Assentados há três semanas na Porta do Sol, principal praça da capital espanhola, jovens manifestantes resistem às chuvas e a furtos para tentar manter a motivação revolucionária. Eles seguem com o protesto que começou no dia 15 de maio, razão a qual o movimento recebeu o nome de 15-M a uma semana das eleições para presidentes das comunidades autonômicas na Espanha – cargos semelhantes aos de governadores.
“Não é fácil continuar aqui”, conta a jovem Janira F., de 18 anos que há duas semanas se reveza com seus amigos para cuidar das barracas montadas na praça. Ela pediu para não ter seu nome identificado. Sem intenções de abandonar o movimento, Janira afirma que a sensação de insegurança passou a ser um dos principais problemas enfrentados pelos manifestantes.
Kaue Mazon
Após 15 dias, manifestantes acumulam problemas na Praça do Sol.
“À noite ouvimos muitos ruídos que não reconhecemos, pessoas que não fazem parte do movimento se juntam às nossa barracas. Assim, é impossível dormir tranquilamente como em casa”, diz a jovem.
Laura Blazquez trabalha há vinte dias na comissão de informação e, para ela, o principal problema enfrentado ao longo da última semana é a logística do movimento. “Tem chovido muito e isso faz com que as pessoas abandonem o acampamento. Tratamos de distribuir sacolas plásticas e vassouras para que todos possam livrar as barracas da água”.
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Além disso, diz que a preocupação é com a documentação e com as assinaturas recolhidas em prol do movimento. “Quando começa a chuva, é um corre-corre para guardar tudo o que temos arquivado”.
Já a ideia de contribuir para uma mudança no sistema político e econômico espanhol, é o que mantém a motivação da jovem Angela P., que também pediu para não ser identificada. “O clima ameno da primavera na Europa ajuda a nos sentirmos bem aqui. O único problema é a falta de banheiro”, revela.
Para vencer o cansaço, os manifestantes se revezam com os amigos para vigiar as barracas e ir para casa para tomar banho e se alimentar. “Volto para casa a cada dois dias”, afirma Eva Hernández, que diz ter total apoio dos pais para participar da manifestação. “O apoio e incentivo deles é um dos motivos pelos quais consigo continuar aqui enfrentando o cansaço”, afirma.
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Jorge Hernández explica as dificuldades com o abastecimentodo movimento 15-M.
Voluntário na comissão de alimentação, Jorge Hernández, fala sobre a alimentação dos acampados. “O ingresso de alimentos e artigos como papel higiênico, pratos e copos plásticos diminuiu muito nas últimas semanas, o que já começa a preocupar”. Nos primeiros dias do 15-M, os alimentos eram trazidos por empresas, mas, principalmente, por particulares que colaboravam, por isso, eram abundantes. “Acredito que as empresas tenham ajudado pouco desde o principio, mas agora trazem cada vez menos produtos”.
Para a comissão de comunicação e mídia do 15-M, o importante é agir semana a semana, calculando com firmeza quais serão os próximos passos a serem tomados pelo movimento. “Enfrentaremos os problemas conforme surgirem. Nossa meta esta semana é promover assembleias pelos bairros da cidade e ampliar a revolução. Sabemos que é um processo lento, mas é possível resistir ao nosso cansaço”, disse o porta-voz da comissão.
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