Pela primeira vez, o número de obesos superou o de pessoas desnutridas no mundo. É o que aponta um estudo da Faculdade Imperial de Londres publicado na quinta-feira (31/03) pelo jornal britânico The Lancet.
A pesquisa comparou o índice de massa corporal em homens e mulheres adultos de quase 200 países entre os anos de 1975 e 2014. No início da pesquisa, havia 105 milhões de obesos, número que chegou a 641 milhões em 2014. Isto significa que atualmente uma a cada sete pessoas é obesa.
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Autor do estudo sugere que alimentos não saudáveis fiquem mais caros e alimentos saudáveis se tornem mais acessíveis
A população acima do peso considerado saudável se concentra em seis países de alto nível de desenvolvimento econômico: Austrália, Canadá, Irlanda, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos. No entanto, o país mais afetado é a China, onde 43,2 milhões de homens e 46,4 milhões de mulheres são obesos.
O estudo alerta para uma epidemia global de obesidade e projeta que até 2025, 18% dos homens e 21% das mulheres serão obesos. Atualmente, o índice atinge 11% dos homens e 15% das mulheres do mundo.
Por outro lado, o número de pessoas abaixo do peso ideal ainda preocupa. Em 2014, mais de 462 milhões de pessoas estavam subnutridas. O sul da Ásia e o centro e leste da África são as regiões que mais sofrem com esse quadro: no sul asiático quase um quarto da população beira a desnutrição; na África, cerca de 12% das mulheres e 15% dos homens estão na mesma situação.
O cenário é especialmente grave na Índia e em Bangladesh, diz o estudo. Nesses países,mais de um quinto dos homens e um quarto das mulheres estão abaixo do peso.
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Apesar dos ainda preocupantes índices de desnutrição, a pesquisa mostra que estes se reduziram mundialmente de 1975 a 2014. Entre homens, a desnutrição baixou de 14% para 9% em 2014. Entre mulheres, de 15% para 10%.
Avaliação
“Apesar de ser reconfortante a queda do número de pessoas abaixo do peso nas últimas quatro décadas, a obesidade global chegou a um ponto crítico”, disse à BBC o professor e um dos autores do estudo, Majid Ezzati.
“A não ser que façamos com que comidas saudáveis, como frutas e verduras frescas, sejam acessíveis para todos e aumentemos o preço dos alimentos processados que não são saudáveis, a situação dificilmente irá mudar”, alertou o pesquisador.
Para o professor George Davey Smith, da Escola de Medicina Social e Comunitária da Universidade Bristol, a pesquisa mostra que estamos caminhando para “um mundo mais gordo, saudável, porém mais desigual”.
“Focar na obesidade pode desviar recursos de problemas que afetam a população mais pobre, direcionando-os para a população mais rica, mesmo em países de baixa renda”, argumentou ele à BBC.