De acordo com denúncia do jornal francês Le Monde, a polícia francesa teria criado e mantido uma série de documentos “ilegais e secretos” sobre a população cigana no país. Denominado MENS, sigla para Minorias Étnicas Não Sedentárias, os documentos teriam como propósito catalogar e monitorar esses cidadãos. O governo da França, que decidiu recentemente extraditar diversos ciganos a países como Bulgária e Romênia, negou a existência dos papéis.
O “arquivo étnico”, segundo o jornal, foi criado pelo Escritório Central de Luta contra a Delinquência Itinerante (OCLDI), com sede no departamento francês de Val de Marne, norte do país. Os advogados das quatro principais associações de ciganos na França disseram que denunciarão o governo no Ministério Público de Paris, alegando que a documentação viola lei de 1978 que proíbe armazenar dados sobre a origem étnica. A pena para esse crime pode chegar a cinco anos de prisão e 300 mil euros de multa.
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O Ministério do Interior admitiu que a expressão MENS “era utilizada pela polícia nos anos 1990” para designar certos grupos étnicos, mas disse desconhecer um arquivo com este nome. “Se apareceram novos elementos, solicitaremos ao grupo de controle de arquivos para investigar o caso”, disse o ministro ao Le Monde.
“Estses arquivos têm trechos com lembranças muito ruins”, disse William Bourdon, advogada das associações ciganas. Em 2009, os parlamentares Delphine Batho, do Partido Socialista e Jacques-Alain Bénisti, da União por um Movimento Popular, partido de Sarkozy, denunciaram a existência de outro arquivo que continha informações com critérios raciais e étnicos.
Extradições
A denúncia é feita em um momento de forte crítica internacional contra a política do governo do presidente Nicolas Sarkozy de expatriar ciganos. Na União Européia vivem cerca de 10 milhões de ciganos, grupo étnico de origem indiana, estabelecido no continente há aproximadamente mil anos. Porém, a imigração de ciganos na Europa Ocidental aumentou depois que países do Leste Europeu – onde essas comunidades viviam tradicionalmente há séculos – entraram para a União Europeia, particularmente República Tcheca e Hungria, em 2004, e Romênia e Bulgária, em 2007. Atualmente, cerca de 15 mil ciganos vivem na França.
No mês de julho de 2010, o governo francês deportou cerca de oito mil ciganos para a Romênia e Bulgária.
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