Efe
Bancos centrais dos países signatários do G20 adotarão regras mais severas para impedir situações de crise
Depois de dois dias de negociações em Moscou, a cúpula ministerial do G20 terminou sem acordos quanto à austeridade fiscal. A reunião de ministros da Fazenda e de chefes dos bancos centrais, realizada em meio a temores de uma “guerra cambial” entre as principais potências mundiais, derivou, no entanto, em avanços na regulação financeira.
Os países europeus, encabeçados pela Alemanha, defendem maior austeridade, alegando que isso gera confiança nos mercados. Os países emergentes e os Estados Unidos, por sua vez, acreditam ser importante combinar austeridade fiscal com medidas de estímulo à economia. “Este ponto ainda não foi superado”, declarou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
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A regulação financeira, por outro lado, foi um dos pontos sobre os quais os líderes mundiais conseguiram chegar a um acordo. “A Basileia III vai ser adotada e isso é algo positivo”, disse Mantega, sobre o conjunto de reformas promovido pelo G-20 e pelo Fórum de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês). O acordo prevê a adoção de regras mais severas pelos bancos centrais dos países signatários, impedindo a criação de cenários irreais e situações de crise com efeito dominó.
Apesar de não fazer parte da agenda oficial do G20, a guerra cambial esteve em quase todos os debates. “Ninguém admite. Há conflitos decorrentes da flutuação e da volatilidade do câmbio, mas ninguém está interessado em uma guerra”, explicou o ministro brasileiro.
Quando questionado sobre avanços na questão cambial, Mantega foi cauteloso: “Há um avanço na discussão, antes nem falavámos abertamente sobre isso”, disse. A presidente do FMI, Christine Lagarde, também preferiu aliviar o tom de conflito. “Existem preocupações cambiais, não uma guerra”, falou aos jornalistas no final do encontro.
Um dos pontos mais esperados da cúpula era o debate sobre a política monetária do Japão, que defende a desvalorização do iene e decidiu, na última quinta (14/02), manter a taxa de juros entre zero e 0,1%. O país está em recessão e, apesar de seu Banco Central ter definido, em janeiro, um objetivo de estabilização de preços em médio prazo de 2%, a inflação no país está em 0,5% e pode chegar a 0%, ou até mesmo apresentar um cenário de deflação.
Segundo Mantega, a desvalorização “não foi criticada em nenhum momento [no encontro do G20] porque é considerada uma política para recuperar a economia interna. Não foi intencional”. “Houve uma reiteração do comprometimento de não haver uma guerra cambial. Muitas vezes ela é derivada da política monterária, podendo ser também algo natural, para proteger a economia doméstica [em tempos de crise]”, complementou o ministro, considerando que nestes casos, o conflito cambial é um efeito involuntário.
Mantega falou ainda que há consenso entre os líderes das maiores potências sobre a recuperação mundial. “O mercado hoje tem mais tranquilidade e segurança, menos aversão a riscos. Isto abre a possibilidade para que os capitais voltem a financiar e movimentar a economia”. O ministro disse acreditar que haja condições para o início da “movimentação” da economia e para o crescimento das economias europeias no segundo semestre de 2013. “Saímos um pouco mais satisfeitos deste encontro”, concluiu.
Encontro a portas fechadas
Opera Mundi teve acesso, com exclusividade, ao discurso realizado pelo ministro brasileiro aos líderes do G20. Com tom mais pessimista que o das declarações à imprensa, Mantega declarou que, embora pareça menos severa do que a de 2008, a crise mundial é de grandes proporções. Segundo ele, esta crise é mais prolongada e apresenta prejuízos para as economias como na década passada. “A impressão que tenho é que os países avançados não sairão tão cedo dessa crise”, declarou, ressaltando que as perspectivas para 2013 “não são muito favoráveis”.
O ministro disse que “ainda que a crise afete em maior grau os países que mais dependem dos mercados desenvolvidos, o Brasil é o país [emergente] que menos depende e isso é uma vantagem”, explicou, destacando a economia doméstica do país.
Mantega definiu a previsão do FMI para os Brics como “até bastante otimista”. Segundo ele, o Brasil provavelmente vai crescer mais do que 4% em 2013 e nos próximos anos. “A economia brasileira passou por ajustes e, em 2011, o governo tomou medidas para desacelerá-la (…) por causa da inflação, que estava mais elevada. Em 2010, nós puxamos o aquecimento para baixo”, explicou, afirmando que a retomada do crescimento do país foi mais difícil, mas que “é uma realidade”.