Passavam quatro minutos do meio-dia em Washington (15h04 no horário de Brasília) quando um nervoso Barack Obama, a ponto de confundir as frases protocolares do juramento, assumiu como presidente dos Estados Unidos e acabou com oito anos de uma das mais controversas administrações norte-americanas, a de George W. Bush.
“Hoje estou aqui com humildade, perante a tarefa que nos espera, agradecido pela confiança que depositaram em mim e consciente dos sacrifícios dos nossos antepassados”. Foram essas as palavras iniciais de Obama, o primeiro afro-americano que chega à Casa Branca, 45 anos depois que, não muito longe dali, o reverendo negro Martin Luther King prometeu aos seus que um dia chegariam “à terra prometida”.
Durante 18 minutos, Obama prometeu que os Estados Unidos sairão da crise econômica em que se encontram, estendeu um ramo de oliveira ao mundo árabe, assegurou que será firme com o terrorismo e, acima de tudo, disse aos norte-americanos que chegou o momento “da responsabilidade”.
“Temos de nos erguer, limpar o pó dos nossos corpos e recomeçar o trabalho de reconstruir o país”, disse o novo presidente norte-americano, aplaudido até o delírio por uns 2 milhões de espectadores, na enorme esplanada ao ar livre no coração de Washington. Parece até que andou ouvindo o refrão de Paulo Vanzolini eternizado por Noite Ilustrada nos anos 60: “Levante, sacode a poeira e dá a volta por cima…”
Agora, “o que é preciso de nós é uma nova era de responsabilidade, um reconhecimento por parte de cada norte-americano de que temos obrigações para com nós próprios, nosso país e o mundo. Obrigações que não aceitamos com relutância, mas com alegria, sabendo claramente que não há nada que dê maior satisfação ao nosso espírito, que defina tanto nosso caráter, que entregar-nos totalmente a uma tarefa difícil”.
A cerimônia foi acompanhada pela televisão por mais de 100 milhões de norte-americanos, segundo cálculos iniciais. Quase o dobro dos que viram, também ao vivo, o homem chegar à Lua em 1969.
“Hoje, digo que os desafios que enfrentamos são reais, são sérios e muitos. Não vamos resolver facilmente nem em pouco tempo, mas quero que os Estados Unidos saibam que os problemas serão enfrentados”, declarou.
O presidente disse, também, que a crise atual é a pior dos últimos tempos, e agravada pelas guerras do Iraque e do Afeganistão. “Hoje, estamos aqui porque escolhemos a esperança e não o medo, a unidade acima do conflito e da discórdia”, afirmou, ao repetir o compromisso eleitoral de levar a cabo medidas “audazes e rápidas”, que incluem o pacote de recuperação econômica de US$ 850 bilhões, que, ainda hoje, deve ser enviado ao Congresso.
Recado para os terroristas: “vamos derrotá-los”
Num gesto sensível para um momento explosivo no Oriente Médio, Obama mostrou-se conciliador com a comunidade islâmica, mas não poupou o terrorismo. “Não vamos nos desculpar pelo nosso modo de vida, mas também não vamos deixar de defendê-lo. Saibam aqueles que procuram fazer avançar seus objetivos com o terror e assassinando inocentes, que estamos de espírito fortalecido, que não será quebrado e vamos derrotá-los”, disse o presidente norte-americano.
Obama voltou a insistir na retirada das tropas do Iraque e na solução do conflito no Afeganistão. E enviou uma mensagem ao Terceiro Mundo.
“Os povos dos países pobres têm nosso compromisso de que trabalharemos juntos para que as vossas terras produzam e as águas limpas possam correr; alimentaremos os corpos e as mentes famintas. E àqueles países que, tal como nós, gozam de uma relativa grandeza, dizemos que não podemos mais dar-nos ao luxo de olhar com indiferença além de nossas fronteira, e também não podemos continuar a consumir os recursos do mundo sem pensar nas conseqüências. O mundo mudou e nós devemos mudar com ele”, disse Obama.
Junto a Obama, assumiu também o vice-presidente Joe Biden. Depois da cerimônia, ambos foram almoçar com os senadores e deputados no Capitólio. Depois, regressaram a pé à Casa Branca, pela Avenida Pensilvânia, onde os aguardavam milhares de pessoas e um desfile que durou mais de duas horas.
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