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A escritora chilena Isabel Allende, que completou 70 anos em agosto, resolveu celebrar seu aniversário com a publicação de um livro que reúne seus principais contos de amor, que deve chegar às livrarias nas próximas semanas. Ela assegura que o erotismo “continua sendo uma fonte de energia” e continua lutando pelo o que acredita.
“Seguirei nas trincheiras, com muita honra, até que eu morra”, afirmou Isabel em entrevista à Agência Efe, na qual fala de seu novo livro, que leva o nome de “Amor”.
Na obra, Isabel trata do feminismo, fato que defende desde menina “antes mesmo que o termo feminismo chegasse ao Chile” e de como a escrita serviu para “despejar as dúvidas e as sombras da existência e para aprender a conhecer melhor a própria alma”.
Publicado pela editora Praça & Janés, o livro já está à venda na Espanha e deve chegar às livrarias da América Latina nas próximas semanas. A obra recopila as melhores cenas de amor dos romances e contos de Isabel, que foram selecionadas pela própria escritora.
A ideia inicial partiu de seu editor, que é alemão, e Isabel logo ficou entusiasmada com o projeto. Ela fez a seleção das obras, porque adora “escrever as cenas de amor” e conseguiu “encontrar as cenas que mais gosta sem precisar ler cada livro”.
Para alguns desses trechos, a escritora se inspirou em suas próprias experiências amorosas ou nas experiências de conhecidos.”Passei minha vida apaixonada, não me recordo de uma época em que não estivesse amando, mas mesmo assim, o amor é mais fácil na literatura”, disse a escritora.
Erotismo e sexo
“O sexo é outra coisa. Tive encontros estupendos com alguns homens – sou heterossexual – mas não tão estupendos como os que acontecem na minha cabeça. Confesso que sou uma criatura sexual, inclusive na minha idade, e que se não tivesse optado pela monogamia, andaria com uma rede caçando homens para fazer travessuras com eles. Por sorte, tenho a escrita, onde posso viver todas as aventuras que na vida real não poderia fazer nos meus pensamentos”.
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No prefácio do livro, a autora de “A casa dos espíritos” relembra a descoberta da sexualidade quando era menina e algumas experiências amorosas que viveu. “O melhor afrodisíaco é o riso”, diz.
O leitor irá se inteirar com a traumática confissão que Isabel fez aos sete anos antes de receber a primeira comunhão. O padre perguntou se a autora tocava “o corpo com as mãos” e ela respondeu que “todos os dias”.
“Essa é uma ofensa gravíssima aos olhos de Deus, a pureza é a maior virtude de uma menina”, disse o sacerdote perante uma assustada Isabel que não podia imaginar como iria lavar o rosto ou escovar os dentes sem tocar o corpo com as mãos. “Esse traumático episódio” foi usado, anos mais tarde, em um capítulo de “Eva Luna”. “Nada se perde, tudo é possível ser reciclado na literatura”.
Aos 33 anos, casada com Miguel Frias, seu primeiro marido e pai de seus filhos, Paula e Nicolás, Isabel descobriu que era uma “criatura sensual”. A escritora se divorciou em 1987 e alguns meses depois, conheceu quem viria a ser seu segundo marido, William Gordon, um advogado americano.
“Estou casada com meu marido e meu melhor amigo. Estamos casados há 25 anos, nos conhecemos, nos ajudamos e nos perdoamos. Sem Willie, fracamente, não sei como me comportaria em matéria de erotismo”, ressalta a autora de “Afrodita”.
Agraciada no Chile com o Prêmio Nacional de Literatura 2010 e, em 2012, na Dinamarca, com o Prêmio Hans Christian Andersen, a escritora afirma que a sexualidade, hoje em dia, é cada vez mais exagerada.
“Nos tempos do meu avô, bastava vislumbrar a panturrilha de uma mulher ao subir em seu carro para provocar paixões. Hoje, nada fica na imaginação, não há nenhum mistério. Isso tira o saber da sexualidade, mas é muito melhor assim, pelo menos para as mulheres, porque como seria viver entre fundamentalistas?”.
Se há algo que Isabel defendeu ao longo de sua vida é o feminismo, que em seu caso começou “aos cinco anos”, segundo conta sua mãe. “Fui rebelde sempre e desde muito cedo essa rebeldia foi contra a autoridade masculina: avô, padrasto, padres, médicos, policial, etc”.