O presidente da Argentina, Mauricio Macri, assinou um decreto que permite o abatimento de “aeronaves hostis” no espaço aéreo argentino. A medida, segundo o presidente, é parte de sua política de combate ao narcotráfico.
Aviões serão considerados “hostis” caso “impliquem uma chance de dano ou perigo aos interesses vitais da nação”. De acordo com a diretiva, as Forças Armadas terão autorização para derrubar após realizar uma série de passos para “identificar, advertir e intimidar” a aeronave.
EFE
De acordo com o presidente argentino, decreto tem como objetivo combater o narcotráfico no país
“Estamos tornando pública uma política de Estado contra o delito completo, o narcotráfico, a lavagem de dinheiro, o contrabando de armas, com um forte controle do espaço aéreo e todas as fronteiras” disse ao jornal argentino Clarín a ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich. Segundo ela, no ano passado, o centro de monitoramento da Força Aérea detectou cerca de 400 voos não identificados que não puderam ser perseguidos.
A medida, que faz parte de uma promessa feita por Macri durante sua campanha eleitoral de mudar a política de combate ao tráfico de drogas na Argentina, tem sido criticada por setores da esquerda, que destacam a gravidade da iniciativa e seu estabelecimento por decreto, sem o debate com a sociedade civil e com o Congresso argentino.
“Aprovar por decreto o abatimento de aviões é um enorme erro institucional que pode ter consequências irreversíveis. E, pior ainda, sem debate”, afirmou Margarita Stolbizer, deputada da esquerda antikirchnerista que, segundo o jornal espanhol El Pais, até então tinha mantido boas relações com o presidente argentino. Nicolás del Caño, deputado da Frente de Esquerda, disse que a medida se trata de “pena de morte sem juízo prévio”.
Estado de emergência
Na última terça-feira (19/01), o presidente argentino declarou estado de emergência de segurança pública em todo o país durante um ano numa tentativa de tentar “reverter a situação de perigo coletivo criada pelo crime organizado e pelo tráfico”.
O governo deixará sob responsabilidade dos ministérios de Segurança, de Defesa e de Transporte a tarefa de “reforçar os mecanismos de segurança em todos os meios de transporte aéreo”.
Além disso, o decreto determina a “aquisição do material indispensável para aumentar a vigilância da fronteira fluvial, dos portos, e dos espaços marítimos de jurisdição nacional”.
Outra novidade é a criação do Gabinete de Segurança Humana, que terá como função a “coordenação das tarefas dos diferentes ministérios em relação ao estado de emergência”, além da permissão da entrada do Exército argentino em regiões consideradas dominadas pelo narcotráfico. “Vamos entrar nos lugares que consideramos que o poder está nas mãos do narcotráfico e não do Estado. Vamos fazer isso de maneira confidencial”, afirmou Bullrich.
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Em Davos, com Biden e Cameron
Como parte da mesma iniciativa, Macri se reuniu com o vice-presidente norte-americano Joe Biden, nesta quinta-feira (21/01) em Davos, na Suíça. Biden já havia destacado a disposição dos EUA em colaborar com a Argentina em todos os campos, especialmente nos de tecnologia, defesa e segurança.
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O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o país está disposto a colaborar com a Argentina nas áreas de tecnologia e defesa
Durante o encontro, Biden ofereceu ajuda à Argentina para avançar na luta contra o narcotráfico e disse que, a partir desta nova etapa, o país sul-americano “encontrará seu caminho em direção ao desenvolvimento”.
Macri ainda se reuniu com o primeiro-ministro britânico, David Cameron. A chanceler argentina, Susana Malcorra, e o chefe de Gabinete, Marcos Peña, também participaram da conversa, que tratou das ilhas Malvinas, território que geograficamente faz parte da Argentina, mas pertence atualmente ao Reino Unido.
Tanto Peña quanto Macri classificaram a reunião como positiva. O chefe de Gabinete ainda disse que “os dois têm posturas diferentes sobre as Malvinas, mas isto não vai impedir que tenham uma boa relação”. A Argentina reivindica as ilhas desde 1982, oficialmente, quando teve início a Guerra das Malvinas entre o país e o Reino Unido, então liderado por Margaret Thatcher.
Em comunicado, um porta-voz de Cameron afirmou que na reunião ficou acordada a “possibilidade de um novo capítulo” na relação entre as duas nações. No entanto, “o primeiro-ministro deixou claro que nossa posição segue sendo a mesma e que em recente referendo ficou absolutamente claro que os habitantes das ilhas querem seguir sendo britânicos”.
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Chefes de governo do Reino Unido e da Argentina se reuniram em Davos, na Suíça, onde acontece o Fórum Econômico Mundial
Milagro Sala
Durante uma coletiva de imprensa em Davos, Macri se alterou e encerrou a sessão de perguntas ao ser questionado sobre a prisão da líder comunitária argentina Milagro Sala, detida desde o último sábado no estado de Jujuy.
O enviado da rede de notícias BAE, Alejandro Bercovich, perguntou ao presidente argentino se a prisão de Sala e o fato de haver “detido uma líder opositora” poderia repercutir nas intenções de investimento de empresários na Argentina. O jornalista ainda comparou o incidente à prisão de Leopoldo López, líder opositor a Nicolás Maduro, na Venezuela.
“Não. Você está falando sério?”, respondeu Macri. “Você não pode estar dizendo isso de verdade, você não pode comparar Leopoldo López com Milagro Sala. López não fez nada de ruim para ser comparado a Milagro Sala”, concluiu, saindo abruptamente da conferência.
A líder comunitária, que organiza protestos contra o governo de Gerardo Morales, aliado de Macri, no estado de Jujuy, foi presa no último sábado por “atrapalhar o livre trânsito” e por se recusar a “cumprir ordens do governo”. Sua detenção incentivou protestos por parte de organizações de direitos humanos, que alegam criminalização do protesto na Argentina.