Agência Efe (09/10/12)
Policiais gregos prendem manifestante em protesto contra visita da chanceler alemã, Angela Merkel, ao país
O serviço de inteligência grego está sendo acusado de torturar manifestantes que protestaram contra agressões xenofóbicas de grupos de extrema-direita, suspeitos de estarem vinculados ao partido neonazista Aurora Dourada. Dezenas de pessoas detidas nos dias 30 de setembro e 1º de outubro disseram que foram submetidas a práticas de humilhação semelhantes às realizadas por soldados norte-americanos em iraquianos.
O primeiro grupo de manifestantes antifascistas protestava contra a destruição de um centro comunitário de imigrantes da Tanzânia num bairro central de Atenas, próximo ao reduto do Aurora Dourada onde diversos ataques xenofóbicos têm ocorrido.
De acordo com os relatos, motociclistas liderados por homens vestidos com camisetas do partido neonazista (veja foto abaixo) atacavam pessoas de origem africana e asiática quando entraram em confronto com os manifestantes. Os oficiais prenderam 15 antifascistas de forma agressiva e os levaram de camburão para a Direção Geral de Polícia da Ática, aonde permaneceram por 19 horas.
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No dia seguinte, dezenas de pessoas voltaram às ruas contra as agressões racistas e a prisão dos manifestantes antifascistas. Esse novo protesto foi reprimido pela polícia grega, que prendeu 25 pessoas e também as levou para a Direção Geral de Polícia da Ática, onde sofreram abusos e torturas.
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Motociclistas do grupo neonazista Aurora Dourada se reunem para realizar ataques xenofóbicos contra imigrantes
O jornal britânico Guardian apurou as denúncias e publicou os relatos desses manifestantes, que preferiram não se identificar com medo de represálias da polícia e das milícias neonazistas. Muitos chegaram a contar à reportagem que os oficiais ameaçaram enviar seus nomes e endereços para o Aurora Dourada.
Os policiais dispararam choques de taser na espinha de um manifestante e, logo em seguida, começaram a espancá-lo. O jovem foi algemado em suas canelas e arrastado por cinco quarteirões até o camburão policial, onde se encontrou com 14 pessoas que participavam do protesto.
A noite na delegacia foi de terror: os oficiais queimavam cigarros em seus corpos, espancaram homens e mulheres pelados e fizeram muitas ameaças, além de terem filmado toda a ação. “Eles me bateram e disseram que iríamos morrer como nossos avôs na guerra civil”, contou um deles. “Ele pegava o celular e dizia ‘Estou no trabalho e estou fudendo eles, eu estou fudendo gostoso eles’”, relatou outro manifestante ao Guardian.
Os policiais negaram direitos aos detidos, que não puderam realizar nenhuma ligação nem beber água potável. Uma das mulheres disse que teve de beber água sanitária da cela e um dos homens teve seu braço quebrado, a cabeça gravemente ferida e tratamento médico negado.
As cenas de horror duraram por cerca de 20 horas e aconteceram nas ruas de Atenas, na Grécia, no dia 30 de setembro, em pleno centro do serviço de inteligência grego. O mesmo teria acontecido com o segundo grupo detido no dia 1º de outubro.
Uma nova polícia?
“Este caso mostra que houve uma transformação na polícia grega. Até agora, existia a suposição de que qualquer pessoa presa, mesmo que violentamente, estaria segura sob custódia”, afirmou Charis Ladis, um dos advogados dos manifestantes. “Mas todos estes jovens disseram que sobreviveram a uma terrível e interminável noite”, acrescentou ele.
Dimitris Katsaris, outro defensor do grupo, disse que os antifascistas sofreram com humilhações típicas da prisão Abu Ghraib, onde iraquianos são torturados por oficiais norte-americanos. “Este não é apenas um caso de brutalidade da polícia que escutamos de vez em quando nos países europeus. Isto está acontecendo diariamente. Nós temos fotos e evidência do que acontece com pessoas presas durante manifestações contra a ascensão do partido neonazista. Esta é a nova face da polícia”, afirmou.
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Membros do partido neonazista Aurora Dourada realizam manifestação com sinalizadores nas mãos
Existem cada vez mais indícios de que a polícia grega está colaborando com o Aurora Dourada. De acordo com uma apuração do jornal britânico Guardian, oficiais estão delegando funções de fiscalização para pessoas ligadas ao grupo neonazista.
Muitas vítimas de crimes também recorrem ao Aurora Dourada em busca de “justiça” para os delitos. Um funcionário público disse ao Guardian sobre a sua surpresa ao ser encaminhado a membros do partido por agentes policiais para solucionar um incidente envolvendo sua mãe e imigrantes albanianos.
“Eles [os policiais] disseram imediatamente que se aquela era uma questão envolvendo imigrantes, então que fosse levada ao Aurora Dourada”, disse o homem de 38 anos que preferiu não se identificar, temendo colocar em risco seu trabalho ou mesmo a segurança de sua família.
Uma pesquisa na última semana revelou que o número de indivíduos com opiniões positivas sobre o programa de governo do Aurora Dourada dobrou na comparação com o início do ano. Em maio, 12% da população aprovava o Aurora Dourada. Hoje esse número atingiu a marca dos 22%. O mesmo crescimento pode ser verificado na popularidade de Nikos Michaloliakos, o líder do partido. O número dos que aprovam sua atuação parlamentar cresceu oito pontos percentuais, mais que qualquer outra referência política do país.