foi funcionária do Indec até 2006, as alterações propostas são superficiais. “Vejo como uma mudança para não mudar nada. Uma operação de maquiagem”, disse em entrevista ao Opera Mundi.
Diante das acusações que pesam sobre o Indec, ela lamenta o descrédito da instituição no cenário nacional. “É muito grave perder a credibilidade, o principal capital de um órgão oficial. E isso começou a acontecer com a administração de Moreno [Guillermo Moreno, diretor do instituto], com a divulgação de preços negociados com autoridades e que não eram reais”, afirmou Lucía.
De acordo com o economista Juan Carlos Amigo, do Instituto Argentino para o Desenvolvimento Econômico, além da manipulação de índices oficiais, há outro motivo para criticar a administração de Moreno, que teria sido o primeiro a tentar tirar a influência do setor empresarial no Indec. “Ele tentou enfrentar empresas que manejavam os preços na Argentina de acordo com interesse próprio. Ele mexeu com grandes coisas, grandes setores”, afirmou.
Na avaliação do economista, a mudança teria sido anunciada neste momento após fortes pressões da oposição, num momento em que o partido governista está enfraquecido. A popularidade do kirchenismo diminuiu por conta dos efeitos da crise, e foi derrotado nas últimas eleições legislativas. “Entre tantos motivos possíveis contra o governo, a bandeira da oposição foi o Indec nas eleições”, diz Amigo.
Já a Came (Confederação Argentina da Empresa Média) se manifestou a favor das modificações, considerando que elas vão tornar possível a tranqüilidade dos “agentes econômicos”.
O presidente da UIA (União Industrial Argentina), Héctor Méndez, disse estar otimista em relação às mudanças, mas afirmou que seria uma “desilusão” se estas modificações se tornarem “cosméticas”.
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