A projeção internacional do Brasil nos últimos oito anos está relacionada a pontos-chave como a figura carismática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a qualidade do corpo diplomático brasileiro e, principalmente, a articulação de questões internas e externas. A análise é do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Essas ideias estão expressas no artigo “O lugar do Brasil no mundo – A política externa em um momento de transição”, parte do livro Brasil, entre o passado e o futuro (Boitempo/Perseu Abramo, 200 págs., R$ 35). O livro, cujo lançamento ocorre no IV Congresso Nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), iniciado ontem (18), em Brasília, conta também com uma entrevista com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, provável candidata do PT à Presidência da República, realizada por Garcia, Emir Sader e Jorge Mattoso, entre outros textos.
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Uma política externa de princípios
Para Garcia, o presidente Lula foi o responsável por expôr que a concentração de renda, cada vez maior desde o século 20, após a aceleração econômica que projetou o país entre as oito maiores economias do mundo e entre os mais desiguais do planeta, não foi um acidente histórico, mas sim resultado de uma sucessão de estratégias elitistas que não priorizavam reformas sociais.
Exatamente por isso, “a eleição de Lula representou, ao mesmo tempo, um voto de protesto e um sinal de esperança”, escreve Garcia, que avalia a atuação do presidente como uma mudança de curso do governo brasileiro. Para ele, medidas de combate à pobreza e de problemas internos do país foram priorizadas, criando condições para uma política externa mais ativa, uma das principais diferenças entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003).
Garcia acredita que a política externa do governo definiu prioridades voltadas para uma nova articulação entre questões internas e externas, considerando que o interesse nacional deve caminhar ao lado da posição que o país busca atingir internacionalmente.
“Houve o entendimento de que a política externa não poderia ser apenas um instrumento de projeção dos interesses nacionais no cenário internacional, mas que nossa inserção no mundo, sobretudo na região, teria uma incidência decisiva sobre nosso projeto nacional de desenvolvimento”, salienta ele no texto.
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Simultaneamente, a atual administração obteve sucesso em várias áreas, fazendo crescer o poder de consumo no país, permitindo a passagem da condição de devedor à de credor internacional, concretizando um equilíbrio macroeconômico e tornando realidade novas parcerias no comércio exterior. Todos esses fatores teriam permitido que o Brasil ganhasse importante projeção internacional.
Integração sul-americana
Além disso, a aproximação com os 12 países que integram a América do Sul, a partir de 2003, foi fundamental para que o Brasil se fortalecer diante do mundo, avalia o assessor de Lula.
O Mercosul, por exemplo, que passou a ser não apenas uma associação comercial, mas também um instrumento de integração produtiva, foi capaz de atrair para a mesa de nogicações até mesmo países como México e Cuba.
Visando o combate de desigualdades sociais, toda a região vêm implementando políticas econômicas e sociais que contribuem, em maior ou menor medida, segundo Garcia, para a redução da pobreza e a criação de um mercado de consumo que poderá transformar-se em fator de crescimento econômico e de estabilidade social.
No artigo, Garcia defende ainda que o processo de articulação sul-americana exige ações efetivas e concretas, tendo em vista o momento de transição de um mundo unipolar para um mundo multipolar, que pode fazer da América do Sul em geral e do Brasil em particular um pólo internacional, não mais um simples quintal da política externa norte-americana.
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