A organização Human Rights Watch (HRW) fez inúmeras críticas neste domingo (22/01) aos países ocidentais, os quais defendem os valores democráticos no mundo, mas, ao mesmo tempo, se mostram complacentes com seus “amigos autocratas” do mundo árabe.
Neste domingo, pela primeira vez no Cairo, a organização apresentou as conclusões de seu relatório anual – um documento de quase 700 páginas sobre a situação dos direitos humanos em mais de 90 países. O objetivo do estudo é dar apoio às revoluções democráticas, intituladas como Primavera Árabe.
Aliás, essa intenção marcou a pauta do estudo da HRW este ano, o qual exalta a aparição destes movimentos populares e cobra dos países democráticos um maior comprometimento com as transições políticas nesta região.
Na apresentação, o diretor-executivo da HRW, Kenneth Roth, condenou a postura do Ocidente de apoiar os autocratas árabes em troca de uma suposta estabilidade, criticou a falta de envolvimento das democracias do hemisfério Sul e alertou que as ditaduras restantes aumentaram a repressão.
“O Ocidente se contentou em sustentar os autocratas enquanto estes estavam apoiando seus interesses: limitar o islã político, combater o terrorismo, proteger Israel, manter a provisão de petróleo e frear a imigração para Europa”, declarou Roth. No entanto, contra esta atitude, “os povos árabes já demonstraram que não compartilham essa complacência em direção aos autoritarismos”, considerou.
Citando países onde os regimes ditatoriais já caíram, como o Egito e Tunísia, Roth lembrou outros casos que ainda preocupam, como a violenta repressão dos protestos no Bahrein e a anistia que poderá fazer com que o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, não seja julgado pelos crimes cometidos. “Não há desculpas para nenhum governo tolerar a brutal repressão de Bashar al Assad na Síria e a violência contra os manifestantes no Bahrein”, assegurou o diretor da ONG, que se mostrou a favor que a crise na Síria, onde pelo menos 5 mil pessoas já, seja tratada a fundo pelo Conselho de Segurança da ONU, algo que China e Rússia se opõe. Roth, que especificou que isso não quer dizer que o país precise sofrer “uma intervenção militar”.
Segundo Roth, a comunidade internacional poderia adotar novas sanções ao regime de Assad, além de um embargo efetivo de armas e uma viável transferência do caso para o Tribunal Penal Internacional. À margem da Rússia e China, que anunciaram que vetarão qualquer resolução de condenação, Roth acusou a Índia, o Brasil e a África do Sul de também terem responsabilidade nesta situação, já que “se eles tivessem pressionado teria sido muito difícil para Moscou e Pequim ficar sozinha nesta posição”.
Egito
O relatório da HRW aborda de forma especial o Egito, o país anfitrião do ato, onde também foi registrada uma “deterioração de alguns direitos fundamentais” após a revolta que há um ano contribuiu para a queda de Hosni Mubarak, o qual ficou quase três décadas no Poder. “Os egípcios tiveram (em 2011) um maior risco de prisões arbitrárias e julgamentos em tribunais militares agora do que durante o governo de Mubarak”, assinala o estudo da organização.
Roth, por sua vez, denunciou que a Junta Militar, a qual atualmente dirige o Egito, não aceita muitas críticas e explicou que, após um bom começo, os generais não entenderam que a democracia “não é só votar, mas também criar uma sociedade civil saudável”.
“As revoluções são uma grande oportunidade para a causa dos direitos humanos”, rematou Roth. “Agora, a comunidade internacional deverá decidir que valores ela defende”, concluiu o diretor-executivo da HRW.
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