O governo do Peru anunciou nesta quinta-feira (30/03) que decidiu “retirar de maneira definitiva” seu embaixador na Venezuela. A medida é uma resposta de Lima à decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano de assumir as funções da Assembleia Nacional (AN) do país, controlada pela oposição, em decorrência do descumprimento de atos judiciais que colocam o Legislativo em “desacato”.
Em comunicado, o governo de Pedro Pablo Kuczynski condenou a decisão do TSJ venezuelano, que classificou como “arbitrária” e “flagrante quebra da ordem democrática no país”.
“Frente à gravidade destes fatos, o governo do Peru decidiu retirar de maneira definitiva seu embaixador na República Bolivariana da Venezuela”, informou o Ministério das Relações Exteriores peruano.
Consultada pela Agência Efe, uma fonte da chancelaria peruana evitou detalhar se a retirada do embaixador implica na ruptura total de relações diplomáticas bilaterais.
O Ministério das Relações Exteriores do Peru ressaltou que “iniciou consultas com países-membros da Organização dos Estados Americanos para que, no marco da Carta Democrática Interamericana, sejam adotadas com a maior urgência as medidas que correspondam perante a evidente ruptura da ordem constitucional e democrática na Venezuela”.
Agência Efe / Arquivo
O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski; governo peruano decide retirar embaixador da Venezuela
“A Venezuela rechaça categoricamente o comunicado ingerencista do governo do Peru sobre assuntos da jurisdição interna venezuelana”, respondeu Caracas por meio de sua ministra de Relações Exteriores, Delcy Rodríguez.
Em seu Twitter, a chanceler disse ser “lamentável que ante os graves problemas que hoje sofre o povo irmão do Peru, suas autoridades se dediquem a agredir a Venezuela”, em referência às fortes chuvas das últimas semanas que causaram quase 100 mortes e afetaram mais de 200 mil pessoas no país de Kuczynski.
Venezuela rechaza categóricamente comunicado injerencista del Gobierno del Perú sobre asuntos de la jurisdicción interna venezolana
— Delcy Rodríguez (@DrodriguezVen) 30 de março de 2017
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“Rechaçamos o apoio grosseiro do governo peruano aos setores violentos e extremistas da Venezuela”, prosseguiu Rodríguez. “Não retificam, apesar da derrota na OEA”, aludiu a chanceler à reunião de terça-feira (28/03) na organização, convocada para “considerar a situação da Venezuela” e que terminou sem a adoção de nenhuma medida contra o país, como pretendiam o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, e países-membros como Estados Unidos, México, Canadá e o próprio Peru.
O Supremo da Venezuela decidiu ontem que assumirá as competências do parlamento devido à persistência do “desacato”, um status que o Poder Judiciário determinou à Câmara pelo descumprimento de várias sentenças.
Perante isto, a Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição, acusou hoje o presidente Nicolás Maduro de ter dado um “golpe de Estado”.
Peru e Venezuela mantinham uma relação tensa depois que a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, qualificou Kuczynski como “covarde” e “cachorrinho simpático do império”, o que levou o governo de Lima a chamar para consultas seu embaixador em Caracas, Mario López Chávarry.
As afirmações de Rodríguez foram realizadas depois que o governante peruano disse em uma conferência nos Estados Unidos que a América Latina é como “um cachorro adormecido no tapete” para Washington, porque não causa problemas, com exceção da Venezuela.
Por outro lado, Maduro ordenou nesta segunda-feira (27/03) o envio ao Peru de 100 mil caixas com alimentos e ajuda humanitária para as áreas que foram duramente golpeadas por chuvas e inundações no país, em uma decisão que foi elogiada por Kuczynski, presidente peruano.
*Com Agência Efe